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- Com a devida autorização, publico texto da jovem Bruna de Paula e Silva, estudante de Pedagogia, na Universidade Estadual de Londrina.
"Buscas Imperfeitas" é um paralelo entre a arte de escrever e a vontade de ajudar (coisa de altruísta). O que a acadêmica sugere é que as coisas "certinhas" nem sempre são unanimidades... Ela segue absolutamente segura em suas reflexões, dando pouca importância aos "lugares comuns" e aos vestidos de noiva, inclusive."
BUSCAS IMPERFEITAS
Por: Bruna de Paula e Silva
A primeira coisa que eu me
lembro de querer na vida era escrever. E a primeira coisa que eu quis na vida
foi ajudar as pessoas. Não se engane, não é erro de digitação, desde que me
conheço por gente eu sempre desejei essas duas coisas em primeiro lugar. Antes
mesmo de saber o que tudo isso significava, o quão impossíveis poderiam se
tornar, antes mesmo de saber se duas coisas tão diferentes poderia ocupar um
mesmo lugar.
Ajudar e escrever são
escolhas duplamente impossíveis. Quando se escreve, a gente dá vida a algo que
talvez só exista dentro da gente. É quando aquilo que você escreve precisa
escolher entre caminhos que envolvem perdas e ganhos. Parece título de livro,
mas não é. São essas escolhas que pressupõe se o caminho valerá à pena ou não.
Aqui, no plano dos seres
reais, a escolha que parece inalcançável é aquela em que: se você jogar cartas,
pesquisar no Google, pedir ajuda a todos os santos, e fizer uma planilha, vai
desistir na hora. São atitudes sem sentido e irracionais, guiadas por um amor
obscuro - e na maioria das vezes não correspondido – pelos seres humanos. São
declarações da vida te mostrando que você acredita nas pessoas e não existe
nada de mais lindo, só que é absolutamente sem volta.
As minhas escolhas são
também frustrantes, porque escrever algo e ajudar alguém nunca é como a gente
imagina que será, é sempre o máximo que você conseguiu fazer. E o máximo nem
sempre é o suficiente para você, e talvez nem para os outros. Minhas escolhas
são um espelho do meu limite, produto real (falante e pensante) do meu melhor e
do meu pior.
Nesta história existe outra
coisa mais interessante, é que minhas “escolhas impossíveis” não parecem
escolhas pra ninguém – não é algo deliberado, algo passível de explicação, não
é parênteses em aberto em uma prova para se marcar um xis onde bem se entender.
Na minha recordação mais antiga não existe eu lendo algo interessante e, de
repente, decidir que queria escrever. Também não me lembro de sentar no escuro
- com cinco anos de idade e ouvindo meus pais brigarem – e decidir que eu
precisava ajudar crianças que sofreriam pelo mesmo. Eu nunca pensei nesse
assunto, essas escolhas eu sabia que aconteceriam e acabariam virando parte de
mim... Assim como ter olhos verdes, nariz esquisito ou dentes pequenos demais para
o tamanho do meu rosto.
Só recordo que, nunca me neguei a assumir os riscos
dessas escolhas, e isso eu não fiz porque fui corajosa, mas porque nunca
conheci nenhuma outra opção... Mas, apesar de escrever e
ajudar serem vontades tão inerentes, preciso contar uma triste verdade: eu
nunca serei nem uma coisa, nem outra.
Sim, daqui uma semana sai
meu terceiro artigo e ele será publicado em uma das revistas mais importantes,
mas isso não faz de mim uma escritora. Esse artigo foi escrito com base na
ajuda que prestei para um aluno deficiente intelectual que vive em condições
quase que subumanas, só que pela primeira vez conseguiu mudar de série em 2013.
Mas isto também está longe de atestar que eu posso ajudar alguém.
Agora eu posso compartilhar
uma particularidade desses caminhos: escrever e ajudar são atos que nunca se
aprende por completo, nem numa vida inteira. A vitória do meu aluno e meu
artigo, quando estiverem prontos, se tornarão grandes realizações, uma alegria
imensa, eu sei. Mas eles não significam, pra mim, um final glorioso, apoteótico,
faixa de chegada, troféu ou, talvez, uma medalha de ouro... Eles não vão me
entregar à sensação de dever cumprido.
Pelo contrário, muito pelo
contrário: tudo isso me chegará com outras dúvidas, muitas inseguranças, minhas
aflições serão reinventadas e multiplicadas e eu vou me perguntar todos os dias
onde minha cabeça estava quando eu escolhi toda essa complicação.
Só que antes de você me
chamar de pessimista, me dou ao direito de contestar: acho realmente sensacional
que minha busca seja imperfeita assim, mesmo ela me trazendo tantos problemas.
Pra mim, quanto mais verdadeiro tudo for, melhor. Eu conheço pessoas que tem
sonhos perfeitos e lindos e eu acho maravilhoso (existe até uma inveja da minha
parte). Mas eu, em algum momento da minha vida, preferi ter grandes realidades.