sábado, 27 de julho de 2013

VITRINES

As vitrines refletiam carros apressados procurando o calor de suas garagens... O olhar esnobe e frio dos manequins contrastava com a alegria dos meninos da zona azul - que - soltavam foguetes anunciando o fim de jornada... A noite caía mansa, porém, violentamente estrangulava os últimos raios de sol. 

Nada de ligar os faróis, RUAS escuras carregam um pouco de magia - escondem negritudes imponderáveis... Namorados escrevem juras de amor na escuridão.

O farol auxiliar clareia o cabo rompido.

Moço, escutei um ESTAMPIDO, depois escureceu tudo; gritou um senhorzinho na calçada.

- Pessoal, por favor, afastem-se... É perigoso ficar perto desses cabos! 

Hora de refazer as emendas, sem antes demarcar e isolar a área.

A madame desce do Corolla e grita olhando pra cima:

- Ei moço, meu filho precisa entrar no “Face” - vai demorar pra voltar a energia?

Ah, essas redes sociais! Todos os filhos necessitam, urgentemente, entrar no “Face”... Evidências de uma sociedade apressada e dependente do mundo tecnológico!

- Mais dez minutos, minha senhora!

Os hospitais, as escolas, enfim, todos necessitam de luz... Até os manequins dos olhares esnobe!

Pronto, tudo consertado!

- Pode fechar o transformador! Grita o parceiro para os companheiros amarrados no poste seguinte. Os operadores efetuam os bloqueios, desbloqueiam o medo e autorizam minha cidade sorrir!

E fez-se a luz! 

A rapaziada, na lanchonete da esquina, com alardeados SORRISOS, comemora com gritos embriagados... Infelizmente a madame do Corolla não voltou pra agradecer... Não faz mal, a alegria de iluminar os caminhos, para nós, é suficiente... Os namorados se mandam à procura de outra escuridão!

Antes de baixar o hidro-elevador observo tudo iluminado... Feliz lembro-me do “Ultraje”: - “Daqui de cima dá pra ver tão legal...”!

Aciono os comandos e desço o cesto-aéreo que pousa suavemente, feito uma nave lunar...  Empresto os rojões dos meninos da zona azul e comemoro o fim do turno... Volto pra casa correndo, com meus faróis refletindo por outras vitrines e outros olhares... Necessito urgentemente entrar no “Face”!