As duas apareceram juntas
na festa de um parente em comum, na Vila Boa Esperança. Sem querer ser deselegante notei que
aparentavam quase a minha idade - talvez mais, talvez menos.
Eu as conhecia de vista,
desde os anos 80, nada além. Fiquei um
tanto incomodado ao vê-las de mãos dadas... Nunca radicalizei, mas
confesso: às vezes olhava atravessado para pessoas com essa “diferença”!
Ao vê-las o preconceito quis
despertar e gritar nos meus ouvidos: - Como assim?
A presença daquele casal, em nossas
reuniões familiares, tornou-se constante. Com essa aproximação percebemos tratar-se
de pessoas absolutamente “normais” e que: tinham carnês a pagar - trabalhavam como
nós e, como nós brigavam, choravam e sonhavam os sonhos de qualquer mortal.
Ao visitá-las outra
constatação: Em seus jardins havia borboletas, as fotografias na parede
retratavam suas origens e amor à família... Percebemos, descansando na estante, os
nossos autores preferidos e o aparelho de som parecia conhecer nossos cd’s.
Fomos estreitando a amizade, paulatinamente. Sentamo-nos várias vezes à mesa para intermináveis sessões de
cacheta... Brincamos, jogamos conversa fora e rimos, rimos muito. Descobrimos, aos
poucos, o quanto essas meninas são gigantes em envergadura moral e companheirismo...
Descobrimos, também, que opção sexual nada tem a ver com caráter, ética e
respeito.
Presumo que lutaram contra isolamentos, discriminações e intolerâncias, e tiveram que, além de atravessar desertos, sobreviver num mundo que considero uma verdadeira “faixa de Gaza”.
Presumo que lutaram contra isolamentos, discriminações e intolerâncias, e tiveram que, além de atravessar desertos, sobreviver num mundo que considero uma verdadeira “faixa de Gaza”.
Ainda bem que, antes que eu
fechasse a porta, se tornaram nossas amigas. Se no amor, como na vida, nossa única obrigação
é sermos felizes é justo, também, que cada um busque sua felicidade da maneira
que melhor lhe convier.
- Vocês estão mais que certas
- minhas grandes amigas!
- O Neruda devolvo
semana que vem, prometo!
- Ah, comprei um baralho novo!
- Ah, comprei um baralho novo!
É isso aí meu amigo João Neto, cada um no seu quadrado. Sem preconceito!
ResponderExcluirAbraço
Alcir
ah, ficou fácil postar comentário agora!
Realmente, opção sexual não tem nada a ver com caráter, isso foi imposto na nossa cabeça por nossos ancestrais e pela grandiosa igreja que sempre serviu apenas para semear guerras, brigas, matanças e intolerância.
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