segunda-feira, 1 de setembro de 2014

UMA SALVA DE PALMAS PARA OS LOUCOS!

Acordei na madrugada com uma puta câimbra na panturrilha... Levantei, tomei um Dorflex e enquanto fazia uma visita ao banheiro percebi um louco, num acalorado auto diálogo, do outro lado da rua.

Empunhando um microfone imaginário e de frente para o poste com luz de mercúrio, ele, feito pastor pedindo dízimo, berrava anunciando o fim do mundo:

“- Da outra vez o mundo acabou em água, agora não, tudo acabará em fogo, e queimará todos os pecadores e suas línguas venenosas, pois a língua é a única arma desses fariseus, que imaginam serem os donos do mundo, mas, nada, nada entendem de respeito ao próximo...”.

Após o discurso inflamado, mirando o bar com as portas cerradas, ainda com o microfone imaginário em punho, caiu na risada e cantou embriagadamente: 
“– Eu não sou besta pra tirar onda de herói - sou vacinado, sou cowboy - cowboy fora da lei...”.

Apesar de cambaleante, e com dificuldades para completar a letra da canção, ele até mandou bem, tanto no discurso de pastor canalha quanto na letra do Raulzito... O louco repetiu por vezes sua ladainha e sua cantoria desconexa, porém, sem plateia e não suportando o peso das próprias pernas, ali mesmo deitou e apagou!

Os loucos de outros tempos (e outros bares), também cascudos e avessos a aparelhos de barbear e banhos, juravam a Terra ser redonda e, além da forma esférica, insistiam que ela rodopiava, feito bailarina, em torno do sol... Outros, não menos insanos, afirmavam veementemente que o sertão viraria mar e o mar viraria sertão... Alguns psicopatas, geniais, tentavam nos confundir com suas filosofias 3D: “só sei que nada sei”, ou, “ser ou não ser, eis a questão”!

O louco da noite me fez lembrar que estamos carentes de loucos, mesmo sem banhos e águas de colônia... Carentes de loucos que, além de comer gafanhotos, pensem por nós... Que atravessem a madrugada estudando o movimento das estrelas... Que em noites desertas dancem e cantem, ainda que desafinados... Que conversem com extraterrestres, interroguem paredes  e urinem no pé do poste... Que gritem, nos seus microfones imaginários, que estamos à deriva, entregues aos que comandam e se julgam poderosos, mas, nada sabem além de trinta dinheiros!


Sim, sou fã assumido dos loucos... Mas estamos necessitados deles - meio órfãos dos loucos, de palavras loucas... Dos loucos que nos remetam reflexões...  De loucos que pintem abstratos com cores vivas e nos ensinem o real sentido da vida!