O Arnaldo, eu (João) e o Lelo (Ulisses) somos os filhos mais
novos do José e da Conceição. O Lelo nasceu em 1958, eu em 60 e o Arnaldo em
62, uma diferença de apenas quatro anos entre nós. É natural, portanto, que a
gente tenha compartilhado, quase todos momentos da infância e adolescência.
Quando ainda éramos muito crianças, ganhamos de presente, de
Natal, de nossos pais, três brinquedos, respectivamente: um trator, um jeep e
um trenzinho. Que alegria deliciosa! Ficamos dias brincando com os presentes em
volta da casa onde morávamos.
O que não sabíamos, aliás, não tínhamos nem noção, é que aqueles seriam os últimos presentes de Natal
que ganharíamos de nossos pais, afinal, o José estava passando por dificuldades
financeiras seriíssimas, praticamente “roendo o osso”.
O tempo passou e a pobreza nos acompanhou durante anos. Muito
cedo fomos à luta. Vendemos salgados, catamos sucatas de cobre nas ruas, fomos
leiteiros, engraxates, até pacotes de peras vendemos para um vizinho, senhor Getúlio.
Tempos depois, mais crescidos, debutamos em empregos
específicos dos jovens pobres: eu me tornei auxiliar de serralheiro, o Arnaldo cobrador
de uma vidraçaria e o Lelo foi vender frutas no caminhão do Renato (aquele que
vendia barato!).
Uma coisa é certa, tivemos uma base de estudos muito boa, no
tempo em que o ensino público era levado a sério e os alunos respeitavam seus
mestres. O Arnaldo estudava no Sesi, enquanto eu e o Lelo estudávamos no Grupinho.
Algum desavisado, algum dia, deve ter questionado: - Como que
será o futuro desses três?
Pois então, tomo a liberdade de retratar o que foi feito de
nós:
O Arnaldo (o mais intelectual e craque de bola) comeu pedra,
superou barreiras sem clamores. Tornou-se bancário, fez carreira na Caixa
Federal. Casou-se com Estela, mulher de fibra, tiveram três filhas adoráveis: Daniele, Ana Paula e Natália.
Tão bonitas - quanto educadas.
O Lelo (o mais extrovertido) iniciou carreira na Prefeitura
de Ourinhos. Inicialmente como jardineiro de beira de estrada, depois
motorista. Numa das tarefas como motorista, foi indicado para levar o juiz de
direito da comarca local para uma conferência em São Paulo. Tornou-se a partir
daí o “fiel escudeiro”, parceiro, cúmplice e amigo do Doutor Holgado. Estão
juntos a mais de 20 anos. Ditinha é sua grande companheira e dessa união nasceu
Roberto e Tânia. Humildes, inteligentes e bem encaminhados.
E eu (o mais perseverante e mais irrequieto), fui serralheiro
(dos bons), bancário, caminhoneiro, entre outras atividades. Hoje, técnico
eletricista comercial e de manutenção de média e alta tensão. Trabalho na Cia
Paranaense de Energia, pai de dois filhos espetaculares, de inteligência
invejável - o Rafael (estudante de
sistema de informação na Uenp – Campus Bandeirantes) e da Bruna (estudante de
matemática na Universidade Federal Tecnológica do Paraná – campus Cornélio Procópio).
Casei-me pela segunda vez, com Flávia, companheira do
recomeçar do zero, companheira de luta, parceira no mesmo coração. Trouxe com
ela outras duas jóias: o João Neto e a
Brenda. Aliás, a Brenda e o Rafael estão misturando as estações, mais isso é assunto
para o próximo capítulo!
Fica a expectativa de que, se em algum dia, os netos do Arnaldo,
do Ulisses e do João sentarem para brincar com um trator, um jeep e um
trenzinho e resolverem falar sobre os avôs, certamente, dirão: - Eles foram
três vencedores!!!
E foram mesmo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário