Especialistas afirmam que 1967
foi o ano das maiores transformações culturais e fatos marcantes da história da
humanidade: a morte de Chê Guevara, o primeiro transplante de coração em ser
humano - façanha do Dr. Cristian Barnard, o surgimento dos hippies, o início do
tropicalismo e etc.. Sem contar a “negra era"
da ditadura militar, no Brasil, que fez valer, naquele ano, a rudeza do AI-5 que,
privava a liberdade, oprimia pensamentos, açoitava cidadãos e destruía almas.
E eu, estava onde?
Bem. Eu era um menino de sete anos, sem nenhum
conhecimento do mundo, da política, das pessoas, enfim, de nada... Cursava o
primeiro ano primário, no Grupo Escolar Maria Joaquina do Espírito Santo, em
Santa Cruz do Rio Pardo... Era pra mim, o primeiro contato com pessoas fora do
seio familiar.
Jamais esquecerei daquele final de 1967,
principalmente, do dia da entrega do
diploma de conclusão do 1º ano primário... Era meados de dezembro, a primavera dentro de algumas horas, feito magia, daria lugar ao atrevido e quente verão.
As mães, juntamente com os formandos, estavam
reunidas num grande salão, no pátio do grupo escolar. A diretora anunciava pelo
microfone a entrega dos certificados - um canudo branco, amarrado com uma fita
de cetim vermelho... Junto com ele, a professora de cada turma, entregaria um
presente para o seu melhor aluno.
Sinceramente, fiquei surpreso e incrédulo
quando foi anunciado que na classe da professora Maria Helena eu era o ganhador
do presente. Fomos chamados: eu, minha professorinha e minha mãe para irmos à
frente. Não me cabia de satisfação pelo presente: uma caixa com 24 lápis de
cor... Eu parecia, naquele momento, o dono do mundo.
Minha mãe, Dona Conceição, abraçou-me bem
forte, percebi naquele momento um brilho diferente nos seus, indescritíveis, olhos
azuis. Percebi, também, que uma lágrima disfarçou - lágrima de alegria -
lágrima de pureza - lágrima de mãe. Ainda houve tempo para que eu ganhasse um
beijo da professora Maria Helena, acompanhado de um sincero: parabéns!
Pegamos os presentes e entre aplausos nos
retiramos do recinto. Lembro até hoje, do canto estridente das cigarras nas
árvores centenárias da Praça São Sebastião - pareciam cantar pra nós - enquanto
eu e minha mãe seguimos de mãos dadas, por todo o trajeto, até nossa casa, na
Vila Joaquim Paulino.
Hoje, passados 44 anos, não tenho mais idade
pra jogar nos times sub 50, nunca mais vi minha primeira professora, nem
tampouco meu grupo escolar. E as árvores centenárias? Talvez, tenham sido
destruídas pelos cupins. Minha mãe não está mais entre nós, já há algum tempo
foi chamada por Deus, virou estrelinha no céu.
O que ficou foi a lembrança
de um menino, simples e acanhado, que um dia teve o privilégio de voltar para
casa, de mãos dadas com sua mãe, levando consigo uma inesquecível caixa de
lápis de cor.
Que saudades da professorinha, que me ensinou o b,a,ba.
ResponderExcluirPelo jeito sempre foi um bom aluno João, com isso ganhamos nos que podemos degustar tão maravilhosas crônicas fruto de sua dedicação desde o grupo escolar...kkkkk
Parabéns por mais esta.
Alcir