Hoje, quando minha esposa me pediu pra passar na farmácia
e trazer um relaxante muscular, lembrei-me de mamãe.
- João, vai até a farmácia e fala pro Seu
Lazinho mandar esparadrapo, água oxigenada e metiolate... Leva a caderneta
e, na volta, passa no empório do Seu Vitório e pede pra ele marcar dois quilos de
arroz e um litro de óleo.
Que saudades do metiolate!
Tá ficando louco, João, diriam vocês: Saudades de um
medicamento que ardia mais que fogo???!!!
Lógico que não... Sei que aquele remédio para limpar feridas ardia mais que
brasa, é que depois da dor, e da ardência, minha mãe assoprava o machucado.
Aquele sopro era sagrado, aliava a dor física e a dor da
alma... Existia um certo prazer quando aparecia algum machucado, a gente gostava do borbulhar da água oxigenada e sabia
que lá estava uma santa pra soprar e acariciar nossa dor.
Mas o tempo passou meu caro...
Mudaram a composição e os líquidos cicatrizantes não ardem mais... Seu Lazinho e Seu Vitório já repousam
no andar de cima, minha mãe também fez a viagem definitiva.
As feridas e os machucados da alma, que vamos angariando
nesses tempos bicudos, ficaram à mercê do nosso frágil poder de recuperação.
Não tenho mais o sopro antisséptico da minha mãe.
Sigo... Lutando, caindo e levantando, as dores dos
machucados rogam aquele sopro que Deus, dadivoso, um dia me deu de presente, e eu,
insensível, só percebi depois que ela já tinha ido embora!
Era bem isso mesmo, o sopro da mãe era o máximo
ResponderExcluirMuita emoção ao lembrar-me de minha infância, eu tinha mãe! E todas dores eram curadas!
ResponderExcluirBelas lembranças compuseram um artigo muito bonito. Boa semana!
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