As trovoadas anunciaram que
o traje da madrugada seria impermeável... Quase nenhuma lâmpada acesa para
iluminar o caminho, função essa, incorporada pelos relâmpagos incessantes. A
tração nas quatro chafurdava o barro e lambia o capim molhado nas margens de
tudo que é lado.
Aos poucos fomos religando
os alimentadores e, por consequência, apagando os lampiões do sertão
platinense... Usamos proteções e rogamos proteção dos anjos que cumpriam
sobreaviso... Vez em quando, feito o cantar do galo que risca a madrugada, os operadores indicavam o
melhor caminho para os companheiros atolados em outros lamaçais... O melhor
caminho para se chegar, aonde mesmo? A bateria do GPS já era!
Seguimos fazendo luz...
Acendendo luzes... Pedindo Luz!
Naquela molhadeira toda foi
inevitável o alagamento da minha retina... Cruzamos, no mesmo caminho
lamacento, os primeiros veículos rurais à procura do leite das generosas tetas, para alimentar as bocas que ainda dormiam e, sonhavam por detrás de para-brisas
embaçados e sonolentos.
O horizonte, mesmo envolto
na escuridão, anuncia o amanhecer... Nós, com a certeza do dever cumprido, assistimos
a luz do dia competir com a luz artificial que restabelecemos... Fantástica batalha campal... Os cabos
rompidos ficaram por conta dos talibãs.
Esperávamos algum aplauso
ou agradecimento - não faz mal, nossos coturnos são laváveis!
Apenas o bem-te-vi, ao perceber nosso retorno, mesmo com a garganta inflamada, gritou o
mais alto que conseguiu:
- bem te vi!
Apagamos as luzes, ajeitamos
a coberta e adormecemos, absolutamente em paz! O que era trovão, raios e barro
virou canção de ninar...
Boa noite, Dia!