Algumas folhas secas corriam nas quebradas das ruas, de canto
a canto, anunciando um outono rigoroso.
Não sabíamos que rigorosa, também, seria nossa passagem por
Mandaquari. E foi! Ficamos sem eira nem beira naquele fim de mundo.
Fonte de
recursos, única, foi uma oficina de conserto de calçados que o Zizo montou naquela
cidade.
Mas o que fazer com pouco mais que dois cruzeiros, por dia,
para cuidar de 10 irmãos? A fome foi inevitável.
A esperança renasceu, na nossa casa, no dia em que o Zizo,
não suportando tanto sofrimento, chegou à tarde, chorando e disse:
- “Vamos embora dessa
desgraça!”
O José e a Conceição, os irmãos mais velhos, todos foram
unânimes – tínhamos que tentar a sorte em outro lugar, esse lugar foi Ourinhos.
Ali passamos outros anos de miséria, o Zizo, sempre o Zizo, continuava dando o
exemplo. Além de cortar cana, fazer serviços de carpintaria empregou-se numa
empreiteira de serviços de energia elétrica. De tão bom funcionário, o patrão
(Zé Gordinho), empregou também, o Alair e o Paulão pensando que fossem tão bons
quanto o Zizo.
- “Queridos pais e irmãos”, ou seja, o respeito estava no sangue.
Era uma
felicidade geral quando anunciava, nas suas escritas, que vinha nos visitar. Sabíamos que a mesa ficaria farta e teríamos melhores Natais.
Numa manhã de primavera apareceu irradiando alegria, em casa,
dirigindo uma linda Brasília Azul 74, placa EY 5679. Era o troféu para o
sujeito mais lutador dos irmãos, mais humano dos irmãos, ou seja, mais irmão
dos irmãos.
Não é preciso dizer que venceu as batalhas da vida e sua
vitória nos faz acreditar que nunca devemos deixar de lutar.
O cara é foda!
Nenhum comentário:
Postar um comentário