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O trem parou na estação daquela cidade pouco antes das três da tarde... Cansados descemos nossa bagagem e, dentro dela, a necessidade de ficarmos ricos! Percebemos em seguida que não tínhamos o que comer!
Minhas vagas lembranças não
apagaram as imagens de um cadeirante vendendo bilhetes de loteria e alguns
engraxates, todos sujos - todos guerreiros, implorando a oportunidade de brilhar os sapatos de
qualquer um.
Papai seguiu, sem rumo, com
os irmãos mais velhos à procura de uma casa para morarmos... Esperamos até o aparecer
da lua e nos amontoamos num canto escuro daquela estação...
O chefe do terminal
ferroviário, com rispidez, determinou que saíssemos dali... Humildemente mamãe
se levantou, ainda com meu irmão caçula dormindo em seus braços... Ela não disse uma
palavra sequer, resignada, apenas chorou!
Naquela cidade não nos deram
oportunidades, nenhuma... Encontramos apenas miséria e portas fechadas... Ali
percebi a necessidade em arranjar uma caixa de engraxate... Ainda que todo sujo, porém guerreiro, era
mais que necessária minha entrada no combate!
Penamos quase um ano por
ali, ao perceber o logro papai tratou de arrumar nossas tralhas - buscamos o
caminho de volta, e o natural caminho de volta seria Santa Cruz, mas o dinheiro só deu pra chegar em Ourinhos, a sempre acolhedora Ourinhos.
Hoje, 46 anos depois, estou aqui, na mesma cidade, operando a subestação de energia do município... Olho para os lados e não vejo o chefe da estação (agora a conversa seria comigo, canalha!), aliás, nem vejo a estação ferroviária, muito menos o vendedor de bilhetes...
Hoje, 46 anos depois, estou aqui, na mesma cidade, operando a subestação de energia do município... Olho para os lados e não vejo o chefe da estação (agora a conversa seria comigo, canalha!), aliás, nem vejo a estação ferroviária, muito menos o vendedor de bilhetes...
Me bate uma vontade enorme de bloquear o religamento automático, acionar o
botão “Desligar” para deixar todos no escuro, para que saibam o que é viver sem luz,
sem perspectivas e sem horizontes... Lembro-me de mamãe - e abafo essa vingança
descabida - ela não faria isto!
Passamos o dia ali, na cidade carrancuda, fazendo trenamento de inversão de fontes, ordem correta das manobras, enfim, um dia proveitoso!
Fecho o portão, ligo o carro e vou embora... Ao dobrar a
esquina da antiga estação um engraxate, com um leve sorriso acena, me cumprimentando... Ele, todo sujo – todo guerreiro,
espera a oportunidade para brilhar os sapatos de qualquer um!
Que Deus abençoe todos os moradores daqui, por ora é o que desejo!
Que Deus abençoe todos os moradores daqui, por ora é o que desejo!