segunda-feira, 29 de outubro de 2012

QUEM FOI BEETHOVEN?


 Sou do tempo em que, literalmente, se escrevia textos com a ponta da caneta.

 Hoje, adaptado às tecnologias, digito textos - simplesmente digito textos, eu disse!

 Ganhei em agilidade, porém, o corretor automático, dentro dos editores de textos, me tirou a oportunidade de pesquisar palavras no Aurélio, bem como, recorrer à enciclopédia para dirimir dúvidas. Sem contar o distanciamento dos livros de gramática para compreensão de possíveis e naturais erros ortográficos.

 Essa “comodidade”, apesar de positiva tende a nos transformar em autênticos “burros” funcionais.

 Com relação ao assunto, que ora discorro, lembrei-me de um acontecimento ocorrido há muito tempo.

 A empresa em que eu trabalhava necessitou de uma moça para a função de auxiliar de escritório. O salário era uma miséria, por isso, apareceram apenas duas candidatas. 
Uma era bonita, gostosa, voz orgástica feito locutora de aeroporto. A outra era mais feia que o capeta chupando manga debaixo de um guarda-chuva, comprado no Paraguai, além de fanhosa!

 Meu patrão pediu para que eu aplicasse uma provinha para as jovens. Na verdade, a prova consistia em responder uma única pergunta: “Quem foi Beethoven?” – somente isso! O objetivo era, apenas, verificar a redação das moças.

 As respostas estão relatadas da maneira em que foram escritas.

 A feia, que se chamava Cleusa, escreveu o seguinte: “Beethoven, na verdade, se chamava Ludwig van Beethoven, foi um compositor alemão de música erudita. Sua personalidade forte o transformou no típico gênio que vive a margem da sociedade. Suas obras estão entre as maiores de todos os tempos (especialmente sua 9ª Sinfonia e obras posteriores)”.

 Priscila, a gostosa, respondeu: “Betovi foi um caxorro da rassa São Bernado que trabalhô num filme”.

Adivinha quem o Moisés Moya contratou? Isso mesmo, a Priscila!

 Revoltado, fui falar com o Moisés, o qual justificou sua, errada, escolha:

- João, para os “errinhos” da Priscila o editor de textos dará uma ajuda, mas, para a feiura da Cleusa não há, no mundo, um corretor automático que possa dar jeito!

Fui obrigado engolir!

sábado, 27 de outubro de 2012

DENTRO DO CORAÇÃO!


 Há muito tempo ouvi uma estória que dizia: Deus quer tirar férias.

 Procurei nos sites de busca essa fábula, porém, não a encontrei. 

 Não sei quem é o autor, nem o título dessa estória, portanto, vou tentar transcrevê-la da maneira que guardo na memória!

 Além de interessante a estória sugere reflexões profundas sobre onde procurar Deus:


"Contam que Deus resolveu tirar férias. Convocou sua Corte Celestial e disse:

- Vou tirar férias!

 A Corte não entendeu: - Mas Senhor, quem irá atender as lamentações que aqui chegam? Os problemas da humanidade Senhor?

 Ele disse: - Arquive todos os problemas que aqui chegarem e, quando voltar, resolverei.

- Mas tem um problema: 

- Eu preciso que vocês me indiquem um lugar onde devo passar as minhas férias.

Levantou-se um anjo e disse:

- Senhor Deus, passe as férias na Lua, é lindo e calmo, ninguém irá incomodá-lo.

Falou o Senhor: 

- Não, daqui a alguns anos, americanos e russos irão descobrir a Lua e aí, vai acabar o meu sossego;

Levantou-se outro anjo e disse:

- Senhor, passe suas férias nas Ilhas do Caribe, é o lugar mais baixo da Terra, é lindo e ninguém irá incomodá-lo.

Ele disse: 

- Não, daqui a alguns anos, um tal de, Jacques Cousteau vai descobrir aquilo lá, aí acabará o meu sossego.

Havia lá um anjinho, brasileiro, trabalhando na limpeza, do salão celestial, que interferiu:

- Senhor Deus permita que eu fale. A Corte não queria deixá-lo falar! Onde já se viu um anjo brasileiro falar na Grande Reunião da Corte Celestial?

O Senhor ordenou: - Calma, deixe-o falar!

O anjo brasileiro ponderou:

- Senhor, passe suas férias no coração do homem, assim, quando alguém precisar falar com Deus estará mais fácil."

 A proposta foi acatada, por unanimidade, pela grande Corte Celestial! 

Desde então, Deus passou a morar no coração do Homem.

 Portanto, quando estiver triste, angustiado, derrotado e deprimido - converse com Deus - ele está dentro de cada um de nós!

Dentro dos nossos corações!

sábado, 13 de outubro de 2012

FRAGMENTO DE UMA CARTA DE AMOR


 Encontrei jogado na calçada, perto da igreja matriz, um pedaço de papel rasgado e amassado. Trazia um sutil tom rosa como cor predominante, além de motivos florais e borboletas nas bordas. 

Percebi ser a parte inferior da folha que costumamos chamar de rodapé.

 A caligrafia traçada no pedaço papel era delicada, seguramente feminina e possivelmente de uma adolescente. Essas suposições se concretizaram quando li a identificação do bilhete.

 Afirmo, sem medo de errar que a jovem escreveu naquela folha de diário uma carta de amor, pois a frase final, única que restou do papel rasgado, era direta e recheada de sentimento:

“Eu só queria que você soubesse que eu te amo, Juninho”!  Ass. Letícia - 8ª B.

 Nossa, um discurso de quem ama! Que raridade!

 Possivelmente, a Letícia, não quis “pagar mico”. Acabou por rasgar e amassar aquilo que havia saído de dentro de seu coração... Teve medo ou vergonha... Sufocou seu sentimento mais sublime.

 Hoje, nossa mente, embotada, proíbe que externemos nossos melhores sentimentos, nossos melhores amores, nossos melhores corações. Acabamos rasgando e amassando o que o amor deixa escrito em nossa alma.

- E por que isso?

 Ficou fora de contexto dizer que ama... E quem ama, por pura insegurança, sente medo de colocar pra fora... Medo de ser zoado, zombado, rejeitado, depreciado, ou, deletado.

 Prefere-se, hoje, a frieza da relações banais e inconclusas de redes sociais - novas tecnologias de comunicação que, além de desunir pessoas, e separar corações, cometeu aquilo que considero um crime inafiançável: desintegrou as relações afetivas - deixou do lado a quentura do abraço!

Pô, Juninho, a Letícia só queria que você soubesse que ela te ama e, o que é mais definitivo: eternizou o sentimento na delicadeza da caligrafia floreada a esferográfica!

Imagina, Juninho, que legal seria você fazendo parte do mundo dessa menina amorosa e recheada de sentimentos, o mesmo sentimento que o bilhete rosa esculpiu.

 Troca uma ideia com ela, "mano", nem que seja pelo "WhatsApp".

Você é que está certa, Letícia: ame, ame muito, ame sempre... Deixe-se levar pelo coração.

Ah, Letícia, se não der certo, tudo bem - ame de novo... Mas jamais torne a rasgar em "não" o que seu coração escreveu em "sim"!


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

DONALOU - UMA NOVA FLOR


Somos saudosistas! O que frequentemente nos leva a revisitar o passado.

 Alguns especialistas afirmam que isso não é legal e que, as recordações de algum mau momento, remorso ou desilusão poderá nos remeter a comportamentos depressivos. Em controvérsia, outros catedráticos, teimam em dizer que é positivo esse “to go back” para correções de possíveis falhas futuras, para a formação do caráter ou para resgatar lembranças de pessoas positivas em nossas vidas.

 Como esse “papo” de filosofia de almanaque não nos leva a lugar nenhum, vamos ao que interessa!

 Minha última professora de português, que conheci a menos de vinte e cinco minutos, desfila, aos meus olhos, e da Flávia também, como uma pessoa de extrema simpatia, confiável, que deixa um rastro de luz por onde passa. Tá certo que seu conhecimento de gramática, literatura e capacidade de relacionamento humano, inevitavelmente, hipnotiza, aglutina, soma, acrescenta e acaba por, involuntariamente, gerar um grande fã-clube.

 E qual o motivo de tamanha idolatria se, em nenhum momento de nossas vidas, tivemos contato com a Professora Luzia?

 Se no presente passado, não tivemos contato – será que nos encontramos no passado, presente em vidas anteriores? Talvez eu encontre essa resposta lendo Alan Kardec ou até mesmo Chico Xavier.
 Enquanto não mergulho na doutrina espírita, para encontrar a explicação desse nosso fanatismo por Donalou, prefiro me apegar numa citação reflexiva que li não lembro onde e nem quem a escreveu:

“Nossa vida é um imenso jardim! Todos os dias nasce, nele, uma nova flor”!

Donalou é, seguramente, a mais nova flor!

Tá explicado!


terça-feira, 9 de outubro de 2012

DO CALHAMBEQUE AO CAMARO AMARELO


 É fato! Brasileiro é apaixonado por carros. Uma paixão desmedida que extrapola qualquer tese explicativa. As brigas, no trânsito, tem outro motivo que não seja: “Bate na minha cara, mas, não encosta no meu carro”. Já prestaram atenção no vizinho da frente, há mais de 3 horas alisando seu Chevette 75, com cera Grand Prix, depois de ter consumido mais de cinco metros cúbicos de água para lavá-lo?

 Pois bem, essa paixão pelos “possantes”, há muito virou inspiração para compositores registrando-a em prosa e versos.  Os sertanejos “raiz”, mesmo que seu meio de transporte não fosse motorizado, falavam saudosos de seus carros de boi, carroças e de seus alazões.

 Porém, foi Roberto Carlos o precursor de tudo. Após ter deixado seu Cadillac (pouco chique? fala a verdade!) na oficina para conserto, se viu obrigado a sair, envergonhado, pelas ruas, com um Calhambeque por qual apaixonou-se e recusou devolvê-lo.

 Eduardo Araújo, o “bom”, mesmo não definindo com que carro estava, dizia que o mesmo era vermelho e não usava espelho para se pentear, desceu a Rua Augusta a 120 por hora e, além do excesso de velocidade, ainda cometeu outra meia dúzia de infrações de trânsito.

  Almir Rogério estressou-se com sua namorada. Ela foi vista bêbada, em um Fuscão Preto, que tinha um ronco maldito (possivelmente escapamento Kadron).   Era feito de aço, mas deixou seu peito em pedaços (essa foi pior do que apertar o saco com alicate). E olha que esse Fuscão Preto tocava, dia e noite, em todas as rádios AM/FM do Brasil, e também, nos toca-fitas Road Star “auto reverse”.

 Marcelo Nova protestou brabo contra a ditadura militar. Além de privar a liberdade, fizeram pior: Acabaram com o “Simca Chambord”. Essa é sem dúvidas uma verdadeira obra de arte. Fala dos “anos de chumbo”, da juventude da época e do desaparecimento do espetacular Simca.

 Raul Seixas falava da decepção ao ter alcançado um objetivo: Seu Corcel 73. “Foi tão fácil conseguir, agora eu me pergunto, e daí?" Sinceramente, foge da minha alçada, e inteligência, a tentativa de explicação do “Ouro de Tolo” do Raulzito.

 Os mais bem humorados foram sem dúvidas os “Mamonas”. Essa banda colocou a “mina” dos cabelos “da hora”, do corpão violão e mini-saia, dentro da espalhafatosa Brasília Amarela, e desceram a serra para se amar, pelados, no litoral paulista. Gostei dessa!

 Agora aparece um monte de gente cantando canções consumistas, com uma diversidade tão grande de carros, que acabaram perdendo a ternura, senão vejamos: Dodge Ram, Land Rover, Camaro Amarelo e até a descartável Fiorino foram inseridas nessas melodias que, apesar do tom jocoso e do bom humor, ouvi-las é dose pra elefante!

Por favor, desliguem o rádio!

sábado, 6 de outubro de 2012

A ESCADA DE DEUS!


 Quem conheceu meu pai, em Santa Cruz ou Ourinhos, onde viveu, pôde perceber que se tratava de uma pessoa extremamente orgulhosa e um tanto sistemática. Eu diria que ele nasceu para conduzir - não para ser conduzido.

 Já em fase terminal, com o câncer (maldito, câncer!!) em estado avançadíssimo, ele ficou alguns dias na minha casa. Seu corpo estava frágil, pesando pouco mais de trinta quilos.

 Sem condições de se locomover, numa das vezes que peguei-o no colo e o levei para o banho... `Percebi profunda tristeza em seu olhar, precisando ser carregado. Apesar do corpo fragilizado estava lúcido e um comentário foi inevitável:

- Meu Deus! A que ponto cheguei?

Ao vê-lo, naquele estado, confesso que chorei por dentro! O imaginário insistia em fazer o “download” do que ele havia sido.

 Demos o banho e o levamos para o quarto onde, entre fraldões e encostos de cabeça, ele contou seu sonho da noite anterior.

Feliz, disse que tinha ido para o céu e que Deus o levara para passear por entre imensos jardins, flores e cascatas. Contou que havia encontrado minha mãe e que depois de um demorado abraço caminharam por um longo tempo.  Falaram dos filhos e um monte de coisas. Um pouco mais adiante, juntou-se a eles, meus avós. Contou isso com ares de felicidade. Disse, ainda, que era um lugar de profunda paz, sem doenças nem falsidades e que o silêncio, daquele lugar, permitia ouvir o barulho das flores desabrochando.

- Como fez para chegar lá? Perguntei!

 Ele disse que Deus estendeu uma grande escada extensível, iguais as que usamos na Copel e, após o passeio, desceu pela mesma escada... Falou isso, esboçou um leve sorriso e adormeceu.

Passada uma semana, no Hospital Manuel de Abreu de Bauru, ao vê-lo respirando com dificuldades, minha cunhada contou que ele esboçou um sorriso e adormeceu. Subiu a escada extensível, novamente, pensei comigo!

Engano meu, por volta do meio-dia, daquele 21 de dezembro, Deus recolheu a escada, preferiu que o Zé Queixinho ficasse ao seu lado, para a eternidade! 



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

UM TREM PARA AS ESTRELAS


 Em 1954, em busca de dias melhores, Maria e Alberto decidiram deixar Santa Cruz.

 Foram para a capital paulista (terra das oportunidades). Levaram além dos 11 filhos, as malas de eucatex cheias de sonhos e esperança.

 Embarcaram no trem das oito e meia, numa noite chuvosa e triste. Tão triste quanto deixar a cidade que amavam – Santa Cruz do Rio Pardo!

 O apito choroso do trem anunciou a partida. Os filhos ainda crianças, com olhinhos brilhantes, ainda colocaram a cabeça para fora da janela e viram que, quanto mais o trem se afastava, mais as luzes de Santa Cruz diminuíam, ofuscadas  por gotas de chuva. O Rio Pardo, como quem se despede,  seguiu os vagões por um longo trecho, até que o trem desapareceu na escuridão e o rio Pardo, entristecido, silenciosamente  seguiu seu curso.

 Chegaram à Estação da Luz pouco antes das nove da manhã. Caía uma garoa fina e gelada. Estranharam o tamanho da cidade. Assustados, pensaram em embarcar no primeiro trem de volta, decidiram que não! Talvez o dinheiro no bolso não fosse suficiente para comprar as passagens de volta.

Pensaram: guerreiros não fogem da luta – e ficaram. Reiniciar a vida, num mundo estranho, era urgente e preciso!

 Entre carros e edifícios foram se embrenhando naquele monstro de concreto armado e nunca mais voltaram para Santa Cruz, ou melhor – voltaram sim, em raros passeios. Após isso os trens de passageiros deixaram de existir.

 Passaram os anos e não enriqueceram. Decepção? Não! As dificuldades enfrentadas os tornaram ainda mais unidos. Acredito que tenham sido felizes!

 Tristezas tiveram muitas, mas a perda da filha Marivelce doeu mais profundo, uma ferida que jamais cicatrizou! Lutaram a vida toda e a riqueza procurada deu lugar à riqueza de espírito, de união e de amor à família.

 Tia Maria e Tio Alberto foram isso: lutadores e família, mesmo contra a força dos ventos, das decepções e da garoa gelada que esteve sempre presente.

 A grande lição ficou gravada nos nomes que colocaram nos filhos, todos iniciando a grafia com o prefixo “mar”: Marlene, Marly, Márcia, Marílvia, Maria Amélia, Marisa, Mário, Marilda, Márcio, Marci e Marivelce.  Talvez tenham pensado no infinito do MAR, ou, com isso, simplesmente conjugado o verbo “aMAR”!

 Dizem que os trens para o interior voltarão a circular. Tarde demais! Tia Maria e Tio Alberto, foram chamados por Deus, e embarcaram, já há algum tempo, num trem para as estrelas!