sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A VACA DO TUNIQUIM


 Morei durante algum tempo de minha vida numa cidadezinha com cerca de quatro mil habitantes, na beirada do Rio Cinza, no norte do Paraná.
 Era um lugar pacato, lugar de gente simples – lugar de gente lutadora – lugar de gente de bem!!

 Como toda cidade pequena, Guapirama também tinha suas particularidades e suas figuras pitorescas. Uma delas era o Tuniquim. Um homem simples, pobre, de estatura baixa, pele morena, tinha os cabelos ralos e ruivos (tipo sarará). 

 Morava sozinho num casebre, sem água e sem luz, perto da bica d’água  do Odashiro. Lá fazia suas abluções, além de lavar  suas roupas e utensílios. Era conhecido por causa de uma vaca, mestiça holandesa, chamada Malhada, animal que ele tratava “na mão” e cuidava com carinho e zelo,  afinal, era  sua única fonte de recursos.

 Essa vaca gerava sete litros de leite por dia, inclusive na época da seca. Todos os dias,  no final da ordenha,  era “batata”: sete litros de leite no balde!

 A produção diária ele entregava para o Zé Bento, que a transportava com sua f4000,  até o laticínio dos Teixeira, em Quatiguá,  juntamente com o leite de outros micro produtores da cidade.

 E assim vivia o  Tuniquim, sempre cuidando da Malhada.  O dinheirinho que recebia, pelo leite, era suficiente para suas despesas pessoais (que eram poucas).

 Pessoas inescrupulosas e maldosas atiçaram o Tuniquim, dizendo que a vaca era preguiçosa e produzia pouco  leite. Uma vaca mestiça holandesa,   feito a Malhada,  tinha que produzir, no mínimo,  15 litros por dia, diziam.  Sugeriram para que ele batesse na teta da malhada antes da ordenha diária.

  Alguns vizinhos, do bem, tentaram demovê-lo dessa idéia, porém, teimoso e ignorante nem ouvido deu. A partir daí a ganância tomou conta daquele matuto, e todos os dias, antes da ordenha ele estapeava as tetas da vaca.
  No início o ato surtiu efeito e a vaca passou a produzir mais 1 litro de leite por dia. Não satisfeito ele passou então a dar chutes na teta da vaca, visando aumentar, ainda mais, a retirada diária.  Essa atitude em vez de melhorar a produção começou a diminuí-la, e quanto menos produzia mais forte ele dava as ”bicudas” nas tetas da Malhada.

 Foi indo, foi indo a vaca parou de dar leite – secou!

 Sem ter mais a produção o Tuniquim acabou por vendê-la para o açougueiro  João Vida. A Malhada virou bife na mesa de meia dúzia de guapiramenses. Deprimido o Tuniquim adoeceu. As pessoas maldosas, com seus conselhos fenomenais, nem notícia!

 Nós, feito o Tuniquim, muitas vezes, somos ludibriados a recolher dinheiro fácil, com propostas mirabolantes de pessoas com índole duvidosa e caráter questionável.

 Reflexão:
 Como estamos tratando nossa fonte de recursos?  Zelamos por ela, para que sempre tenha condições de gerar nosso leite? Ou metemos o pé nas tetas para esvaziar suas úberes?   

 Alerta! 
Cuidemos de nossa vaca, pode não haver tempo para reparações, e também, pode ser tarde para se fazer algo construtivo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário