sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

NÃO FUI TRABALHAR


 Desde criança tenho contato com atividades laborais. Já fui engraxate, leiteiro, coxinheiro, guia de cego, balconista, pacoteiro, serralheiro, feirante, bancário e por último eletricista de empresa estatal.
Nunca tive vergonha de nada que fiz, ou de alguma profissão que exerci. Aprendi que pra ganhar dinheiro é preciso ralar o couro.

 Penso que nunca devemos ficar lamentando quando o trabalho não rende o esperado, jamais critiquei a instituição em que trabalhei, e sempre fui seguidor do seguinte princípio: não deu certo aqui, estou saindo e vou tentar melhorar ali.

 Tive que conciliar, durante boa parte da vida, trabalho x estudos, e obviamente, tinha que dividir meu tempo entre escola e serviço. Confesso que sempre fui pontual, assíduo, eficiente, facilitador, enfim, produtivo.  

 Aconteceu um fato, desagradável, quando eu era serralheiro, em Ourinhos, no ano de 76. Eu era (modéstia à parte) um excelente profissional, daqueles indispensáveis no dia-a-dia da empresa. 


 Ocorre que naquela sexta-feira, eu decidi, por conta e risco, que não iria trabalhar, pois queria participar de um torneio de pebolim, num bar recém inaugurado em frente ao Empório Toloto. 

 Eu era um dos inscritos no torneio. Entre as  30 pessoas no local, estávamos eu, o Arnaldo e o Lelo - meus irmãos mais novos. As mesas estavam todas ocupadas. O ambiente como dizem os mais jovens, estava “bombando“ e o torneio “rolando manero”. Eis que chega o meu patrão e pergunta em voz alta:

 - Não vai trabalhar não, João?

 - Eu não estou muito bem! Respondi.

 Ele retrucou: - Como pra jogar pebolim você está bem!

 -É que o médico disse que o jogo é uma terapia, inventei.

 Ele entrou no carro, visivelmente contrariado e retirou-se Rua Brasil abaixo.

 Segunda feira, envergonhado, cheguei cedo na empresa e, com a carteira de trabalho em punho, pedi para o (bondoso) Moisés Moia acertar minhas contas. Ele não aceitou meu pedido de dispensa, adiantou meu pagamento do mês e ainda me deu o resto da semana de folga (eu devia ser indispensável mesmo!).

 Esse fato negativo, pelo menos, serviu pra que eu nunca mais, na vida, perdesse dia de serviço por motivos fúteis.

 Tento diariamente, apagar essa passagem, de minha memória. Mas basta eu encontrar meu irmão mais novo, Arnaldo, e já vem ele com a pergunta fatal:

 - Não vai trabalhar não, João?

Um comentário:

  1. Uma atitude impensada, uma reação diferencial e uma lição de vida.
    E hoje, vai trabalhar João?....kkkkk
    Abraço
    Alcir

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