quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O PRIMEIRO NATAL

Sob o signo de Touro - Carlos Eduardo, o Cadu - comemorará seu primeiro Natal... Cadu ainda não tem noção do que é o espírito natalino, ele ainda está encantado com a multicolorida piscina de bolinhas, está tentando entender a beleza das cores e, de onde vem o vermelho que o fascina... Certamente desmontará a bolinha pra responder suas interrogações, antes mesmo do entardecer ou, do seu primeiro aniversário.

Se, ainda criança, continuar desmontando bolinhas coloridas e baterias de celular, só para ver o que tem dentro, seguirá carreira na área de exatas, porém, se ficar curioso quando observar a mãe limpando um peixe, naturalmente, optará por ciências biológicas. Se, ao contrário, jogar a bolinha no chão e meter uma “bicuda” será, inevitavelmente, jogador de futebol.

Daqui a pouco ele vestirá o uniforme escolar, fará aulas de judô, inglês e natação... Seu primeiro amor se chamará Lavínia, Manuela, Carolina (todas elas também vivendo seu primeiro Natal) ou, sei lá quantas namoradas terá... Só sei que trocarão mensagens no ‘face’, empunhando um celular de última geração.

Todavia...

Todavia se o Cadu continuar admirando a beleza das cores: o verde das árvores, os vários tons dos flamboyant’s, a suavidade da brisa na primavera, a delicadeza de um sabiá gritando no mamoeiro ou, até mesmo, o vermelho da bolinha, Cadu será um caso perdido... Ele será um irremediável e perdido poeta, pode apostar... Ele insistirá na preservação da natureza como a própria salvação da humanidade, ele escreverá sobre as estrelas, sobre a chuva, sobre as borboletas, sobre algodão-doce e sobre as noites de Natal!


Não, não e não... Não sabemos o que o Cadu vai ser quando crescer... Vamos deixar o Cadu, por ora, vivenciar suas curiosidades... Só podemos desejar que ele seja feliz, e que tenha Deus no coração, isto é o que realmente importa... Por enquanto ficaremos ‘curtindo’ seu sorrisinho curioso.

Feliz Natal pra você também, Cadu!

domingo, 7 de dezembro de 2014

O PULSO AINDA PULSA

Passada a tensão, adrenalina, calafrios e pixotadas de uma diretoria estupidamente amadora e de um bando de jogadores ridículos, o maior papa títulos do futebol brasileiro (dessa vez salvo pelo gongo) se manteve na primeira divisão... O que seria, apenas, mais um rebaixamento (o terceiro da história) se transformou em alívio, não por méritos dos jogadores e técnico, mas sim, pela ruindade dos que terminaram abaixo da tabela, todavia...

Todavia eu grito com todas as letras: - Bem feito pra imprensa "tolimosa" que: secou, pisoteou e rebaixou antes da hora! E agora, atitude usual dos vira-latas (com todo respeito aos adoráveis vira-latas de quatro patas), enfia o rabo entre as pernas e sai de fininho, tentando, quem sabe, justificar as previsões erradas ou respirar o próprio fedor.

Fomentaram a audiência menosprezando o Campeão do Século XX... Sarcásticos, mostraram durante toda a partida imagens das lágrimas incontidas dos olhos “verdes” e, os comentários, eram verdadeiras estocadas no coração dos palmeirenses... Como juízes julgaram e condenaram e, feito arautos da desgraça alheia, determinaram, antes da hora, que nosso Palmeiras teria que ser rebaixado.

E o gigante não caiu... Somos inteligentes o suficiente para perceber que esta equipe é o pior Palmeiras que vimos jogar, porém, comentaristas analfabetos que mal sabem ‘açinar’ o nome, de posse de um microfone preto e branco, tentaram minimizar a história do Maior do Brasil!

E o gigante não caiu... Porém, senhores diretores amadores, acordem para a vida... Qualquer calouro do curso de Administração sabe que: não havendo PLANEJAMENTO não se chega a lugar nenhum!!!

Da equipe que hoje jogou, senhores diretores amadores, apenas dois ou três merecem vestir o manto verde. E não me venham com esta conversa que não tem dinheiro... Também somos inteligentes pra saber que todos os times de futebol, do Brasil, estão falidos.

Se um dia tivemos a grandeza, e a honra, de sermos o primeiro grande a assumir um rebaixamento, sem viradas de mesa (feito as vergonhas de Fluminense, São Paulo e tantos outros), que sejamos, ao menos, respeitosos com a torcida que, mesmo com tantas estrelas na camisa, há tempos serve de chacota aos canalhas de plantão!

Ainda dá tempo de repensarem e reciclarem conceitos administrativos, esta é a receita... O gigante não caiu, mas, estamos cansados de tanto sofrimento e, se persistirem com esta mentalidade arcaica, ano que vem, não sei não!!!


João Neto

sábado, 29 de novembro de 2014

AI QUE BURRO, DÁ ZERO PRA MIM!

Confesso, a primeira vez que tentei assistir um episódio, do seriado “Chaves”, mudei de canal antes do primeiro intervalo comercial... Qualidade de imagens ruins, péssimo áudio da versão brasileira, os atores fracos demais e o humor muito infantil pro meu gosto. Sem contar que, pra mim, Diógenes de Sinope era, até então, o único capitão da inteligência e do barril.

Depois disso, Chaves, nunca mais...

Ocorre que, por tempos, fui sendo bombardeado, através das redes sociais, com os (perdão pelo trocadilho) chavões do ‘Chaves’: ‘não contavam com minha astúcia’, ‘ninguém tem paciência comigo’, ‘sem querer querendo’ e etc..

Ontem, além do “Black Friday”, jornais, redes sociais, tv’s, noticiários, todos - sem exceção - falaram da morte de Roberto Bolaños fato que me obrigou a pesquisar sua obra e seu legado... Confesso, encontrei uma obra inteligentíssima, uma crítica social sutil, uma inocência sincera e um humor inofensivo e contagiante.

Com meu necessário pedido de desculpas me penitencio e confesso: passei batido – perdi a chance de assistir um mundo suave!

Diante do meu logro só me resta afirmar: Ai que burro, dá zero pra mim!

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

SOBRE AS PIZZAS DE ONTEM

Acordei com o firme propósito de escrever sobre o ‘novembro azul’, irmão siamês do ‘outubro rosa’ e inimigo mortal do ‘setembro negro’... Não deu, esbarrei na falta de conhecimento, na minha ignorância íntima e na total aversão aos toques retais... Pô, em pleno terceiro milênio e ninguém apresenta uma alternativa de ressonância magnética ou ultrassom para evitar exame tão constrangedor?!

Voltemos ao novembro, nem tão azul assim... Novembro de namoros desfeitos, de imagens distorcidas, repleto de questionamentos e porquês! O mês de sagitário está mais pra jabulani que pra primavera.

Claro que torcemos para que todos, que nos são caros, vivam felizes, mas... O que entendemos de felicidade alheia se nem sobre a nossa temos total controle?

Decido esquecer novembro, muita interrogação e reticências pro meu gosto.

Já que acordei inspirado, e com fome, abro a Cônsul e encontro três pedaços de pizza da noite passada, aliás, sou louco por pizzas amanhecidas e, soubessem os comerciantes a delícia que é uma “marguerita”, de ontem, com café passado na hora abririam suas pizzarias às sete da manhã – iriam rachar de ganhar dinheiro!!!

Após as pizzas dormidas lembro que não tenho o direito de esperar pela salubridade de dezembro... Apesar de não poder gritar por minha mãe, também não posso, desesperado, ficar lamentando as agruras de novembro... Sou fiel seguidor da felicidade perene, do sorriso constante e das alegrias infinitas... Por conta disso torço para que todos fiquem numa boa e, em vez de lamentações depressivas, aciono os controles e posiciono meus comandos na posição “fly”!



quarta-feira, 12 de novembro de 2014

QUASE UM SONETO (PARA A MENINA DA ÁGUA)



Ela, menina da água
Presente da fonte e do azul da piscina
Sereia de sonho sem mágoa
A água que banha a menina

Eu, cara da luz
O louco, o fósforo, o acendedor
Trapezista de postes quebrados
Palhaço que sonha o amor

Somos totais diferenças
Dos janeiros à intensidade
Sou breve facho de lua
Ela é a luz da cidade


terça-feira, 28 de outubro de 2014

MURO DE BERLIM


Perdemos a oportunidade da mudança... Perdemos a chance de dizer não aos ladrões, corruptos, salafrários que por anos roubam, zombam e tripudiam! Pronto e acabou!

A verdade é que o norte/nordeste não se resume a Genoíno, Lula, Sarney, Collor, Renan, e etc... Querer culpar os nordestinos pela derrota é um ato covarde, de tremenda burrice e insanidade... A única culpa, se houver, é da exploração a qual nossos nordestinos sempre foram submetidos.

Há quanto tempo ouvimos falar da tal “indústria da seca” (uma eterna roubalheira), das promessas de transposições, das cisternas, poços artesianos, chuvas milagrosas e etc.. Tudo, absolutamente tudo, argumentos nefastos para repasse de verbas que jamais chegaram - pelo menos, aos necessitados!

Não... O ônus da derrota não é deles, definitivamente não!

O que sobrou aos nossos nordestinos senão pedir chuva, aos céus, pra plantar e colher?

Nada, nada, nada, aliás, sobrou sim! Sobrou este cabresto chamado “bolsa família”, porém, pra alguns deles a única chance de comida na mesa, isto é fato! Mais uma vez, vítimas eleitorais da arma: exploração!

Trabalhadores que esperam, pelo menos, uma gota pra preparar a terra... Trabalhadores que passam sede e fome... Trabalhadores que contra a vontade, muitas vezes, se obrigam a deixar suas origens para “tentar a sorte” (camelar) em terras estranhas!

Sabe quem, literalmente, construiu a “gigante” São Paulo, por exemplo? Pois é! Sim! Foram eles: os “cabras arretados” norte/nordestinos. Euclides da Cunha profetizou: “o sertanejo é, acima de tudo, um forte”!

Agora esse papo de separatismo? Pra cima de mim não, Mané! Não tolero nem admito tal proposta... O Brasil é nossa casa, e eu, me recuso a colocar um “muro de Berlim” em meu quintal.

Não abro mão dos nordestinos que embalaram e embalam meus sonhos - e minha poesia... Como, em sã consciência, eu me separaria do Armando Nogueira, Chico Anísio, Ferreira Gullar, Catulo, Santana Filho e os rios de nossas vidas?

Eu, sem Suassuna e seu mundo fantástico? Sem poder aprontar por aí com Chicó e João Grilo, meus preferidos? Nem fudendo ‘mermão’, nem fudendo!!

Eu, sem os filhos de Dona Canô, Chico César, Raulzito, Fagner, Zé Ramalho, Zé Geraldo e Zeca Baleiro pra cantarem nossos sonhos?  Eu sem Moraes Moreira e Alceu? Me poupem, to fora!

Abaixo assinado pra criação de República Farroupilha, República dos Pampas ou República da Puta que o Pariu?

Comigo não – enfiem no rabo!

Por aqui sigo ouvindo “Fotografia 3x4” com o Belchior!




sábado, 18 de outubro de 2014

MEUS DISCOS ENVELHECERAM

Ao entrar em casa para meu merecido ‘descanso do guerreiro, o filho caçula e seus amigos de turma do Instituto Federal do Paraná, de Jacarezinho,        estavam esparramados pela sala, todos, sem exceção, com iPhone em punho (ou, sei lá que tipo de celular eles possuem), fones de ouvido nos orifícios auriculares, uniformes da geração: bonés, bermudas e camisetas coloridas... 

Enquanto abro a porta um dos aparelhos repetia um refrão infame: “você não quis? perfeito, sua amiga quis e foi daquele jeito: tapa na cara – na bunda – puxão de cabelo...”!

Ao notarem minha presença, movimento simultâneo, retiram os fones dos ouvidos e cumprimentam em coro:

- Beleza João? 

- Beleza! Imito o gesto fechando a mão - erguendo o polegar.

Antes de me dirigir para o ‘jardim de inverno’, procuro e não encontro o “Rio” do Santana Filho – eu precisava reler a parte dos banhos de rio e dos carneiros errantes... Alguém deve ter emprestado (e não devolvido) pensei.

Não tem tu, vai tu mesmo - diria meu avô, acabei pegando uma de minhas relíquias: um exemplar do Almanaque Capivarol, que ganhei na Farmácia Arruda, no final de 1979.

Abro o almanaque e me deparo com um charlatanismo sincero do xarope patrocinador: “Sonhei com Nossa Senhora e ela me mostrou um vidro de remédio para maleita, minha filha tomou Capivarol e melhorou na hora!”... 

Puta que pariu, essa foi pior que a “música” que a rapaziada ouvia na sala.

Eu nem quis seguir a leitura... Elixires, pílulas, xaropes, receitas de bolo, melhor lua para plantio e pesca, horóscopo e tudo mais, fica pra próxima.

O que essa geração, pós sertanejo universitário, saberia de poesia, de almanaques, de rios - Mário Quintana, goma arábica, fita cassete, camisa volta ao mundo e calça boca de sino?

O que sabem eles de Santana Filho (aquele que escreve palavras estrondosas e garrafais - em caixa baixa), bancas de jornais, barbearias e máquinas de escrever?

O que saberão de Cora Coralina, bola de capotão, de aulas de francês nas sétimas e oitavas séries? Terão conhecimento de Juca-Pirama e indianismo, Guimarães Rosa - Riobaldo e Diadorim, grandes sertões, lambretas e cuba-libre? 

Teriam, mesmo que por engano, ouvido Belchior ou Paulinho Tapajós? Zé Geraldo ou Adriana Calcanhoto? 

Como mostrar meus discos envelhecidos para os clientes do McDonald’s que, por hora, curtem Fernando e Sorocaba (affff!!!) na sala?

Retiro meu coturno, descalço minhas meias, estico minhas pernas sobre a namoradeira e, ainda vestindo antichama, antes de fechar meus olhos, avisto um dos estudantes tecnológicos, ao lado das violetas na janela que confessa estar lendo o livrinho azul subtraído da minha estante.

Neste instante um incontido contentamento toma conta de mim, e eu, sonhador e conhecedor do “Rio” e livros azuis, sou notificado que nem tudo está perdido... Fecho os olhos e, alegre, mergulho num cochilo:

Tchibum!!!!!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

UMA SALVA DE PALMAS PARA OS LOUCOS!

Acordei na madrugada com uma puta câimbra na panturrilha... Levantei, tomei um Dorflex e enquanto fazia uma visita ao banheiro percebi um louco, num acalorado auto diálogo, do outro lado da rua.

Empunhando um microfone imaginário e de frente para o poste com luz de mercúrio, ele, feito pastor pedindo dízimo, berrava anunciando o fim do mundo:

“- Da outra vez o mundo acabou em água, agora não, tudo acabará em fogo, e queimará todos os pecadores e suas línguas venenosas, pois a língua é a única arma desses fariseus, que imaginam serem os donos do mundo, mas, nada, nada entendem de respeito ao próximo...”.

Após o discurso inflamado, mirando o bar com as portas cerradas, ainda com o microfone imaginário em punho, caiu na risada e cantou embriagadamente: 
“– Eu não sou besta pra tirar onda de herói - sou vacinado, sou cowboy - cowboy fora da lei...”.

Apesar de cambaleante, e com dificuldades para completar a letra da canção, ele até mandou bem, tanto no discurso de pastor canalha quanto na letra do Raulzito... O louco repetiu por vezes sua ladainha e sua cantoria desconexa, porém, sem plateia e não suportando o peso das próprias pernas, ali mesmo deitou e apagou!

Os loucos de outros tempos (e outros bares), também cascudos e avessos a aparelhos de barbear e banhos, juravam a Terra ser redonda e, além da forma esférica, insistiam que ela rodopiava, feito bailarina, em torno do sol... Outros, não menos insanos, afirmavam veementemente que o sertão viraria mar e o mar viraria sertão... Alguns psicopatas, geniais, tentavam nos confundir com suas filosofias 3D: “só sei que nada sei”, ou, “ser ou não ser, eis a questão”!

O louco da noite me fez lembrar que estamos carentes de loucos, mesmo sem banhos e águas de colônia... Carentes de loucos que, além de comer gafanhotos, pensem por nós... Que atravessem a madrugada estudando o movimento das estrelas... Que em noites desertas dancem e cantem, ainda que desafinados... Que conversem com extraterrestres, interroguem paredes  e urinem no pé do poste... Que gritem, nos seus microfones imaginários, que estamos à deriva, entregues aos que comandam e se julgam poderosos, mas, nada sabem além de trinta dinheiros!


Sim, sou fã assumido dos loucos... Mas estamos necessitados deles - meio órfãos dos loucos, de palavras loucas... Dos loucos que nos remetam reflexões...  De loucos que pintem abstratos com cores vivas e nos ensinem o real sentido da vida!

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A MENINA E O LEITE DE ROSAS

Das irmãs foi a primeira a, sozinha, enfrentar o mundão e batalhar seu sustento. Desembarcou em São Paulo no momento em que o sol se escondia por detrás dos prédios... Assustou-se no momento em que desembarcou na Estação Júlio Prestes... O dinheiro, contado, duraria no máximo três dias e era só pra alimentação! O difícil seria ignorar as vitrines multicoloridas e sedutoras.

Ali estava, miúda, escondida debaixo de seus caracoizinhos loiros, com medo do incerto, pouco dinheiro e uma puta vontade de acertar.

E acertou! No segundo dia já estava empregada, no final do terceiro mês já era chefe de departamento. As vitrines com luzes de neon agora eram acessíveis! 

Casou-se tão logo terminou de ouvir o LP do Belchior... A semelhança física do artista com o namorado sugestionou sonhos filosofais e embarcou na letra da canção:

 “... Meu bem, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente. Tome um refrigerante, coma um cachorro quente. Sim, já é outra viagem e o meu coração selvagem... Tem essa pressa de viver... ”

Pressa de viver, bem isso... Teve que abandonar a vida profissional para cuidar das filhas, porém, a viagem matrimonial, após anos, não suportou as turbulências, momento de buscar outras batalhas e, quem sabe, outros amores - menos incertos.

Ela não fez outra coisa na vida a não ser lutar... lutar... lutar! Acertou muitas vezes, errou outras tantas, porém, jamais poderemos criticá-la, afinal, todos erramos (primeira pessoa do plural), portanto, sem julgamentos pessoais!

O que fica pra mim, Dóris, é sua imensa disposição de ir à luta – de não se entregar facilmente!

O que marca pra mim, Dóris, é sua imparcialidade diante de erros e preferências alheias:  - “Deixe cada um ser feliz do seu jeito” – essa sua frase é muito forte e abrangente.

Ainda hoje me envergonho do dia em que, quando estudávamos na 6ª série, no Caló, tirei você no “amigo secreto” do final do ano... Sem dinheiro, encontrei um frasco de “Leite de Rosas” no lixo, enchi com água, embrulhei pra presente e te entreguei no dia da revelação! 

Hoje te peço perdão... Definitivamente eu não tinha recursos – única forma que encontrei para te presentear... Hoje eu te daria um estojo completo com lavandas do Boticário, pode apostar!

Sei que, no instante em que ler isto, suas lágrimas cairão, uma a uma, e acredite, estarei torcendo por você, pois, se bem te conheço, tu estarás em algum canto do mundo, lutando, em busca da felicidade! 


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

AS NOITES COM MEU PAI

- Hoje faz quatorze anos que meu pai partiu definitivamente... Flávia disse isto na hora do jantar, também contou que esteve, na parte da tarde, no barracão da Prefeitura - último lugar em que o pai trabalhou... Completou que, apesar da saudade, ficou feliz por ter ido lá, e que, naquele instante, sentiu a presença do pai.

Suspirou novamente e, enquanto bebericava um copo de chá verde, se lembrou do tempo em que o pai fazia a contabilidade da empresa de transportes do avô e do tempo em que ele prestava serviços para outros contabilistas da cidade... 

Afirmou que ele era um grande datilógrafo e que as “Remington’s” adoravam sentir a suavidade e velocidade de seus dedos - ele as tratava como um pianista trata seu piano - com amor!

Visivelmente emocionada disse que o pai sempre fez tudo pra ela e que ela sempre o teve como um ídolo... Disse ainda que, sabendo da insônia crônica que o pai sofria, por muitas noites caminhou de mãos dadas com ele, enquanto a cidade dormia indiferente. Naquelas noites, atenta, escutava as estórias do pai enquanto os guardas-noturnos riscavam a madrugada com seus apitos de alerta.

Após estas afirmações, parou por um instante e perguntou:

- João, será que meu pai sentiria orgulho em me ver dirigindo um carro da Sanepar?

- Será que, além disso, estaria grudado com meus filhos passeando por aí?

- Tenho certeza que sim – respondi de pronto, Toninho sentiria orgulho de você em qualquer circunstância!

Ela disfarçou um leve sorriso e, certamente, seguiu lembrando o chapelão e a capa preta com a qual seu pai flanava, ao seu lado, nas noites platinenses, tendo como testemunhas, apenas, as estrelas do céu!



quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O MILAGRE DE SÃO DOMINGOS

O temporal daquela tarde de oito de agosto, dia de São Domingos, tinha sido severo: derrubou árvores, pontes e fez o Rio Pardo transbordar, porém, o jovem José, na condição de Festeiro da capela de São Domingos, avisa aos pais, Zico e Gabriela, que estava indo para lá pra preparar tudo e que sua irmã Helena, a qual não desgrudava, ia também.

Arreou a carroça e quando já saía ouviu dona Gabriela gritar do portão:

- Cuida da Helena!

 - Pode deixar - respondeu José – e seguiram rumo ao São Domingos.

Passava das seis da tarde e o céu, ainda carrancudo, fez com que o manto da noite cobrisse, rapidamente, aquela estrada toda enlameada, mas, seguiram mesmo assim... felizes!

Quando já tinham rodado uns três quilômetros perceberam que as luzes de Santa Cruz iam ficando pra trás... Em seguida visualizaram um clarão, intenso, vindo ao longe... Pensaram se tratar de algum carro... Mas, à medida que apressavam a toada, mais a luz se aproximava, com mais intensidade ainda, fazendo movimentos de zigue-zague.

Eis que, feito um raio, a luz misteriosa para, por uma fração de segundos, e explode na frente do Ligeiro... Ele se assusta, empina, quebra os braços da carroça e desaparece no meio do mato... A carroçinha tomba para o lado machucando a mão e o rosto da menina Helena, que chora desesperadamente... Enquanto José tenta acalmá-la, outras pessoas, que iam para a festa, vão parando para socorrê-los. Parou para prestar socorro, entre outros, o senhor João Alexandre Pereira que levava consigo, seu filho, Octacílio Pereira um rapazote com o qual a menina Helena, por tempos, vinha trocando olhares nas missas dominicais.

Antes de retornarem alguém avisa em voz alta:

- Melhor cancelarem a festa... A chuva fez um buraco monstruoso no meio da estrada!

José caminhou até o buraco e vendo o tamanho do abismo que a chuva criou, olhou para o céu e agradeceu a Deus e São Domingos... Ficou a certeza de que aquela “luz” foi um sinal de salvação.

Naquela noite assustadora, São Domingos operou dois milagres: Salvou a vida dos irmãos e, também, colocou o jovem Octacílio na vida da menina Helena... O resto da história é a fantástica família que construíram juntos.


Hoje ao completar 90 anos, mando um beijo carinhoso no coração da menina Helena, além de irmã, uma grande amiga do nosso pai - José.  Não esquecendo, também, que sua vida linda é fruto de um milagre de São Domingos!

terça-feira, 29 de julho de 2014

O REI DO CAFÉ


  • Dos amigos sobrou apenas o velho Plutão, deitado ali, ao lado, não menos judiado pelo tempo, não menos desiludido!

    Depois de muito implorar um cigarro para os que ali passavam, eis que uma alma bendita, também carente, saca um Continental sem filtro, risca o fósforo e segue sentido prefeitura... Ele nem tem tempo de agradecer, respira fundo, dá uma longa tragada e solta a fumaça numa baforada só... Naquele instante as lembranças se evidenciam, junto com a fumaça branca do cigarro e atormentam, ainda mais... Como não lembrar os charutos que apreciava feito Churchill... Quantos R&J’s e Montecristo’s não lascou fogo com seu isqueiro de fluído, também, importado?

    Seu estoque com mais de dez mil sacas de café garantiam a ostentação... Enquanto o IBC garantia o preço mínimo ele seguia especulando com a safra dos pequenos produtores...

    Aquilo tudo o seduzia: o cheiro dos charutos, o Johnnie Walker, o Simca Chambord para viagens de negócios ou para levá-lo duas vezes por mês na Casa da Eny, em Bauru... Lá acendia charutos com nota de cem cruzeiros, feito coronel em salão de zona, a fumaça e o cheiro cubano emanavam até a Vila Perino em Ourinhos... Exigia que colocassem Pablo MIlanés na vitrola... Gostava de ouvir Yolanda e deitar com Yolanda - a jovem mais interessante daquele cabaret. Um lugar de prazeres comprados e alegrias ilusórias.

    Agora está aqui, sentado na calçada fria do Theatro Municipal, todo maltrapilho, com alma e olhar perdido... Queria muito voltar para sua terra natal, Ourinhos, e morrer abraçado ao Rio Paranapanema... Pura ilusão – com que dinheiro?

    Sua memória RAM vem dando “tilt” faz muito tempo, o que não o impede de notar que o relógio na fachada do antigo Mappin, há tempos, vem marcando dez para as três... O mesmo Mappin onde comprava seus ternos cor de leite condensado, de linho branco e risca de giz.

    Levanta, encosta suas tralhas ao lado de uma lixeira, e fala, entre tosses, pro Plutão:                                            
    - Fica aí Plutão, eu já volto!                                                                                                                                     Mais por desânimo que por obediência Plutão fica ali, deitado, inerte.                                                                    
    Instantes depois, junto com o som das buzinas e motores dos carros ouve-se um barulho chocho... Pessoas se aglomeram nas muretas olhando para baixo, no Viaduto do Chá... O corpo estendido suspira pela última vez no prolongamento da Vinte e Três de Maio.

    São dez para as três da tarde em São Paulo, cai uma garoa fina e fria, termômetros marcam 11 graus na Praça Ramos de Azevedo!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O FIM DE UMA PAIXÃO

Semana que vem começa a Copa do Mundo... Um evento que, ansioso, eu aguardava com frio na barriga, com direito a camisa verde-amarela e tudo. 

Dependurava um lábaro, verde-louro e estrelado, na janela e ajudava enfeitar a rua de minha casa... Em pleno inverno, entre pipocas e cobertores, comemorava cada gol do meu Brasil...sil...sil...sil...

Foi assim durante minhas “Copas”, pelo menos até a de 2006, e eu, como todos brasileiros, tinha orgulho da nossa seleção, que por sua vez exorcizara, para sempre, nosso “complexo de vira-latas”.

Alegria nas vitórias... Tristeza nas derrotas e a insatisfação nos empates (parafraseando Fiori Giglioti)... Toda devoção pela seleção que era meu orgulho - meu ópio.

E vai começar a “Copa do Mundo”! Confesso, não perdi a brasilidade, mas, estou pouco me lixando se a seleção ganhe ou perca... Pra ser sincero torço contra esses salafrários que usam a seleção de futebol como balcão de negócios... Enriquecem com a fortuna que circula pelas entidades futebolísticas, roubam e não fazem questão nenhuma de esconder as mãos sujas... Praticam desde pequenos delitos (roubo de medalhas) até o desvio de milhares de dólares (construção de estádios).

Os canalhas formaram quadrilhas que, sem nenhuma cerimônia, aparecem nos meios de comunicação e afirmam: “- O que tinha que ser roubado, já foi!”.

Não comprarei uma nova TV de led, nem mais me iludirei com o Galvão Bueno se esgoelando.

Que se dane: Marco Polo Del Nero, José Maria Marin, Ricardo Teixeira, Andrés Sanches, Felipão e todos integrantes da dinastia Havelange.

Continuarei apaixonado por meu país, uma paixão padrão FIFA... Curtirei as belezas deste meu Brasil... Acredito que seja verdade a afirmação de que: "dos filhos deste solo és mãe gentil"...

E por falar em beleza do Brasil, neste instante, observo a chuva fina molhando o jardim!


quarta-feira, 21 de maio de 2014

OS OLHOS DO KALÉU

Nada deve ser mais doloroso, para os pais, que a partida definitiva de um filho... Uma cicatriz que nunca fechará, um vazio insuportável, carregado de angústias e pesadelos...

Ficarão eternizadas as boas lembranças, os bons momentos e, passará na cabeça dos pais, insistentemente, o filme da vida do filho amado, desde o primeiro  choro e abrir de olhos até as vitórias e o orgulho em vê-lo formado, doutor... Doutor Toni Garcia!

E justamente, no momento mais dramático, imersos em terrível tristeza, sombras e porquês, a família, num ato de fé e solidariedade humana, opta pela doação das córneas do Doutor Toni – Doam para outrem não apenas a visão, mas a luz do mundo, a luz da vida!

Somente pessoas com o coração carregado de amor poderiam fazer acontecer um ato tão grandioso, glorioso - próprio dos anjos de Deus!

Juntamente com os meus pesares, Dr. Sebastião Garcia e Glorinha, faz-se necessário o registro de minha admiração e meu aplauso para atitude tão nobre e tão rara, apesar da dor! 

Que Deus os conforte!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

OS SONS DA CIDADE

Uma coisa bacana do domingo de manhã é o cheiro do pão saindo do forno, na padaria em frente, além disso, o açougue da esquina já encheu a “televisão de cachorro” com os indispensáveis frangos recheados que, por sua vez, além dos infinitos giros de 360º, emanam outro delicioso cheiro de fome.

Se os cheiros e recheios do domingo são agradáveis não podemos dizer o mesmo dos “testemunhas de Jeová”, que, madrugaram em pleno domingo pra arrebanhar e vender uns panfletos recheados, não de farofa - mas, de salvação:

- Obrigado meu senhor, hoje não, sou uma ovelha desgarrada e já tenho minha convicção espiritual!

Uma vez livre dos “Jeovás” imaginei o domingo tranquilo: um barquinho navegando em águas calmas...

Puro engano!

Antes mesmo que o boteco abrisse as portas já havia um sujeito com o boné virado pra trás, dentro do seu impecável Escort 85, aguardando para beber a décima oitava cerveja da manhã, curtindo os 98 decibéis de potencia de som, ouvindo um sertanejão universitário, intercalado com a fala insuportável de um locutor de rodeios... Tão logo comprou as cervejas (ainda bem!) se mandou cantando os pneus... Ainda deu pra observar, no vidro traseiro, um adesivo do Corinthians com a mensagem: “Fuiiiiii...”.

Quando meus tímpanos respiraram aliviados, no mesmo local estacionou outro veículo, com as mesmas características, interiores e exteriores, e mesma potencia de som, variando apenas o gosto musical... No lugar do sertanejo universitário, o corintiano da vez, ouvia funk-pancadão...

Música ruim tem a capacidade de encalacrar no cérebro da gente, com isso, fiquei horas com aquele tuch... tuch... tuch, na cabeça.

Pra fechar o domingo fui dormir lembrando dos “versos” gritados pelo locutor de rodeio:

“- Morena casa comigo que você não passa fome, de dia você come a cobra, à noite a cobra te come!


Tem horas que é melhor ser surdo!

segunda-feira, 28 de abril de 2014

ESPELHO MEU

Ainda com o gosto do Colgate mentolado na boca, olhei pelo basculante do banheiro e percebi o sol se esbaldando na água azul da piscina... Ouvi o grito do bem-te-vi anunciando, além do novo dia, quem mandava no quintal e, após as devidas abluções, diante do espelho de meia-parede, troquei uma ideia comigo mesmo, e falamos dos 5.7 completados em abril.

Reclamei, ao espelho meu, a falta dos cabelos que, aos poucos, foram desertando, feito a melanina que os descoloriram... Minha pele perdeu a textura e as letras diminuíram diante do meu olhar, justo eu, fiel seguidor das boas escritas.

O espelho, interrogativo, me interpelou... Ponderou sobre as vitórias alcançadas... Foi taxativo (tipo: "quem te viu e quem te vê") ao lembrar dos meus tempos de engraxate na antiga estação rodoferroviária de Ourinhos... Esfregou na minha cara os bens patrimoniais, a mesa abastada, o trabalho na maior empresa do Paraná, os filhos fantásticos e a doce namorada - companheira de viagem.

O espelho meu, lembrou os amigos que comigo peleiam e as raras derrotas, que serviram para lembrar que não somos perfeitos, mas, passíveis de falhas que, por vias tortas, contribuem para o crescimento como ser humano, ciente das limitações, porém, com fantástica capacidade de adaptação e reação.

O espelho meu encerrou a conversa no momento em que falou da presença de Deus no meu coração!

Tive que dar razão ao espelho meu... Realmente, muito pouco a reclamar... Foram muitas, claras e contundentes vitórias, ainda que tenham vindo aos quarenta do segundo tempo, talvez por isso se fizeram tão especiais.

Há tempos perdi o medo dos desafios... Meu próprio medo que, em alguns trechos, tentou canibalizar minha coragem... Hoje observo tudo com olhar desafiante e pronto para prosseguir.

O apito dos 57 me convida para novos desafios... 

Sigo em frente, enquanto a felicidade marca a cadência!