sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

BRINQUEDOS


 O Arnaldo, eu (João) e o Lelo (Ulisses) somos os filhos mais novos do José e da Conceição. O Lelo nasceu em 1958, eu em 60 e o Arnaldo em 62, uma diferença de apenas quatro anos entre nós. É natural, portanto, que a gente tenha compartilhado, quase todos momentos da infância e adolescência.

 Quando ainda éramos muito crianças, ganhamos de presente, de Natal, de nossos pais, três brinquedos, respectivamente: um trator, um jeep e um trenzinho. Que alegria deliciosa! Ficamos dias brincando com os presentes em volta da casa onde morávamos.

 O que não sabíamos, aliás, não tínhamos nem noção,  é que aqueles seriam os últimos presentes de Natal que ganharíamos de nossos pais, afinal, o José estava passando por dificuldades financeiras seriíssimas, praticamente “roendo o osso”.

 O tempo passou e a pobreza nos acompanhou durante anos. Muito cedo fomos à luta. Vendemos salgados, catamos sucatas de cobre nas ruas, fomos leiteiros, engraxates, até pacotes de peras vendemos para um vizinho, senhor Getúlio.

 Tempos depois, mais crescidos, debutamos em empregos específicos dos jovens pobres: eu me tornei auxiliar de serralheiro, o Arnaldo cobrador de uma vidraçaria e o Lelo foi vender frutas no caminhão do Renato (aquele que vendia barato!).

 Uma coisa é certa, tivemos uma base de estudos muito boa, no tempo em que o ensino público era levado a sério e os alunos respeitavam seus mestres. O Arnaldo estudava no Sesi, enquanto eu e o Lelo estudávamos no Grupinho.

 Algum desavisado, algum dia, deve ter questionado: - Como que será o futuro desses três?

 Pois então, tomo a liberdade de retratar o que foi feito de nós:

 O Arnaldo (o mais intelectual e craque de bola) comeu pedra, superou barreiras  sem clamores.  Tornou-se bancário, fez carreira na Caixa Federal. Casou-se com Estela, mulher de fibra, tiveram  três filhas adoráveis: Daniele, Ana Paula e Natália.  Tão bonitas - quanto educadas.

 O Lelo (o mais extrovertido) iniciou carreira na Prefeitura de Ourinhos. Inicialmente como jardineiro de beira de estrada, depois motorista. Numa das tarefas como motorista, foi indicado para levar o juiz de direito da comarca local para uma conferência em São Paulo. Tornou-se a partir daí o “fiel escudeiro”, parceiro, cúmplice e amigo do Doutor Holgado. Estão juntos a mais de 20 anos. Ditinha é sua grande companheira e dessa união nasceu Roberto e Tânia. Humildes, inteligentes e bem encaminhados.

 E eu (o mais perseverante e mais irrequieto), fui serralheiro (dos bons), bancário, caminhoneiro, entre outras atividades. Hoje, técnico eletricista comercial e de manutenção de média e alta tensão. Trabalho na Cia Paranaense de Energia, pai de dois filhos espetaculares, de inteligência invejável -  o Rafael (estudante de sistema de informação na Uenp – Campus Bandeirantes) e da Bruna (estudante de matemática na Universidade Federal Tecnológica do Paraná – campus Cornélio Procópio).

 Casei-me pela segunda vez, com Flávia, companheira do recomeçar do zero, companheira de luta, parceira no mesmo coração. Trouxe com ela outras duas jóias:  o João Neto e a Brenda. Aliás, a Brenda e o Rafael estão misturando as estações, mais isso é assunto para o próximo capítulo!

 Fica a expectativa de que, se em algum dia, os netos do Arnaldo, do Ulisses e do João sentarem para brincar com um trator, um jeep e um trenzinho e resolverem falar sobre os avôs, certamente, dirão: - Eles foram três vencedores!!! 

 E foram mesmo!

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