Enquanto os escravos de Jó jogavam
caxangá, nós, que éramos pobres de “marré deci” jogávamos futsal na quadra de
esportes da Cadeia Pública de Ourinhos que, graciosamente, o carcereiro, Carlão “Peru” nos cedia.
- Então era só pegar a bola e ir para a quadra?
Puro engano caros futebolistas, nada disso - não tínhamos bola, esse era o drama!
Em resumo: era um mais feio que o outro. Esses dotes familiares nos levou a apelidá-los de tucanada; sendo Maurílio o Tucanão, o irmão do meio Tucano e os dois menores eram os Tucaninhos.
O outro problema era a
ruindade, pensa numa molecada ruim de bola, perna de pau mesmo!
No momento da escolha dos times (sempre no par ou ímpar), se caísse algum dos tucanos do nosso lado era uma lamentação
só. Para não correr riscos, o Arnaldo,
meu irmão mais novo, propôs em certa ocasião, que jogássemos família contra família.
Ufa! Que beleza, a tucanada topou na hora!
Jogamos cerca de dois minutos, fizemos um gol, e não querendo que o placar ficasse elástico, começamos
a tocar a bola, pra lá e pra cá. Foram uns cinco minutos assim - bola de pé em
pé. O tucanão ficou nervoso, enfurecido eu diria, mandou todo mundo tomar "caju", enfiou a bola debaixo do braço e nunca mais jogou conosco.
Vendo o time do Barcelona,
hoje, com uma média de 70% de posse de bola em seus jogos – tocando de pé em pé e pra lá e pra cá – chega ser irritante, insuportável até. Sou obrigado a me reportar ao Tucanão e dizer sem
ressentimentos:
- Você estava mais que certo Maurílio! Desculpa aí, foi mal!
crõnica deliciosa de excelente fluência de linguajar fácil e retrata bem o valor de uma bola para meninos de periferia .
ResponderExcluirContinue amigo...
Adorável Donalou! Um elogio partindo da Deusa das letras, Professora Luzia, é como alcançar medalha de ouro numa Olimpíada!
ResponderExcluirGanhei o dia, a semana, o mês, sei lá, ganhei vida!
Beijos
João Neto