sábado, 28 de abril de 2012

DE VOLTA PARA O FUTURO


No exato momento em que retiro de dentro de uma pasta, um tanto envelhecida, meu “histórico escolar”, sinto um misto de saudosismo e expectativa.

Saudosismo sim, pois naquele papel, amarelado pelo tempo, está contido uma parte da minha vida. Vendo os números e anotações, passa um filme dos meus tempos de estudante: os amigos, os professores, enfim, o ambiente escolar. Percebo que as maiores notas são das matérias e professores que eu mais me identificava, por outro lado a nota 6,5 foi o máximo que consegui em Química e Física, por motivos óbvios.

E como falar em expectativa diante de documento tão antigo?

Pois é, vejam o contra-senso! Estou às portas da aposentadoria e, paralelamente, juntando documentação para efetivar minha matrícula, para ingresso em curso superior.

- Mas só agora? Perguntarão alguns.

Falando com sinceridade foi falha minha. Penso que se tivesse me esforçado, um pouco mais, teria encontrado tempo para minha graduação.  Como o tempo não pára, diria o poeta, sinto que, o tempo, é agora!

Tá certo que meu curso será à distância, aquele que os especialistas em Educação chamam de EAD. Esses mesmos especialistas, também, afirmam que a educação escolar, do futuro, se confunde com o ensino à distância. Tenho ciência que terei minhas atividades, basicamente, pautadas em aulas on-line e, certamente, algumas presenciais, porém, o sucesso desse desafio depende, apenas e tão somente, de meus esforços – acredito nisso!

Estou ansioso para o início das atividades, me sentindo como uma criança se preparando para o primeiro dia de aula no Grupo Escolar. Ainda existem Grupos Escolares?

É evidente que sentirei falta dos colegas de classe, dos professores, da hora do recreio, da minha mãe arrumando meu uniforme. A escrita dará lugar à digitação, não haverá quadro-negro, desenho com giz, o carimbo de “parabéns” no canto alto do caderno de caligrafia, o estojo com lápis de cor, a borracha de apagar Faber-Castell e o lápis preto nº 2, quase sempre, mal apontado. Desculpem, são “recuerdos de niño, solamente!”

Espero que essas tecnologias digitais sejam minhas parceiras nessa nova empreitada, e que tudo corra como o esperado. 

Se o problema, durante anos, foi o tempo, agora basta adequá-lo ao meu tempo. Acredito que terei sucesso na conclusão desse curso, pois, como de costume, tenho a mania de fazer as coisas acontecerem, e bem feito.

Pro inferno os pessimistas que anunciam o fim dos tempos com suas trombetas, 2012 na verdade, é tempo de renovação - é tempo de recomeço - é tempo de ser feliz!

Boas aulas para mim!




O MENSAGEIRO DA MUSICA MEXICANA


- “Respeitável público! Não percam hoje, logo mais às vinte horas, a grande apresentação do cantor Ézio Silva - O Mensageiro da Música Mexicana”!

Um carro de som, do Circo Pirulito, percorria os bairros de Santa Cruz do Rio Pardo, para anunciar a apresentação de Ézio, um dos meus irmãos mais velhos. 

Foi uma agradável surpresa a apresentação e o sucesso dela... Ézio quase ofuscou a atração principal da noite, a peça: "O Punhal da Vingança"! 

Com uma guitarra espanhola dependurada no pescoço, o envolvente ritmo “caliente” da música dos “mariachis” e com um inconfundível traje de “charro”, soltou a voz entoando: Miguel Aceves Mejia, Jorge Negrete, Cuco Sanchez, Pepe Aguilar, entre outros. Resumo: foi aplaudido de pé após sua performance.

Assim viveu o Ézio, cantando e encantando nos circos e nos bares da vida. Até hoje não acredito que nem ao menos um disco compacto ele tenha gravado. Certamente teria feito sucesso. Penso que a proximidade com o álcool, nos bares de então, interrompeu uma possível decolagem de uma carreira sólida.

Saindo das probabilidades e falando sobre a pessoa é correto afirmar que ele tinha um grande coração, era sonhador como a maioria dos cantantes. Viveu nas nuvens, eu diria!

Semeou os filhos e teve na Marilvia a companheira que o esperou, a vida toda, de braços e coração abertos. Admiro-a muito por isso.

Se ainda estivesse entre nós, eu mesmo comporia uma canção pra ele.  Poderia ser uma guarânia, um bolero ou até um dramático tango falando da vida, falando de amores, falando de flores ou falando do amanhã, talvez.

Se é verdade que os músicos passam pela vida para aliviar as dores da alma, o Ézio foi um desses, e deve estar cantando e tocando, acompanhado por um coral de anjos embriagados, para confortar possíveis almas perdidas.


domingo, 22 de abril de 2012

UM SUJEITO MARCANTE


“Em Brasília dezenove horas!”. Passava das sete da noite e sob os acordes da ópera "O Guarani", de Carlos Gomes, começava o programa “A Voz do Brasil” anunciando as “obras” do governo (militar). Essa chamada era, para nós, o momento de desligar o rádio. 
- Mas o que aconteceu, de novo, em nossa casa naquele dia? 

- Não era um dia como outro qualquer?  Era pra ser, porém, naquele dia e naquela hora aparece minha irmã Regina com o novo namorado, Francisco Marcante. 

- E não seria, também, apenas mais um? Era pra ser, porém, esse cidadão merece um capítulo à parte.
 Olhamos desconfiados quando ele entrou em casa, com uma vasta cabeleira - tipo Roberto Carlos anos 70 - usava calça boca-de-sino, sapato plataforma e trazia um maço de cigarros Hollywood enfiado na manga da camisa, na altura do ombro. O perfume cheirando almíscar fez com que eu e o Arnaldo comentássemos, bem baixinho: 

- Ele queima a rosca! Deve ser são paulino! 

 Essa nossa desconfiança aumentou, ainda mais, após as devidas apresentações. Ele se levantou, colocou a mão na cintura, e balançando o joelho direito em movimentos repetitivos fala ao meu pai: - “Senhor José, nós vamos ao cinema!”
 Passada as primeiras e desconfiadas impressões, descobrimos posteriormente, que se tratava de um cara humilde, pobre como nós, inteligente, trabalhador. Era carteiro na Empresa de Correios e Telégrafos. Aos poucos conquistou a confiança de todos, passou a ser de casa - até o Paulão gostava dele! Na medida em que ia fazendo parte da família ia galgando melhores degraus nos Correios.
 Foi uma felicidade geral, tempos depois, quando marcaram a data do casamento. Ficamos muito preocupados quando nasceu seu primeiro filho, pois, casaram-se em fevereiro e o Danilo nasceu em setembro (mentiras sinceras às vezes colam!). Nem a medicina conseguiu explicar esse “milagre”. O Danilo está firme, forte e com saúde, até hoje.
 Ficamos mais preocupados, ainda, dois meses depois de casados, a Regina disse que não estava agüentando o Marcante e que iria se separar dele. Isso faz 34 anos e toda semana ela diz a mesma coisa - evidências de um amor eterno!
 Tenho muito respeito pelo Marcante, afinal, foi a primeira pessoa a acreditar em mim. Vendeu-me uma motocicleta (era meu sonho) em 10 pagamentos sem juros. Sempre respeitador, tinha a confiança irrestrita do José e da Conceição, quando vivos – e a nossa, até hoje. O Marcante e a Regina são referências para toda a família.
 Não é que o “carçudo” venceu, também nos Correios! Não sei a que cargo chegou, só sei que sua aposentadoria beira os 12 mil por mês. Ele fez por merecer – ele fez acontecer!
 O Marcante - do coração marcante - é um vitorioso, boa pessoa mesmo. Tem defeitos? É claro que tem! É corintiano, por exemplo. Tá vendo, ninguém é perfeito! Sem contar essas três malas: Danilo, Elaine e Marcelo – mentira – tutti buona gente!

sábado, 14 de abril de 2012

RAPOSAS E GALINHEIROS


Na chefia da nação já estiveram: Reis, Governadores Gerais e Vice-Reis, Imperadores, Chefes de Gabinete, Primeiros Ministros e Presidentes da República. Não tenho a pretensão de aplicar uma aula de História do Brasil, mas algumas ponderações se fazem necessárias.
A primeira delas é o fato de que nossa história política, desde o Brasil Colônia, sempre esteve recheada de: parasitas, oportunistas e corruptos, aos montes. Já estivemos sob a tutela de ditadores de quinta categoria (lê-se Getúlio Vargas), de presidentes que assumiram e sumiram (lê-se Jânio Quadros), de presidentes que sumiram e não assumiram (lê-se Tancredo Neves), de presidentes de farda, cavalo e chicote (lê-se escória),  de presidentes impedidos de continuar, simplesmente, por não ter repartido o bolo com determinados partidos políticos (lê-se Collor e PMDB), de presidentes que só não privatizaram a mãe porque mães não são privatizáveis (lê-se FHC).

A verdade é que sempre estivemos à procura de salvadores da pátria, mas eles não existem. Se houver alguma ressalva nessas afirmações, talvez, o governo JK, pelo seu “Plano de Metas”, desenvolvimento, e os “50 anos em 5”  que são fatos reais, mas a corrupção, também, esteve de mãos dadas com esse governo, ah esteve!

Na procura por salvadores dá pátria, fomos enganados por marqueteiros e elegemos: "vassouras que varriam bandalheiras", "caçadores de marajás" e perdemos "o medo de ser feliz". E por falar em medo de ser feliz, chegamos ao governo do PT. Esse, sem medo de errar, o maior ninho de corruptos da história da República. Genoíno, Palocci, Zé Dirceu, Marcos Valério, Delúbio, não dá pra continuar, a lista é grande e pode ser que dê ânsia de vômito. 


Utilizam tática nazista (uma mentira contada mais de dez vezes tende a se tornar verdade) para dar respaldo as suas atitudes. Fazem um governo populista, baseado em: benefícios sociais e mentiras, muitas mentiras. Os benefícios sociais tipo Bolsa Família é, na verdade, uma fábrica de vagabundos e desocupados (dar o peixe e não ensinar a pescar). Seus valores são consumidos em botecos ou são tragados em cachimbos de crack. Como não existe almoço de graça, a matéria prima dessas “bolsas” sai, diretamente, do couro do nosso lombo.

Daqui a pouco teremos eleições novamente. E não me venham com esse papo de que brasileiro não sabe votar, sabemos sim! A verdade, é que ao dar entrada nessa latrina, contaminam-se rapidamente e em minutos se integrarão à lista da corrupção, mensalões, tráficos de influências e estarão inseridos no bolso dos lobistas.

E nesse momento, nesse exato momento, em que vejo na TV, discursando no mesmo palanque, Dilma, Sarney, Renan e Collor é que percebo: está tudo perdido, irremediavelmente perdido!

Nas próximas eleições, resta saber, para qual raposa vamos entregar as chaves do galinheiro!

Perdoem o esquecimento, estamos no país do Carnaval!


sábado, 7 de abril de 2012

A SANTA QUE OUVIA RÁDIO


Durante anos minha mãe cumpriu a função de rádio-escuta, função essa que considero nobre, não tanto pelo trabalho ou “status”, mas pelos proventos que recebia, pois, apesar de diminutos era o que abastecia nossos pratos.

A atividade consistia em ouvir a Rádio Clube de Ourinhos (uma da Emissoras Coligadas), e anotar  tudo o que a estação de rádio veiculava, desde as canções até os comerciais anunciados. 

Muitas vezes acordei durante a madrugada e lá estava ela, fazendo suas anotações, com o rádio em volume mínimo, para não nos acordar. Ficava curvada sobre a mesa, feito uma santa, com os olhos bem pertinho da folha, a caneta deslizava suavemente sobre o papel, quase sempre, acompanhando o ritmo da canção, feito uma bailarina de caixinha de música.

Assim era sua rotina: criar os filhos, ouvir rádio, cuidar dos afazeres domésticos e trabalhar.. trabalhar.. trabalhar...

Nunca teve contato com o lazer. Nos raros momentos em que a vi sentada era fazendo crochê, para reforçar o orçamento, também.

Eu sabia que ela gostava de frutas e doces... Deve ter passado vontade de comê-los. Viveu tão docemente e se doou tão completamente que não se achava no direito de gastar dinheiro, com “porcarias”, para satisfazer suas próprias vontades. 

Ah, como eu queria voltar no tempo para lhe oferecer todas as mangas, bananas, abacaxis e melancias, quantas possíveis. Ela não comeu suficientes doces, ela não “curtiu” suficientes descansos.

Que mulher de fibra era Dona Conceição. Guerreira, imponente, respeitável, amável e bonita, muito bonita! Agradeço a Deus, todos os dias, por ter nascido filho de um ser tão especial.

Eis que encontro, na internet, uma eleição para escolher a “Mulher do Século”, confiro a lista e vejo: Jaqueline Kennedy ou Onassis, ou sei lá quantos sobrenomes teve, Rainha Elizabeth, Margareth Thatcher, Princesa Diana entre outras banalidades e não vejo o nome de Dona Conceição! Nesse instante percebo o quanto a mídia é desinformada e burra.

 Ela foi exemplo de mulher, essa sim “A Mulher do Século”. A mulher do meu século, a mulher dos dezesseis filhos, a mulher do coração tão grande quanto a maior bondade que existe no mundo.

Deus a levou em 92, e tenho certeza que, quando chegou ao céu, sobre um grande tapete vermelho, salpicado de estrelas douradas, foi recebida por um cortejo de anjos, trazendo em mãos uma maravilhosa cesta de frutas e um grande pacote com algodão doce colorido!

Acredito que virou Santa, só pode!


AS MESMAS MANHÃS


- Hei amigo! Você poderia nos dar uma mãozinha para descer um cofre para o andar de baixo?

Olho para trás e percebo, do outro lado da rua, um sujeito alto, magro, com um horroroso cabelo pigmaleão e um bigodinho sem graça, acompanhado de um senhor, de meia idade, com sotaque português. Me surpreendi com aquela interpelação, primeiro por não conhecer o sujeito e, também, pela sua cara de pau. Educadamente me propus a ajudar aqueles dois infelizes.

O que eu não sabia é que o cofre pesava uma tonelada e meia, sem contar que teríamos que descê-lo por uma escadaria, exageradamente, inclinada e em zique zaque ainda por cima. Não é preciso dizer que demoramos mais de três horas para descer aquela imundície. A vantagem, talvez única, é que me esqueci do frio congelante. Chequei a imaginar que receberia uma boa gorjeta pela ajuda, porém, descobri que aqueles sujeitos estavam mais “quebrados’ que eu. No final ganhei um obrigado, pelo menos!

O tempo passou e, muitas vezes, cruzei com aquele magrelo, feio, pelas ruas da cidade. Nunca perdi a vontade de xingá-lo, por princípios, não o fiz. O que percebi é que se tratava de uma pessoa de extrema simpatia que andava pelas ruas distribuindo sorrisos, aos montes, pra todo mundo.

Ele seguiu seu caminho e eu segui o meu. Tornou-se garçon de pizzaria. Eu, funcionário de uma grande empresa de energia. Quase concretizei minha "vingança" no dia em que fui cortar a luz de sua residência. Não deu. Esbanjando sorrisos e simpatia, pediu desculpas pelo atraso e, apresentou a fatura paga. Firmamos amizade depois disso.

Posteriormente sentamos e conversamos sobre a aventura do cofre - sobre a vida. Descobrimos que somos seguidores de doutrinas diferentes, porém, filhos do mesmo DEUS. Descobrimos que somos sofredores do mesmo Palmeiras. Ele lembrou que eu também usava cabelo pigmaleão, e que não era menos feio que ele. Rimos muito, principalmente, da atual e evidente ausência, das vastas e horrorosas cabeleiras (aquelas do pigmaleão).

Batalhador e empreendedor sem demora montou seu próprio negócio e devido a sua extraordinária capacidade de comunicação, naturalmente, foi para o rádio onde é campeoníssimo de audiência e referência para todos nós. 

Se durante uma etapa de nossas vidas acordamos cedo, aos domingos, para assistir as vitórias do Airton Senna, hoje, aproveitamos as mesmas manhãs, dos mesmos domingos, para ouvir o programa do Benício. Grande Benício!

Benício da Vale do Sol, Benício da Bayuca, Benício da Dona Mara, Benício do “Domingo sem Compromisso”, Benício do “Álbum de Saudades”, Benício da sinceridade no olhar, Benício da alma com as bordas recheadas com cheddar dourado!

Tenho orgulho de tê-lo como amigo! E caso ele precise de ajuda para descer, um cofre, por alguma escadaria da vida é só me chamar que eu vou!


Simplesmente passar!



Quem passou por essa estrada e não contemplou suas paisagens;

Quem passou por essa estrada e não procurou outras saídas;

Quem passou por essa estrada e não teve coragem de seguir em frente;

Quem passou por essa estrada e não percebeu que quanto maior a escuridão maior foi o brilho das estrelas;

Quem passou por essa estrada e não percebeu que após o temporal um lindo sol se abriu;

Quem passou por essa estrada e não deu ouvidos aos gritos de suas placas;

Quem passou por essa estrada e não teve tempo de descansar sob suas sombras frescas;

Quem passou por essa estrada e não saboreou os frutos às suas margens;

Quem passou por essa estrada e não estendeu a mão aos caídos;

Quem passou por essa estrada e não percebeu que havia outros, indo e vindo;

Quem passou por essa estrada e não viu, ao longe, o lindo horizonte azul;

Quem passou por essa estrada e não fez sequer uma amizade;

Quem passou por essa estrada e não amou, simplesmente passou por essa estrada! Só!