quarta-feira, 3 de outubro de 2012

UM TREM PARA AS ESTRELAS


 Em 1954, em busca de dias melhores, Maria e Alberto decidiram deixar Santa Cruz.

 Foram para a capital paulista (terra das oportunidades). Levaram além dos 11 filhos, as malas de eucatex cheias de sonhos e esperança.

 Embarcaram no trem das oito e meia, numa noite chuvosa e triste. Tão triste quanto deixar a cidade que amavam – Santa Cruz do Rio Pardo!

 O apito choroso do trem anunciou a partida. Os filhos ainda crianças, com olhinhos brilhantes, ainda colocaram a cabeça para fora da janela e viram que, quanto mais o trem se afastava, mais as luzes de Santa Cruz diminuíam, ofuscadas  por gotas de chuva. O Rio Pardo, como quem se despede,  seguiu os vagões por um longo trecho, até que o trem desapareceu na escuridão e o rio Pardo, entristecido, silenciosamente  seguiu seu curso.

 Chegaram à Estação da Luz pouco antes das nove da manhã. Caía uma garoa fina e gelada. Estranharam o tamanho da cidade. Assustados, pensaram em embarcar no primeiro trem de volta, decidiram que não! Talvez o dinheiro no bolso não fosse suficiente para comprar as passagens de volta.

Pensaram: guerreiros não fogem da luta – e ficaram. Reiniciar a vida, num mundo estranho, era urgente e preciso!

 Entre carros e edifícios foram se embrenhando naquele monstro de concreto armado e nunca mais voltaram para Santa Cruz, ou melhor – voltaram sim, em raros passeios. Após isso os trens de passageiros deixaram de existir.

 Passaram os anos e não enriqueceram. Decepção? Não! As dificuldades enfrentadas os tornaram ainda mais unidos. Acredito que tenham sido felizes!

 Tristezas tiveram muitas, mas a perda da filha Marivelce doeu mais profundo, uma ferida que jamais cicatrizou! Lutaram a vida toda e a riqueza procurada deu lugar à riqueza de espírito, de união e de amor à família.

 Tia Maria e Tio Alberto foram isso: lutadores e família, mesmo contra a força dos ventos, das decepções e da garoa gelada que esteve sempre presente.

 A grande lição ficou gravada nos nomes que colocaram nos filhos, todos iniciando a grafia com o prefixo “mar”: Marlene, Marly, Márcia, Marílvia, Maria Amélia, Marisa, Mário, Marilda, Márcio, Marci e Marivelce.  Talvez tenham pensado no infinito do MAR, ou, com isso, simplesmente conjugado o verbo “aMAR”!

 Dizem que os trens para o interior voltarão a circular. Tarde demais! Tia Maria e Tio Alberto, foram chamados por Deus, e embarcaram, já há algum tempo, num trem para as estrelas!


5 comentários:

  1. Você é grandioso Marreco,

    Descrever a luta dos tios é coisa de gente de bem. você merece minha admiração!

    Minucci

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  2. Fantástica sua narrativa!!!!! Você acredita que embarquei nessa viagem junto com você? Você sabe muuuuiiiito!!!! Escreva um dia qualquer, algo sobre o possível encontro com nossos pais na eternidade, é apenas uma sugestão, pois sei que você é o cara!.... e vai arrancar muitas lágrimas e emoções contidas no meu coração

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  3. Desculpe, esqueci de me identificar no comentário acima, mas acho que você sabe.

    Bjs de quem te admira muito. Dóris....

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. SAUDADES DA VO MARIA.QUE DEUS O TENHA EM UM BOM LUGAR.

    PARABÉNS PELO SEU TALENTO JOÃO NETO.

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