Naquele momento o atraso do
trem era o que menos importava... Vislumbrávamos, ao sul, o horizonte
paranaense nos aguardando com os braços estendidos... Um horizonte suave como
quem nos dá boas vindas... Quando a locomotiva partiu, os corações partiram –
fragmentaram feito vidro estilhaçado e refletiam, nos cacos, nosso choro contido... Nem tivemos tempo de ajeitar nossos cabelos no espelho do Paranapanema!
Seguimos, feito retirantes
que esperam voltar com a próxima chuva, e nós, voltaríamos quando o sol ($) aparecesse...
Não voltamos, embrenhamos por entre pinheiros e araucárias, e semeamos filhos,
e semeamos esperanças.
As sementes brotaram,
floriram e frutificaram.
Não choro mais quando sonho com o barulho das rodas
do trem, nem dos apitos anunciando a partida para lugares estranhos.
Ah, os braços estendidos no
horizonte, daquele abraço de Platina, nos acolheram e nos embalaram, feito Santo Antônio e murmuraram baixinho a mais suave
canção de ninar... E aqui estamos até hoje.
No começo estranhamos o jeito de falar: chamavam os meninos de "guri", depois nos acostumamos. Percebemos, de pronto, a necessidade das blusas de lã.
No começo estranhamos o jeito de falar: chamavam os meninos de "guri", depois nos acostumamos. Percebemos, de pronto, a necessidade das blusas de lã.
Mandei tatuar a bandeira
paranaense no braço esquerdo da minha vestimenta antichama... Vez em quando
olhamos para trás, porém, apenas pra ouvir os alto-falantes da plataforma de
embarque... Talvez anunciem que muita gente ainda virá - para garimpar nossa
mesma felicidade.
Nesses anos que aqui estou,
deslizei por todos os cafezais, pude sentir o suave perfume dos eucaliptos e,
de vez em quando, ainda registro os pinheirais nas minhas fotografias. Aqui aprendi ler Paulo Leminski e a "poesia mínima" de Helena Kolody.
- Saudades de Ourinhos? Claro que sinto... Sempre volto pra sentir o cheiro da terra, o gosto da água e matar a saudade dos amigos... Agora, sem dores de despedida, quando atravesso o Panema tenho tempo pra ajeitar o cabelo no espelho do rio, o coração bate em descompasso, sinto frio na barriga e, às vezes, choro!
- Saudades de Ourinhos? Claro que sinto... Sempre volto pra sentir o cheiro da terra, o gosto da água e matar a saudade dos amigos... Agora, sem dores de despedida, quando atravesso o Panema tenho tempo pra ajeitar o cabelo no espelho do rio, o coração bate em descompasso, sinto frio na barriga e, às vezes, choro!
Meu sangue paulista sempre foi respeitado em terras paranaenses... Por respeito e gratidão me ofereceram a oportunidade de levar luz, literalmente, onde quer que eu ande... Sinto-me meio anjo aqui, no alto do poste... Afinal, daqui enxergo o lado paulista, aqui quase consigo tocar as estrelas - quase consigo
voar!
Marreco,
ResponderExcluirEntão já posso te chamar "pé-vermeio"!
Minucci
" um sabiá cantou
ResponderExcluirlonge dançou o arvoredo
choveram saudades "
Qual?
"Damos nomes aos astros...
Qual será nosso nome
nas estrelas distantes?"
Poesia mínima
"Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos." H.Kolody
Professora Donalou,
ExcluirSou fã dessa senhora!
Grande abraço!