terça-feira, 28 de outubro de 2014

MURO DE BERLIM


Perdemos a oportunidade da mudança... Perdemos a chance de dizer não aos ladrões, corruptos, salafrários que por anos roubam, zombam e tripudiam! Pronto e acabou!

A verdade é que o norte/nordeste não se resume a Genoíno, Lula, Sarney, Collor, Renan, e etc... Querer culpar os nordestinos pela derrota é um ato covarde, de tremenda burrice e insanidade... A única culpa, se houver, é da exploração a qual nossos nordestinos sempre foram submetidos.

Há quanto tempo ouvimos falar da tal “indústria da seca” (uma eterna roubalheira), das promessas de transposições, das cisternas, poços artesianos, chuvas milagrosas e etc.. Tudo, absolutamente tudo, argumentos nefastos para repasse de verbas que jamais chegaram - pelo menos, aos necessitados!

Não... O ônus da derrota não é deles, definitivamente não!

O que sobrou aos nossos nordestinos senão pedir chuva, aos céus, pra plantar e colher?

Nada, nada, nada, aliás, sobrou sim! Sobrou este cabresto chamado “bolsa família”, porém, pra alguns deles a única chance de comida na mesa, isto é fato! Mais uma vez, vítimas eleitorais da arma: exploração!

Trabalhadores que esperam, pelo menos, uma gota pra preparar a terra... Trabalhadores que passam sede e fome... Trabalhadores que contra a vontade, muitas vezes, se obrigam a deixar suas origens para “tentar a sorte” (camelar) em terras estranhas!

Sabe quem, literalmente, construiu a “gigante” São Paulo, por exemplo? Pois é! Sim! Foram eles: os “cabras arretados” norte/nordestinos. Euclides da Cunha profetizou: “o sertanejo é, acima de tudo, um forte”!

Agora esse papo de separatismo? Pra cima de mim não, Mané! Não tolero nem admito tal proposta... O Brasil é nossa casa, e eu, me recuso a colocar um “muro de Berlim” em meu quintal.

Não abro mão dos nordestinos que embalaram e embalam meus sonhos - e minha poesia... Como, em sã consciência, eu me separaria do Armando Nogueira, Chico Anísio, Ferreira Gullar, Catulo, Santana Filho e os rios de nossas vidas?

Eu, sem Suassuna e seu mundo fantástico? Sem poder aprontar por aí com Chicó e João Grilo, meus preferidos? Nem fudendo ‘mermão’, nem fudendo!!

Eu, sem os filhos de Dona Canô, Chico César, Raulzito, Fagner, Zé Ramalho, Zé Geraldo e Zeca Baleiro pra cantarem nossos sonhos?  Eu sem Moraes Moreira e Alceu? Me poupem, to fora!

Abaixo assinado pra criação de República Farroupilha, República dos Pampas ou República da Puta que o Pariu?

Comigo não – enfiem no rabo!

Por aqui sigo ouvindo “Fotografia 3x4” com o Belchior!




sábado, 18 de outubro de 2014

MEUS DISCOS ENVELHECERAM

Ao entrar em casa para meu merecido ‘descanso do guerreiro, o filho caçula e seus amigos de turma do Instituto Federal do Paraná, de Jacarezinho,        estavam esparramados pela sala, todos, sem exceção, com iPhone em punho (ou, sei lá que tipo de celular eles possuem), fones de ouvido nos orifícios auriculares, uniformes da geração: bonés, bermudas e camisetas coloridas... 

Enquanto abro a porta um dos aparelhos repetia um refrão infame: “você não quis? perfeito, sua amiga quis e foi daquele jeito: tapa na cara – na bunda – puxão de cabelo...”!

Ao notarem minha presença, movimento simultâneo, retiram os fones dos ouvidos e cumprimentam em coro:

- Beleza João? 

- Beleza! Imito o gesto fechando a mão - erguendo o polegar.

Antes de me dirigir para o ‘jardim de inverno’, procuro e não encontro o “Rio” do Santana Filho – eu precisava reler a parte dos banhos de rio e dos carneiros errantes... Alguém deve ter emprestado (e não devolvido) pensei.

Não tem tu, vai tu mesmo - diria meu avô, acabei pegando uma de minhas relíquias: um exemplar do Almanaque Capivarol, que ganhei na Farmácia Arruda, no final de 1979.

Abro o almanaque e me deparo com um charlatanismo sincero do xarope patrocinador: “Sonhei com Nossa Senhora e ela me mostrou um vidro de remédio para maleita, minha filha tomou Capivarol e melhorou na hora!”... 

Puta que pariu, essa foi pior que a “música” que a rapaziada ouvia na sala.

Eu nem quis seguir a leitura... Elixires, pílulas, xaropes, receitas de bolo, melhor lua para plantio e pesca, horóscopo e tudo mais, fica pra próxima.

O que essa geração, pós sertanejo universitário, saberia de poesia, de almanaques, de rios - Mário Quintana, goma arábica, fita cassete, camisa volta ao mundo e calça boca de sino?

O que sabem eles de Santana Filho (aquele que escreve palavras estrondosas e garrafais - em caixa baixa), bancas de jornais, barbearias e máquinas de escrever?

O que saberão de Cora Coralina, bola de capotão, de aulas de francês nas sétimas e oitavas séries? Terão conhecimento de Juca-Pirama e indianismo, Guimarães Rosa - Riobaldo e Diadorim, grandes sertões, lambretas e cuba-libre? 

Teriam, mesmo que por engano, ouvido Belchior ou Paulinho Tapajós? Zé Geraldo ou Adriana Calcanhoto? 

Como mostrar meus discos envelhecidos para os clientes do McDonald’s que, por hora, curtem Fernando e Sorocaba (affff!!!) na sala?

Retiro meu coturno, descalço minhas meias, estico minhas pernas sobre a namoradeira e, ainda vestindo antichama, antes de fechar meus olhos, avisto um dos estudantes tecnológicos, ao lado das violetas na janela que confessa estar lendo o livrinho azul subtraído da minha estante.

Neste instante um incontido contentamento toma conta de mim, e eu, sonhador e conhecedor do “Rio” e livros azuis, sou notificado que nem tudo está perdido... Fecho os olhos e, alegre, mergulho num cochilo:

Tchibum!!!!!