Durante anos minha mãe cumpriu a função de rádio-escuta, função essa que considero nobre, não tanto pelo trabalho ou “status”, mas
pelos proventos que recebia, pois, apesar de diminutos era o que abastecia
nossos pratos.
A atividade consistia em ouvir a Rádio Clube de Ourinhos (uma da Emissoras Coligadas), e anotar tudo o que a estação de rádio veiculava, desde as canções até os comerciais anunciados.
A atividade consistia em ouvir a Rádio Clube de Ourinhos (uma da Emissoras Coligadas), e anotar tudo o que a estação de rádio veiculava, desde as canções até os comerciais anunciados.
Muitas vezes acordei durante
a madrugada e lá estava ela, fazendo suas anotações, com o rádio em volume
mínimo, para não nos acordar. Ficava curvada sobre a mesa, feito uma santa, com
os olhos bem pertinho da folha, a caneta deslizava suavemente sobre o papel,
quase sempre, acompanhando o ritmo da canção, feito uma bailarina de caixinha
de música.
Assim era sua rotina: criar
os filhos, ouvir rádio, cuidar dos afazeres domésticos e trabalhar..
trabalhar.. trabalhar...
Nunca teve contato com
o lazer. Nos raros momentos em que a vi sentada era fazendo crochê, para reforçar
o orçamento, também.
Eu sabia que ela gostava de
frutas e doces... Deve ter passado vontade de comê-los. Viveu tão docemente e se
doou tão completamente que não se achava no direito de gastar dinheiro, com
“porcarias”, para satisfazer suas próprias vontades.
Ah, como eu queria voltar no tempo para lhe oferecer todas as mangas, bananas, abacaxis e melancias, quantas possíveis. Ela não comeu suficientes doces, ela não “curtiu” suficientes descansos.
Ah, como eu queria voltar no tempo para lhe oferecer todas as mangas, bananas, abacaxis e melancias, quantas possíveis. Ela não comeu suficientes doces, ela não “curtiu” suficientes descansos.
Que mulher de fibra era Dona
Conceição. Guerreira, imponente, respeitável, amável e bonita, muito bonita! Agradeço
a Deus, todos os dias, por ter nascido filho de um ser tão especial.
Eis que encontro, na internet, uma eleição para escolher a “Mulher do Século”, confiro a lista e vejo: Jaqueline
Kennedy ou Onassis, ou sei lá quantos sobrenomes teve, Rainha Elizabeth,
Margareth Thatcher, Princesa Diana entre outras banalidades e não vejo o nome
de Dona Conceição! Nesse instante percebo o quanto a mídia é desinformada e
burra.
Ela foi exemplo de mulher, essa sim “A Mulher do Século”. A mulher do meu século, a mulher dos dezesseis filhos, a mulher do coração tão grande quanto a maior bondade que existe no mundo.
Ela foi exemplo de mulher, essa sim “A Mulher do Século”. A mulher do meu século, a mulher dos dezesseis filhos, a mulher do coração tão grande quanto a maior bondade que existe no mundo.
Deus a levou em 92, e tenho
certeza que, quando chegou ao céu, sobre um grande tapete vermelho, salpicado de estrelas douradas, foi
recebida por um cortejo de anjos, trazendo em mãos uma maravilhosa cesta de
frutas e um grande pacote com algodão doce colorido!
Acredito que virou Santa, só pode!
a melhor
ResponderExcluirSó pode, João, só pode. E, com certeza, é o tabuleiro dentro do qual você carrega frutas, boas palavras e o algodão doce.
ResponderExcluirSeguimos.