Fila pra comprar, fila pra
pagar, fila pra pegar os presentes, fila pra validar os tickets... Feito gado
seguimos em fila, atravessando dezembros.
Os óculos, sem lentes,
descansam desalinhados sobre o nariz... Não só os óculos são “de mentirinha”, esse
ser escrotal também é... Esperei-o por vários Natais, e esse sujeito fantasiado
de vermelho jamais me deixou um presente sequer, uma caneta que fosse!
Neste instante, aqui da
fila, o observo percorrendo todos os cantos da loja, com o mesmo sorriso falso, tilintando
um sino de mão, sendo conduzido por imaginários antílopes - as renas de quarenta
e tantos anos atrás... Ainda traz, além do sorriso inventado, a mesma
protuberância abdominal, também postiça!
Você é um todo de mentiras,
Papai Noel! Os flocos de neve sobre sua carruagem não passam de chumaços de
algodão barato... Esse seu “ho ho ho” me soa insuportável.
Nos bilhetes que lhe
escrevi, a grafite, não lhe pedi nada muito caro: bicicleta, tênis importado,
autorama ou bola de capotão... Meus pedidos nem eram pra mim... Eu queria,
apenas, um panetone, para comer com minha mãe, na noite de Natal... Eu queria um
‘Conga’ que não fosse furado... Você não imagina quantas palmilhas de papelão
tive que improvisar para não pisar no chão frio e nas pedras.
Por tempos evitei dobrar meu tornozelo ao andar, não queria que, ao mostrar a sola do pé, “zuassem” meu Conga furado... Eu andava feito um pato, daí ganhei meu apelido: Marreco!
Por tempos evitei dobrar meu tornozelo ao andar, não queria que, ao mostrar a sola do pé, “zuassem” meu Conga furado... Eu andava feito um pato, daí ganhei meu apelido: Marreco!
Seu desprezo pelos engraxates, feito eu, jamais esquecerei, covarde! Essas balas que hoje distribui
são as mesmas que me negaste, na porta da Loja Buri, em 1972. No fundo, penso que minha caixa de engraxar era muito pesada para a sua falta de sensibilidade!
E não me venha com esse papo
de que não recebeu meus bilhetes... Eternizei a lápis, dentro de minha memória,
cada pedido meu, e você, alheio, ignorou.
Não acredito em você, Papai
Noel, não passas de uma figura caricata, contratada para vender ilusões aos aristocratas. Você é a mais desprezível figura da gananciosa sociedade.
Ainda bem que seu desprezo não conseguiu apagar de mim o significado do Natal, do
nascimento de Jesus, nem me fez perder a fé e a esperança na vida!
- CPF na nota? Pergunta a
moça do caixa... Balanço a cabeça negativamente, pego meus pacotes e vou saindo...
Na porta o mentiroso me oferece balas, viro o rosto para o lado, e ignoro!
Triste, mas de uma verdade absoluta!
ResponderExcluirMarreco,
ResponderExcluirEles até que são simpáticos!
Minucci
Triste realidade! figura contratada apenas pra atrair as criancas, para que seus pais gastem o que nem sempre tem!
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