sábado, 25 de fevereiro de 2012

CINCO SENSOS


Eu estava irritado de tanto ouvir falar, dentro da nossa empresa, do tal 5S.  Pra dizer a verdade, eu nunca consegui guardar na memória a relação daquelas palavrinhas japonesas com nossa qualidade de vida e o significado de cada senso. Sempre misturei o que cada uma daquelas palavrinhas (chatas) queria dizer.

Ocorre que a: utilização, ordenação, limpeza, saúde e higiene, e autodisciplina (hã hã em português fica mais fácil) devem estar presentes nas nossas vidas, todos os dias, senão tudo tornará um grande descontrole, improdutividade, bagunça.

Observe que é fácil praticar os CINCO SENSOS.

Utilização: não se apegue a coisas ou objetos que você guarda há anos e nunca usou nem vai usar, pra nada. Roupas, sapatos velhos, abridores de lata - quebrados, faca sem ponta, relógio parado (há anos o desgraçado marca meio dia e vinte e cinco), garfos tortos, alças sem malas e malas sem alças. Jogue tudo isso fora, além de encher o “saco” dá azar. Você verá quanto espaço vai sobrar nos seus armários.

Ordenação: aprenda a guardar as coisas no lugar certo. Gaveta de calcinha não é lugar de salame nem rapadura. Pratos terão que estar, sempre, no lugar dos pratos. Separe os devedês, filmes infantis de filmes adultos, músicos de qualidade não se misturam com artistas que se apresentam no Faustão ou no Gugu, portanto, Oswaldo Montenegro, Germano Matias e Titãs devem estar separados de Michel Teló e Luan Santana, aliás, nem traga esses dois lixos pra dentro de casa. Material de limpeza tem que estar longe do arroz e do feijão. Ganhe tempo com isso. Você encontrará o que quer até no escuro.

Limpeza: tudo deve estar limpo, asseado. Nesse senso é melhor ser direto e objetivo e saber que coisa limpa cheira bem, coisa suja cheira mal - faz mal!

Saúde e Higiene: nada mais abominável que falta de higiene. Higiene é sinal de saúde e saúde é puro bem estar. A falta de higiene e asseio, pelo contrário, reflete decadência. A higiene corporal atrai a falta dela nos apequena. Importante também é a higiene mental. Esteja sempre em paz, trabalhe e viva com alegria, seja feliz!

Autodisciplina: o mais importante dos sensos.  É a manutenção de todo processo. Pratique sempre os 5 sensos e tudo melhorará no seu dia-a-dia.

Para complementar e para fechar o processo agora nos deparamos com os 3R’s, ou seja, reutilização, reciclagem e redução:

Reutilização: é o reaproveitamento, é utilizar algo aparentemente sem aplicabilidade, ex.: folhas de relatórios ou ordens de serviços concluídas e que estão impressas em apenas um dos lados. Use o verso para rascunhos, por exemplo. Viu que legal!

Reciclagem: é mandar para reprocessamento materiais que tiveram esgotadas suas utilidades. Ex.: folhas de relatórios ou ordens de serviços concluídas e que já foram utilizadas no verso como rascunho. Importante lembrar que toda matéria pode ser reprocessada.

Redução: vamos continuar usando como exemplo aquela folha de relatório ou ordem de serviço. Será que tudo que foi impresso teria mesmo que ser impresso? Já percebeu quanto de material nós usamos sem necessidade. Aqui o bom mesmo é usar a consciência. Nada mais!

Podemos até não aceitar ou não praticar os cinco sensos, porém, não estaremos usando o bom senso!

domingo, 19 de fevereiro de 2012

PRECE DE UM ELETRICISTA


Esta semana resolvi homenagear um grande amigo de trabalho JOÃO MÁRIO VIRGILLI.       Ele é o autor desta “jóia” que transcrevo abaixo. Trata-se de uma prece, que relata fielmente o dia-a-dia de um eletricista.

O João Mário é referência para nós dentro da COPEL. Organizado e metódico é o que chamamos de senhor 5S. Esperamos que esse cálculo renal seja expelido e que ele volte a nos ajudar na semana que vem.

João Neto


“SENHOR: Quando o sol despenca por detrás dos morros e as luzes da cidade começam a iluminar as ruas e avenidas é que vejo o quanto me fizeste especial. Um ser fisicamente perfeito e cheio de grandes amigos.

Num pensamento auto comparativo, percebo que à mim confiaste a tarefa de ser um dos mais importantes profissionais que atuam durante a noite para que todos os demais possam ter sucesso em suas tarefas.

É quando, após as dezoito horas, vejo-me só, mas com uma responsabilidade gigantesca que é a de manter iluminada, não uma residência, mas várias cidades: desde um simples semáforo até um enorme Hospital de Clínicas. Desde o Mobral até uma Faculdade de Doutorado. Desde um ranchinho, na beira de um rio, até o Palácio do Governador.

É refletindo neste momento que Vos peço: perdoa-me por ter ignorado o significado deste tão importante trabalho e perdoa, também, àqueles que não sabem disso ou simplesmente não se importam.

Protegei-me Senhor de cabos rompidos quando energizo uma linha impossível de visualizar dentro do tempo determinado, e cubra com Vosso Sagrado Manto aqueles que por ventura estejam próximos desses cabos. Dê sabedoria àqueles que traçam as: metas, condições seguras e saudáveis para que eu possa cumpri-las – conservando sempre o bem maior que é a VIDA.

Dá-me sempre coragem, sabedoria e cautela para que eu possa conduzir o veículo da empresa por entre clientes enraivecidos, favelas mal vistas, buracos, valetas, encruzilhadas, chuvas, raios, granizo, lama, idosos, bicicletas, crianças, etc. e mostra-me, simultaneamente, o defeito da rede para que, depois de solucionado, eu possa energizá-la com a maior segurança possível, evitando que um outro Filho Teu venha a machucar-se.

Faça com que em meio a todas essas atribulações eu encontre tempo, também, para responder ao VHF e ao Q-track  e conceda a honra de poder voltar para casa, para minha esposa e filhos, todos os dias.

Assim seja: AMÉM!”

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O CAIPIRA QUE VIROU SANTO


 -“O que pode prejudicar o, super time, do Palmeiras é ter que colocar em campo seu terceiro goleiro, um jovem inexperiente, Marcos Roberto, para substituir o melhor goleiro do Brasil: Velloso!”

 Realmente, esse comentário de Luiz Augusto Maltoni (o mago da crônica esportiva), naquela tarde de domingo, ratificava o temor dos torcedores palmeirenses. O grande comentarista enganou-se e enganamo-nos todos! 

  O que aconteceu depois é, talvez, a mais espetacular história da carreira de um jogador de futebol. História recheada de grandes vitórias, derrotas, títulos, dramas, risos, admiração, respeito e, por fim, a “canonização”.

  O menino humilde de Oriente, interior paulista, ao ser escalado naquele dezenove de maio de 1996, iniciava sua trajetória pelos campos do mundo.

  Não tenho espaço no papel, nem tinta no cartucho, para descrever suas defesas, a maioria fáceis, outras possíveis, algumas improváveis, muitas inacreditáveis e dezenas de “milagres”.

  Não chamamos de milagre apenas as defesas à “queima-roupa”, as defesas após desvio de trajetória, as defesas em sequência, as defesas de penalidades (principalmente contra o maior rival).

 Chamamos de milagre a unanimidade em um meio contaminado de vermes e parasitas em busca de holofotes, de dinheiro e interesses comerciais. Chamamos de milagre a negativa em desfilar pelos campos da terra da Rainha. 


 Tanto o atleta como o Santo descobriram que a cor do manto sagrado era verde. Preferiu, envergonhado, lutar ao lado dos companheiros, mesmo ganhando três vezes menos, para ajudar a tirar o Palmeiras de divisão inferior.

  Tratava os adversários, torcedores, imprensa, enfim todos, com tamanho respeito e seriedade que o queriam nos seus times, nas suas entrevistas e na suas manchetes.

 Os alvinegros (todos) sonhavam em ter o Santo defendendo seus redutos. Apenas os tricolores,  fingiam não querê-lo, pois, alardeavam possuir um beato dentro de casa.

 Falhas é claro que houve, mas o saldo credor as fez passar despercebidas. Foi derrotado algumas vezes, mas nunca se deu por vencido. Sincero afirma ter sido derrotado pelas contusões, suas dores e complicações. O coração palmeirense o fez pensar, várias vezes, que essas dores pudessem ser suportadas.

 É, Marcos Roberto: o Maltoni estava errado, nós estávamos errados. Não acreditamos que você pudesse substituir, à altura, o MONUMENTAL Velloso. 
 Perdoai-nos – não sabíamos que você era Santo. O nosso: SÃO MARCOS!!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ROMÂNTICO, IMORAL OU BREGA


 Se eu disser que gosto, ou melhor, gostava do cantor Wando é mentira. Nunca comprei nem compraria um elepê ou cd do artista e não o recomendaria a um amigo.

 Mas confesso - já me peguei cantarolando: “Você é luz, é raio, estrela e luar. Manhã de sol...”.

 Ao saber do seu falecimento, antes de fazer qualquer comentário, achei por bem dar uma revisitada em suas “obras”. Algumas verdades e enganos, de minha parte, necessitam de retratação. 

 Sempre o julguei imoral, nem tanto pelas letras de suas canções, que eu mal conhecia, mas pelo artifício vulgar de colecionar calcinhas usadas ou jogar flores para suas fãs - durante as apresentações. Era tudo marketing, descobri.

 Mas voltemos às canções. Aquele compositor que eu sempre julguei banal, brega e sem noção, escrevia - além das canções de consumo popular, rimas pré-fabricadas e sem núcleo filosófico - algumas letras com a delicadeza e sensibilidade de um poeta romântico que lembra, desculpem o atrevimento, Pablo Neruda.

 É sério! E antes que eu seja mandado para a guilhotina me atrevo a transcrever algumas das citações a que me refiro:

 “Toda vez que te vejo, pelos olhos do meu coração, fico    doente de saudade”

 “Te amei suavemente e tão docemente eu me fiz teu rei”

 “No mar de rosas refletindo o céu onde o sol um dia eu vi nascer.   Por trás das pedras, luna de fumaça, e a brisa leve do amanhecer”

 “Posso até flertar alguém por vaidade, abusar um pouco da liberdade. Mas no fundo, eu sei que, a minha metade vive dentro de você!”
  Portanto, caros amigos: Além dos quadradismos, consegui enxergar     requinte nos versos do Wando.
 E para ratificar, deixo pra vocês, duas estrofes da canção “Mordida na maça”.  Veja se não é coisa de gente grande:

“Eu queria me esconder um dia desses

O QUENIANO E O CAIPIRA


 Semana de férias na praia, após as devidas contemplações e “clicks”: da serra, do mar, da areia, da Ilha do Mel ao fundo e das ondas quebrando calmas nos bancos de areia, um cochilinho na esteira era a pedida do momento.

 Eis que, num vai-vem constante, observo um grupo de quenianos... Seria treinamento ao nível do mar? Seria alguma corrida, de fundo, na praia? Ou seria um treinamento apenas para manter a forma e o histórico de vitórias?

 Senti que era hora de registrar o momento - hora de ficar famoso. Preparei minha digital e fiquei esperando o retorno dos atletas.

 Minutos depois, em alta velocidade (alta para nós simples mortais), eles apontam ao longe.... Era hora de botar em prática meu inglês semi-analfabeto, e mesmo correndo o risco de levar um não, sem perder tempo, ataco um dos corredores:

 -One click and me, please?”. Ele entendeu e parou de imediato, e após o registro do momento histórico, para mim, era hora de agradecer o “famoso” fundista: 

 -Gracias! my boy! Com essa salada - quase inglês/quase espanhol - deixei escorrer todo meu analfabetismo, mesmo assim, o atleta gentil fez aquele gesto característico de unir as pontas dos dedos indicador e polegar! Eu entendi OK...  Minha filha, ao contrário, afirmou que o gesto era para me mandar tomar...

 A verdade é que ele continuou seu treinamento, sem olhar pra trás, e seguiu litoral afora desaparecendo por entre os guarda-sóis!

 Posteriormente, descobri que estavam se preparando para a CORRIDA DO SOL – CIRCUITO PRAIAS, às dezoito horas daquele dia. Na manhã seguinte, vejo no jornal local o resultado final da corrida. Dá pra adivinhar quem cruzou a linha de chegada em primeiro? Ele mesmo, o corredor famoso do “VSF”, Edwin Kipsang, no lugar mais alto do pódio.

 Esse momento entra para sempre nos meus registros particulares, e também para a posteridade, por que não?

Esse mesmo corredor, ganhou a São Silvestre no ano seguinte... Tirar foto comigo fica famoso, mesmo! kkkk


OBJETOS VOADORES IDENTIFICADOS


 Semana de férias: praia, sol, mar, camarão à paulista, poses, fotos, biquínis, além de muita areia no fundo da cueca e também sobre os lençóis. O apito dos salva-vidas alertava os desavisados da violência das ondas.

 Entre mergulhos e cochilos, volta e meia, um objeto voador motorizado realizava rasantes a menos de trinta centímetros de nossas cabeças. E não eram apenas ultraleves e paramotores. Monomotores arrastavam faixas de propaganda, jatos decolavam de Paranaguá sentido Curitiba, deixando além do risco branco no céu um barulho similar ao do secador de cabelos. As gaivotas e quero-queros se misturavam aos planadores com seus vôos silenciosos.

 Porém, a aeronave que mais me causou, ou melhor, me causa inquietação é o helicóptero. De todas as máquinas voadoras, motorizadas, é a única não alada. Ele desafia toda e qualquer lei da física, pra ser sincero, desafia até Sir Isaac Newton.

 Os helicópteros, pelo seu design, não possuem qualquer recurso aerodinâmico. Trata-se de um bloco em metal que, quando em queda, despencam na vertical. E se as hélices estiverem girando, quando dessa queda, caem em parafuso.

 Proporcionalmente os helicópteros parecem um girino gigante, que na metamorfose esqueceram de ejetar suas caudas, e ainda enroscaram um cata-vento na nuca. O motor parece que vai apagar a qualquer instante, imitando em muito, o motor de um engenho de moer cana.

 Podem me convidar para saltar de para-queda, pular de “bungee jump”, voar de balão ou deslizar em uma tirolesa.  Mas entrar em helicóptero nem amarrado. Ulisses Guimarães e Severo Gomes, entraram numa máquina dessas em outubro de 1992 e ainda não voltaram para contar a história. Em política e helicóptero é melhor que não embarquemos, nunca. Os dois tendem a nos derrubar, sem contar que, vez em quando nos faz desaparecer!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

BRINQUEDOS


 O Arnaldo, eu (João) e o Lelo (Ulisses) somos os filhos mais novos do José e da Conceição. O Lelo nasceu em 1958, eu em 60 e o Arnaldo em 62, uma diferença de apenas quatro anos entre nós. É natural, portanto, que a gente tenha compartilhado, quase todos momentos da infância e adolescência.

 Quando ainda éramos muito crianças, ganhamos de presente, de Natal, de nossos pais, três brinquedos, respectivamente: um trator, um jeep e um trenzinho. Que alegria deliciosa! Ficamos dias brincando com os presentes em volta da casa onde morávamos.

 O que não sabíamos, aliás, não tínhamos nem noção,  é que aqueles seriam os últimos presentes de Natal que ganharíamos de nossos pais, afinal, o José estava passando por dificuldades financeiras seriíssimas, praticamente “roendo o osso”.

 O tempo passou e a pobreza nos acompanhou durante anos. Muito cedo fomos à luta. Vendemos salgados, catamos sucatas de cobre nas ruas, fomos leiteiros, engraxates, até pacotes de peras vendemos para um vizinho, senhor Getúlio.

 Tempos depois, mais crescidos, debutamos em empregos específicos dos jovens pobres: eu me tornei auxiliar de serralheiro, o Arnaldo cobrador de uma vidraçaria e o Lelo foi vender frutas no caminhão do Renato (aquele que vendia barato!).

 Uma coisa é certa, tivemos uma base de estudos muito boa, no tempo em que o ensino público era levado a sério e os alunos respeitavam seus mestres. O Arnaldo estudava no Sesi, enquanto eu e o Lelo estudávamos no Grupinho.

 Algum desavisado, algum dia, deve ter questionado: - Como que será o futuro desses três?

 Pois então, tomo a liberdade de retratar o que foi feito de nós:

 O Arnaldo (o mais intelectual e craque de bola) comeu pedra, superou barreiras  sem clamores.  Tornou-se bancário, fez carreira na Caixa Federal. Casou-se com Estela, mulher de fibra, tiveram  três filhas adoráveis: Daniele, Ana Paula e Natália.  Tão bonitas - quanto educadas.

 O Lelo (o mais extrovertido) iniciou carreira na Prefeitura de Ourinhos. Inicialmente como jardineiro de beira de estrada, depois motorista. Numa das tarefas como motorista, foi indicado para levar o juiz de direito da comarca local para uma conferência em São Paulo. Tornou-se a partir daí o “fiel escudeiro”, parceiro, cúmplice e amigo do Doutor Holgado. Estão juntos a mais de 20 anos. Ditinha é sua grande companheira e dessa união nasceu Roberto e Tânia. Humildes, inteligentes e bem encaminhados.

 E eu (o mais perseverante e mais irrequieto), fui serralheiro (dos bons), bancário, caminhoneiro, entre outras atividades. Hoje, técnico eletricista comercial e de manutenção de média e alta tensão. Trabalho na Cia Paranaense de Energia, pai de dois filhos espetaculares, de inteligência invejável -  o Rafael (estudante de sistema de informação na Uenp – Campus Bandeirantes) e da Bruna (estudante de matemática na Universidade Federal Tecnológica do Paraná – campus Cornélio Procópio).

 Casei-me pela segunda vez, com Flávia, companheira do recomeçar do zero, companheira de luta, parceira no mesmo coração. Trouxe com ela outras duas jóias:  o João Neto e a Brenda. Aliás, a Brenda e o Rafael estão misturando as estações, mais isso é assunto para o próximo capítulo!

 Fica a expectativa de que, se em algum dia, os netos do Arnaldo, do Ulisses e do João sentarem para brincar com um trator, um jeep e um trenzinho e resolverem falar sobre os avôs, certamente, dirão: - Eles foram três vencedores!!! 

 E foram mesmo!

A VACA DO TUNIQUIM


 Morei durante algum tempo de minha vida numa cidadezinha com cerca de quatro mil habitantes, na beirada do Rio Cinza, no norte do Paraná.
 Era um lugar pacato, lugar de gente simples – lugar de gente lutadora – lugar de gente de bem!!

 Como toda cidade pequena, Guapirama também tinha suas particularidades e suas figuras pitorescas. Uma delas era o Tuniquim. Um homem simples, pobre, de estatura baixa, pele morena, tinha os cabelos ralos e ruivos (tipo sarará). 

 Morava sozinho num casebre, sem água e sem luz, perto da bica d’água  do Odashiro. Lá fazia suas abluções, além de lavar  suas roupas e utensílios. Era conhecido por causa de uma vaca, mestiça holandesa, chamada Malhada, animal que ele tratava “na mão” e cuidava com carinho e zelo,  afinal, era  sua única fonte de recursos.

 Essa vaca gerava sete litros de leite por dia, inclusive na época da seca. Todos os dias,  no final da ordenha,  era “batata”: sete litros de leite no balde!

 A produção diária ele entregava para o Zé Bento, que a transportava com sua f4000,  até o laticínio dos Teixeira, em Quatiguá,  juntamente com o leite de outros micro produtores da cidade.

 E assim vivia o  Tuniquim, sempre cuidando da Malhada.  O dinheirinho que recebia, pelo leite, era suficiente para suas despesas pessoais (que eram poucas).

 Pessoas inescrupulosas e maldosas atiçaram o Tuniquim, dizendo que a vaca era preguiçosa e produzia pouco  leite. Uma vaca mestiça holandesa,   feito a Malhada,  tinha que produzir, no mínimo,  15 litros por dia, diziam.  Sugeriram para que ele batesse na teta da malhada antes da ordenha diária.

  Alguns vizinhos, do bem, tentaram demovê-lo dessa idéia, porém, teimoso e ignorante nem ouvido deu. A partir daí a ganância tomou conta daquele matuto, e todos os dias, antes da ordenha ele estapeava as tetas da vaca.
  No início o ato surtiu efeito e a vaca passou a produzir mais 1 litro de leite por dia. Não satisfeito ele passou então a dar chutes na teta da vaca, visando aumentar, ainda mais, a retirada diária.  Essa atitude em vez de melhorar a produção começou a diminuí-la, e quanto menos produzia mais forte ele dava as ”bicudas” nas tetas da Malhada.

 Foi indo, foi indo a vaca parou de dar leite – secou!

 Sem ter mais a produção o Tuniquim acabou por vendê-la para o açougueiro  João Vida. A Malhada virou bife na mesa de meia dúzia de guapiramenses. Deprimido o Tuniquim adoeceu. As pessoas maldosas, com seus conselhos fenomenais, nem notícia!

 Nós, feito o Tuniquim, muitas vezes, somos ludibriados a recolher dinheiro fácil, com propostas mirabolantes de pessoas com índole duvidosa e caráter questionável.

 Reflexão:
 Como estamos tratando nossa fonte de recursos?  Zelamos por ela, para que sempre tenha condições de gerar nosso leite? Ou metemos o pé nas tetas para esvaziar suas úberes?   

 Alerta! 
Cuidemos de nossa vaca, pode não haver tempo para reparações, e também, pode ser tarde para se fazer algo construtivo.

NÃO FUI TRABALHAR


 Desde criança tenho contato com atividades laborais. Já fui engraxate, leiteiro, coxinheiro, guia de cego, balconista, pacoteiro, serralheiro, feirante, bancário e por último eletricista de empresa estatal.
Nunca tive vergonha de nada que fiz, ou de alguma profissão que exerci. Aprendi que pra ganhar dinheiro é preciso ralar o couro.

 Penso que nunca devemos ficar lamentando quando o trabalho não rende o esperado, jamais critiquei a instituição em que trabalhei, e sempre fui seguidor do seguinte princípio: não deu certo aqui, estou saindo e vou tentar melhorar ali.

 Tive que conciliar, durante boa parte da vida, trabalho x estudos, e obviamente, tinha que dividir meu tempo entre escola e serviço. Confesso que sempre fui pontual, assíduo, eficiente, facilitador, enfim, produtivo.  

 Aconteceu um fato, desagradável, quando eu era serralheiro, em Ourinhos, no ano de 76. Eu era (modéstia à parte) um excelente profissional, daqueles indispensáveis no dia-a-dia da empresa. 


 Ocorre que naquela sexta-feira, eu decidi, por conta e risco, que não iria trabalhar, pois queria participar de um torneio de pebolim, num bar recém inaugurado em frente ao Empório Toloto. 

 Eu era um dos inscritos no torneio. Entre as  30 pessoas no local, estávamos eu, o Arnaldo e o Lelo - meus irmãos mais novos. As mesas estavam todas ocupadas. O ambiente como dizem os mais jovens, estava “bombando“ e o torneio “rolando manero”. Eis que chega o meu patrão e pergunta em voz alta:

 - Não vai trabalhar não, João?

 - Eu não estou muito bem! Respondi.

 Ele retrucou: - Como pra jogar pebolim você está bem!

 -É que o médico disse que o jogo é uma terapia, inventei.

 Ele entrou no carro, visivelmente contrariado e retirou-se Rua Brasil abaixo.

 Segunda feira, envergonhado, cheguei cedo na empresa e, com a carteira de trabalho em punho, pedi para o (bondoso) Moisés Moia acertar minhas contas. Ele não aceitou meu pedido de dispensa, adiantou meu pagamento do mês e ainda me deu o resto da semana de folga (eu devia ser indispensável mesmo!).

 Esse fato negativo, pelo menos, serviu pra que eu nunca mais, na vida, perdesse dia de serviço por motivos fúteis.

 Tento diariamente, apagar essa passagem, de minha memória. Mas basta eu encontrar meu irmão mais novo, Arnaldo, e já vem ele com a pergunta fatal:

 - Não vai trabalhar não, João?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

UMA CAIXA DE LÁPIS DE COR

  Especialistas afirmam que 1967 foi o ano das maiores transformações culturais e fatos marcantes da história da humanidade: a morte de Chê Guevara, o primeiro transplante de coração em ser humano - façanha do Dr. Cristian Barnard, o surgimento dos hippies, o início do tropicalismo e etc.. Sem contar a “negra era" da ditadura militar, no Brasil, que fez valer, naquele ano, a rudeza do AI-5 que, privava a liberdade, oprimia pensamentos, açoitava cidadãos e destruía almas.

 E eu, estava onde?

 Bem. Eu era um menino de sete anos, sem nenhum conhecimento do mundo, da política, das pessoas, enfim, de nada... Cursava o primeiro ano primário, no Grupo Escolar Maria Joaquina do Espírito Santo, em Santa Cruz do Rio Pardo... Era pra mim, o primeiro contato com pessoas fora do seio familiar.

 Jamais esquecerei daquele final de 1967, principalmente,  do dia da entrega do diploma de conclusão do 1º ano primário... Era meados de dezembro, a primavera dentro de algumas horas, feito magia, daria lugar ao atrevido e quente verão.

 As mães, juntamente com os formandos, estavam reunidas num grande salão, no pátio do grupo escolar. A diretora anunciava pelo microfone a entrega dos certificados - um canudo branco, amarrado com uma fita de cetim vermelho... Junto com ele, a professora de cada turma, entregaria um presente para o seu melhor aluno.

 Sinceramente, fiquei surpreso e incrédulo quando foi anunciado que na classe da professora Maria Helena eu era o ganhador do presente. Fomos chamados: eu, minha professorinha e minha mãe para irmos à frente. Não me cabia de satisfação pelo presente: uma caixa com 24 lápis de cor... Eu parecia, naquele momento, o dono do mundo.

 Minha mãe, Dona Conceição, abraçou-me bem forte, percebi naquele momento um brilho diferente nos seus, indescritíveis, olhos azuis. Percebi, também, que uma lágrima disfarçou - lágrima de alegria - lágrima de pureza - lágrima de mãe. Ainda houve tempo para que eu ganhasse um beijo da professora Maria Helena, acompanhado de um sincero: parabéns!

 Pegamos os presentes e entre aplausos nos retiramos do recinto. Lembro até hoje, do canto estridente das cigarras nas árvores centenárias da Praça São Sebastião - pareciam cantar pra nós - enquanto eu e minha mãe seguimos de mãos dadas, por todo o trajeto, até nossa casa, na Vila Joaquim Paulino.

 Hoje, passados 44 anos, não tenho mais idade pra jogar nos times sub 50, nunca mais vi minha primeira professora, nem tampouco meu grupo escolar. E as árvores centenárias? Talvez, tenham sido destruídas pelos cupins. Minha mãe não está mais entre nós, já há algum tempo foi chamada por Deus, virou estrelinha no céu. 

 O que ficou foi a lembrança de um menino, simples e acanhado, que um dia teve o privilégio de voltar para casa, de mãos dadas com sua mãe, levando consigo uma inesquecível caixa de lápis de cor.

PORTA GIRATÓRIA


 Nos meus tempos de bancário, era inevitável não atentar para a discriminação que o sistema impunha aos correntistas de poucos recursos. 

 Correntistas com muito dinheiro, tinham acesso direto à gerência, não enfrentavam fila, a porta giratória não travava nunca. Conseguiam aplicações financeiras com maiores rendimentos e caso necessitassem de recursos, tinham sempre as menores taxas de juros, enquanto os correntistas “baixa renda” (aqueles da conta salário) tinham dificuldades, até, para falar com os gerentes.

 Ainda bem que nossa vida não é como o sistema bancário. Temos a capacidade de tratar todos com isonomia, respeitá-los e admirá-los, independente de posição social ou da quantidade de dinheiro nas suas guaiacas.

 Isonomia! Será que estamos agindo dessa maneira?

 Precisamos, sim, tratar todos com respeito, igualdade e ponderação. 

 Diga bom dia à zeladora da mesma maneira que cumprimenta seu gerente.

 Quando falar com alguém peça: por gentileza, por favor, posso ajudá-lo? Cumprimente os colegas de trabalho, os varredores de rua, os meninos da zona azul, bem como, os clientes bacanas e até seus clientes “chatos”. 

 Procure olhar o lado bom das pessoas, nem que seja um corintiano, afinal, todos nós temos defeitos, porém, nossas virtudes é o que, realmente, conta.

 Respeite seu pai, sua mãe. Reúna sempre que possível, com seus irmãos, se tiver. 

 Encurte distâncias, se houver. Visite velhos amigos. 

 Vez em quando, de uma olhadinha naquele álbum de fotografias antigas. Tenho certeza que relembrará coisas “legais” e até sorrirá do tempo em que usava aquele corte de cabelo diferente, ou melhor, do tempo em que tinha cabelos para fazer cortes diferentes.

 Olhe as coisas, ao seu redor, pelo lado positivo.  Você verá o quanto é bacana esse seu mundo. Ande mais a pé, não deboche das pessoas, nem daquele nome esquisito que você leu na sua relação de clientes - nem que esse nome seja: Antônio Pinto Bicudo.

 Nunca guarde rancores, isso fará mal só à você. Afaste-se de pessoas que  transmitem, apenas, palavras e pensamentos negativos. Se não sentir prazer em ir para o trabalho, está na hora de trocar de emprego. 

Evite bebidas, mas se beber não dê muita conversa ao álcool.

 Acredite no seu trabalho, acredite nas pessoas, acredite na equipe e, acima de tudo, acredite em Deus! 

 Se traçar sua caminhada seguindo esses preceitos, quando passar para o plano superior, certamente, a porta giratória do paraíso, não travará para você!

Acredite!



CARBURADORES



Conheci há cerca de 30 anos, um mecânico de carros chamado Zulmiro... Rapaz jovem, mais ou menos 25 anos de idade. Sua oficina vivia abarrotada de veículos para manutenção.  Zulmiro era especialista em regulagem de carburadores.

 Até as concessionárias mandavam veículos para o Zulmiro, em virtude de sua competência, eficiência e pontualidade...  Fazia a regulagem “de ouvido”, afirmavam. Era o melhor da região, diga-se.

 Ocorre que  os veículos, nos anos 80, passaram a ser produzidos com uma nova tecnologia  de alimentação: a injeção eletrônica! Zulmiro não se deu conta disso, aliás, não acreditou nessa novidade, até desdenhou: 

- Não vai dar certo!

 Teve concessionária que ofereceu ao Zulmiro o curso de injeção eletrônica, na montadora, gratuitamente, incluindo despesas de viagem, hospedagem e alimentação. Ele dispensou o convite, pra dizer a verdade, ignorou sem dar satisfação!

 Passados alguns meses, as concessionárias, por conta da injeção eletrônica, não mais procuraram os serviços do Zulmiro. Acreditava ele que os veículos com carburadores convencionais garantiriam trabalho para o resto de sua vida.

 Os anos se sucederam e os serviços foram diminuindo, paulatinamente... O profissional percebeu intervalos na sua jornada diária.  

Nesses intervalos Zulmiro começou a dar umas fugidinhas até o bar da esquina.

Errada decisão! 

Desmotivado e desanimado tornou-se alcoolista - viciado... Depois de algum tempo, passou a fazer o caminho inverso e, vez em quando, dava umas fugidinhas do bar da esquina para executar algum trabalho.

Iniciou, então, sua coleção de fracassos. 

 Perdeu a confiança e a credibilidade, por consequência,  a freguesia e o trabalho. Vendeu seu carro e sua casa, a mulher foi embora não se sabe pra onde, levando os filhos.

 O último contato do grande profissional com sua oficina, foi  a venda do seu ferramental para um ex-funcionário... O dinheiro arrecadado foi consumido, rapidamente, com os cotovelos  apoiados nos balcões dos bares. 

 Após infindáveis tropeços e internamentos, numa manhã chuvosa,  no mês de sagitário, foi encontrado morto ao lado de um banco de concreto, na praça da Santa Casa. Seu corpo, em decúbito ventral, vestia uma roupa velha, imunda, rasgada  e  com marcas envelhecidas  de graxa. 

 Só não foi enterrado na condição de indigente em virtude de um cartão de visitas, antigo, quase ilegível,  encontrado no bolso de trás de sua calça - com os dizeres: 

"Mecânico  Zulmiro – Especializado  em Regulagem de Caburadores – Avenida da Saudade s/n".


EM NOME DE JESUS !


 Já perceberam a amplitude que tem essa frase: “EM NOME DE JESUS!” 

 Quando a pronunciamos, com o coração, tudo conspira a favor: as portas se abrem, as feridas se fecham, os rancores ficam para trás, as flores desabrocham, a maldade fica esquecida, o amor impera e a solidariedade explode!

 Pois é. Acredito que ela nunca tenha sido tão proferida como nos dias atuais. 

 Basta você ligar a TV, dar uma zapeada e aparece um desses “bispos” criados em laboratório ou, se preferirem, produtos “in natura” da falta de escrúpulos, gritando palavras de ordem e em seguida: - EM NOME DE JESUS!

 Os milagres que eles operam é uma coisa absurdamente fantástica. Por sessão, devolvem a visão à, pelo menos, oito cegos de nascença, seis ou sete paralíticos voltam a andar e ainda desdenham de suas ex-muletas. Mudos retomam a fala, surdos se derramam em lágrimas ao ouvirem pela “primeira vez”. E entre um milagre e outro - gritam: ‘EM NOME DE JESUS!”.

 Outro dia um senhor de 70 anos, mais ou menos, afirmou que após o “bispo” efetuar uma sessão de descarrego no seu cartão magnético, percebeu, que seu saldo bancário estava positivo e que uma dívida de 18 mil reais tinha, simplesmente, desaparecido (esse milagre é novo, fala a verdade!). Olha onde viemos parar!

 Vivemos num país livre, com liberdade de expressão e liberdade religiosa - isso é constitucional. Mas, esses “malacos”, estão abusando da ingenuidade dos mais humildes e duvidando da nossa, já desgastada, inteligência.

 Percebe-se que, durante os cultos, a sacolinha vai enchendo, e eles não satisfeitos, atiçam os pobres fiéis a preencher um carnê de doação mensal, tudo, pasmem, para arranjar um lugar melhor no céu. Ensinam até como se preenche um boleto bancário a favor da igreja, tudo “EM NOME DE JESUS”!

 Em outra vertente, desses exploradores da fé, estão ex-artistas, que, enterrados no anonimato, falidos, velhos, acabados e com a bunda caída - após terem se consumido nas bebidas, drogas e orgias - afirmam que encontraram JESUS, se tornam evangélicos e assinam contrato com uma gravadora gospel (olha que nome chique!). Tudo EM NOME DE JESUS!

 Não podemos excluir desse grupo os padres católicos, pós-modernos, que, com a cara rebocada de pó-compacto e “gloss”, habitam esses programinhas de auditório, de quinta categoria, “gungunando” músicas românticas, se remexendo em dançinhas e palminhas pré-ensaiadas, com as calças enfiadas no rego tal qual os intragáveis “sertanejos universitários”. Tudo, também, EM NOME DE JESUS!

 Em busca de dinheiro fácil banalizaram uma frase, tão sublime, dita a primeira vez por São Paulo (em Colossenses 3:17). 

 João Paulo II, Irmã Dulce, Frei Damião, Frei Galvão, Padre Bernardino, Madre Tereza, Dona Zilda Arns, Padre Cícero Romão, Betinho, entre milhares, não só diziam como viviam essa frase na sua plenitude, passaram por aqui plantando o bem e ajudando o próximo. Esses sim: EM NOME DE JESUS! 

 Eles devem estar envergonhados com tamanha falta de escrúpulos e, em sinal de protesto, devem estar virados de bruços em seus respectivos túmulos!

 Lembre-se que haverá acertos de contas quando do juízo final! 

Tá avisado!


ÉRAMOS TREZE


 Todo dia, por volta das dez e meia da manhã, após ouvirem o horóscopo do dia - com o Omar Cardoso - minhas irmãs mais novas, Regina e Dorinha, iniciavam os preparativos para o almoço.

 Naquela época os mantimentos eram escassos: o arroz era contado, o feijão era contado, o café era contado, enfim, não havia sobras nem desperdícios. Papai trabalhava de carpinteiro e os recursos eram minguados. Só se comprava mantimentos por quilo, portanto, o açúcar que se comprava pela manhã era consumido até o final do dia, afinal, eram treze bocas para comer, dez das quais menores de idade!

 Apesar das dificuldades, havia em nossa casa, respeito, organização e hierarquia, além da disciplina no horário das refeições. Sabíamos, também, das dificuldades para a compra dos alimentos diários.

 Naquela terça-feira, após um temporal assustador durante a madrugada - até as aulas foram canceladas por causa do volume das chuvas.  Ficamos todos em casa. O dinheiro que o Zizo (sempre lutador!) recebera, pelo corte de cana, no dia anterior, foi usado para comprar: meio quilo de arroz, duzentos gramas de açúcar e duzentos gramas de café moído.

 Como de costume a Dorinha ficou incumbida de fazer um bule de café e a Regina o arroz. A Dorinha colocou no fogo a água já adoçada para fazer o café, esperando ferver para passá-la no coador de pano, enquanto isso foi varrer a varanda. A Regina, após arrumar os quartos, veio refogar o arroz. Desatenta, percebe uma caneca com água fervendo na outra boca do fogão e a despeja dentro da panela com o arroz. 

 Dá para imaginar o que aconteceu? 

 Ao ver que a água doce foi utilizada no arroz a Dorinha começa a chorar compulsivamente, a Regina do outro lado grita em desespero: - Que desgraça! Que desgraça! Nós mais novos, também abrimos nosso choro, mas, um choro contido e silencioso! Minha mãe entrou correndo, também desesperada, tentando salvar a refeição do dia. Tudo perdido - nem café, nem arroz! 


Ainda fizeram uma tríplice lavagem para tirar o doce do arroz, nem deu! Minha mãe dobrou o sal e o temperou, outra tentativa frustrada, virou um grude e ficou com um gosto insuportável!

 Naquele dia pensei que minhas irmãs morreriam de tanto apanhar, mas mamãe, sempre justa, sequer ergueu um dedo para puni-las. Diante daquele fato comecei a compreender a grandiosidade do caráter de minha mãe.

 Hoje lembramos daquele ocorrido com bom humor – a miséria ficou pra trás – a fome ficou pra trás - a chuva também passou! E eu, se chorei, já me esqueci!

NÃO ESQUEÇA A MINHA CALOI


 Parece que foi ontem... Ainda guardo na memória um aparelho de tv, Telefunken (branco e preto), de válvulas, que assistíamos na casa do pai do Rá, Sr. Zanutto, quase todas as noites.

Nos intervalos da novela “Irmãos Coragem”, deparávamos com aquele anúncio na frente dos nossos olhos que alimentava nosso sonho de consumo: 

“Não esqueça a minha Caloi”.

Era assim: Um menino escreveu vários bilhetinhos e colou na casa inteira chamando a atenção do seu pai para ganhar a tal bicicleta de presente de Natal. No final do dia a surpresa, uma berlineta Caloi novinha para o menino!

 Era o meu sonho: uma bicicleta Caloi! Não escrevi nenhum bilhetinho, mas confesso, esperei aquele mimo por vários “Natais”.

 Pura ilusão!

 A tão sonhada “bike” nunca veio. Cheguei a esconjurar meu pai, coitado, por não ter realizado meu sonho. Cresci e amadureci, hoje entendo as dificuldades que ele enfrentou para nos criar. O dinheiro, suado, mal dava para nossas necessidades básicas.

 O que aprendi com isso tudo?

 Ficou a lição de que nunca podemos desistir dos nossos sonhos e que, para consegui-los, temos que correr atrás, lutar e perseverar. 

Hoje, seguramente, eu teria condições de comprar muito mais que uma bicicleta.

 Acredito que os meninos de hoje já não sonham mais com uma Caloi, nem mesmo com a noite de Natal. Não sabem o significado dos sonhos e a lição do nascimento de Cristo para suas vidas. 

A prioridade deles baseia-se, exclusivamente, nos games, netbooks, notebooks, tablets, iPad’s, iPod’s, iPhone’s - iKbosta!!!

Sinal dos tempos! 

O IFPR E A CASA DOS MIL ESPELHOS


 Hoje me fizeram lembrar da fábula “A CASA DOS MIL ESPELHOS”. Vou reproduzi-la para vocês:

 “Tempos atrás em um distante e pequeno vilarejo, havia um lugar conhecido como a casa dos 1000 espelhos.  Um pequeno e feliz cãozinho soube deste lugar e decidiu visitar. Lá chegando saltitou feliz escada acima até a entrada da casa. Olhou através da porta de entrada com suas orelhinhas bem levantadas e a cauda balançando tão rapidamente quanto podia. Para sua grande surpresa, deparou-se com outros 1000 pequenos e felizes cãezinhos, todos com suas caudas balançando tão rapidamente quanto a dele. Abriu um enorme sorriso, e foi correspondido com 1000 enormes sorrisos. Quando saiu da casa, pensou: - Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre, um montão de vezes.

 Neste mesmo vilarejo, outro pequeno cãozinho, que não era tão feliz quanto o primeiro, decidiu visitar a casa. Escalou lentamente as escadas e olhou através da porta. Quando viu 1000 olhares hostis de cães que lhe olhavam fixamente, rosnou e mostrou os dentes e ficou horrorizado ao ver 1000 cães rosnando e mostrando os dentes para ele. Quando saiu, ele pensou: - Que lugar horrível! Nunca mais voltarei aqui.”

 Pois bem. Estivemos, hoje, com o João, no Instituto Federal do Paraná, em Jacarezinho, efetuando sua matrícula, no curso de eletromecânica, ano letivo 2012. Confesso que não conhecíamos o lugar e ficamos bastante felizes ao avistarmos, desde o Fórum local, o prédio moderno, imponente e de localização estratégica. 

 Ao adentrarmos na área interna das instalações observamos amplas salas, bem planejadas e arejadas, excelente acesso e com equipamentos modernos em seus interiores.

 Foi impressionante a maneira eficiente com que fomos atendidos desde nosso primeiro contato telefônico, bem como, a boa vontade e preparo dos funcionários para dirimir nossas dúvidas na recepção. Observamos, também, simpatia e rostos carregados de sorrisos enquanto matriculávamos o João.  

 Não houve sequer um funcionário que, ao cruzar conosco pelos corredores, não tenha dito ao menos uma: 'boa tarde'!  Ao sairmos o jardineiro, mesmo com os movimentos limitados pelos EPI's, e o barulho característico da cortadeira de grama, esboçou um leve aceno - desses de quem nos deseja boa viagem!

 Que lugar maravilhoso! Voltaremos sempre que necessário!