sábado, 17 de agosto de 2013

BUSCAS IMPERFEITAS

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- Com a devida autorização, publico texto da jovem Bruna de Paula e Silva, estudante de Pedagogia, na Universidade Estadual de Londrina.
"Buscas Imperfeitas" é um paralelo entre a arte de escrever e a vontade de ajudar (coisa de altruísta). O que a acadêmica sugere é que as coisas "certinhas" nem sempre são unanimidades... Ela segue absolutamente segura em suas reflexões, dando pouca importância aos "lugares comuns" e aos vestidos de noiva, inclusive." 

                   BUSCAS IMPERFEITAS
Por: Bruna de Paula e Silva

                                       A primeira coisa que eu me lembro de querer na vida era escrever. E a primeira coisa que eu quis na vida foi ajudar as pessoas. Não se engane, não é erro de digitação, desde que me conheço por gente eu sempre desejei essas duas coisas em primeiro lugar. Antes mesmo de saber o que tudo isso significava, o quão impossíveis poderiam se tornar, antes mesmo de saber se duas coisas tão diferentes poderia ocupar um mesmo lugar.

Ajudar e escrever são escolhas duplamente impossíveis. Quando se escreve, a gente dá vida a algo que talvez só exista dentro da gente. É quando aquilo que você escreve precisa escolher entre caminhos que envolvem perdas e ganhos. Parece título de livro, mas não é. São essas escolhas que pressupõe se o caminho valerá à pena ou não.

Aqui, no plano dos seres reais, a escolha que parece inalcançável é aquela em que: se você jogar cartas, pesquisar no Google, pedir ajuda a todos os santos, e fizer uma planilha, vai desistir na hora. São atitudes sem sentido e irracionais, guiadas por um amor obscuro - e na maioria das vezes não correspondido – pelos seres humanos. São declarações da vida te mostrando que você acredita nas pessoas e não existe nada de mais lindo, só que é absolutamente sem volta.

As minhas escolhas são também frustrantes, porque escrever algo e ajudar alguém nunca é como a gente imagina que será, é sempre o máximo que você conseguiu fazer. E o máximo nem sempre é o suficiente para você, e talvez nem para os outros. Minhas escolhas são um espelho do meu limite, produto real (falante e pensante) do meu melhor e do meu pior.

Nesta história existe outra coisa mais interessante, é que minhas “escolhas impossíveis” não parecem escolhas pra ninguém – não é algo deliberado, algo passível de explicação, não é parênteses em aberto em uma prova para se marcar um xis onde bem se entender. Na minha recordação mais antiga não existe eu lendo algo interessante e, de repente, decidir que queria escrever. Também não me lembro de sentar no escuro - com cinco anos de idade e ouvindo meus pais brigarem – e decidir que eu precisava ajudar crianças que sofreriam pelo mesmo. Eu nunca pensei nesse assunto, essas escolhas eu sabia que aconteceriam e acabariam virando parte de mim... Assim como ter olhos verdes, nariz esquisito ou dentes pequenos demais para o tamanho do meu rosto. 

Só recordo que, nunca me neguei a assumir os riscos dessas escolhas, e isso eu não fiz porque fui corajosa, mas porque nunca conheci nenhuma outra opção... Mas, apesar de escrever e ajudar serem vontades tão inerentes, preciso contar uma triste verdade: eu nunca serei nem uma coisa, nem outra.

Sim, daqui uma semana sai meu terceiro artigo e ele será publicado em uma das revistas mais importantes, mas isso não faz de mim uma escritora. Esse artigo foi escrito com base na ajuda que prestei para um aluno deficiente intelectual que vive em condições quase que subumanas, só que pela primeira vez conseguiu mudar de série em 2013. Mas isto também está longe de atestar que eu posso ajudar alguém.

Agora eu posso compartilhar uma particularidade desses caminhos: escrever e ajudar são atos que nunca se aprende por completo, nem numa vida inteira. A vitória do meu aluno e meu artigo, quando estiverem prontos, se tornarão grandes realizações, uma alegria imensa, eu sei. Mas eles não significam, pra mim, um final glorioso, apoteótico, faixa de chegada, troféu ou, talvez, uma medalha de ouro... Eles não vão me entregar à sensação de dever cumprido.

Pelo contrário, muito pelo contrário: tudo isso me chegará com outras dúvidas, muitas inseguranças, minhas aflições serão reinventadas e multiplicadas e eu vou me perguntar todos os dias onde minha cabeça estava quando eu escolhi toda essa complicação.

Só que antes de você me chamar de pessimista, me dou ao direito de contestar: acho realmente sensacional que minha busca seja imperfeita assim, mesmo ela me trazendo tantos problemas. Pra mim, quanto mais verdadeiro tudo for, melhor. Eu conheço pessoas que tem sonhos perfeitos e lindos e eu acho maravilhoso (existe até uma inveja da minha parte). Mas eu, em algum momento da minha vida, preferi ter grandes realidades.




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

QUASE UM GLADIADOR!

Hoje me peguei com as mãos na cintura, postura perfeitamente justificável, afinal, percorri cinquenta e tantos dezembros e atravessei algumas dúzias de desertos.

Fica então o questionamento: Valeu a pena?  

Oh, se valeu... Apesar dos contratempos, das cicatrizes e vestígios calejados nas digitais da mão esquerda, valeu a pena sim... As marcas dos meus pés, ainda visíveis, nas ruas de Ourinhos são provas irrefutáveis! 

É evidente que precisei refazer alguns planos de voo, mudei rumos, ajustei o GPS e segui lutando... Sob o signo de touro, perdi às vezes, mas no final, as vitórias foram acachapantes, tipo gol da Alemanha!

A sensação de ser alvo fácil, no centro do combate, há tempos ficou pra trás... Quando parecia sucumbir, eu levantava e seguia... Acionei o gatilho várias vezes - mas não queria abater ninguém (evidências da ausência de inimigos), atirei apenas para tanger os urubus.

Ah, teve a parte em que guerreei com meus próprios conflitos... A palavra 'desistir' foi sequer ventilada e, pensando bem, ela não consta no meu dicionário!

A turbulência de antes virou assustadora calmaria, verdadeira zona de conforto.

Principalmente nos momentos 'britadeira', jamais esqueci que Deus esteve presente, sempre presente.

Se Cecília Meireles, em “Retrato”, não soube dizer em que espelho ficou perdida sua face – a minha, mesmo em momentos embaçados, não se perdeu em momento algum! Ainda hoje ouço os trovões correndo de medo dos meus urros colossais!

Fiquei rico? Depende de qual riqueza... Se riqueza de ouro, dinheiro e outros metais tenho a dizer o seguinte: Sou feliz!

Acho difícil que outros furacões se atrevam, novamente, a passar por mim... Se passarem, tenho as bases suficientemente estaiadas... Estarei preparado! 

Para a lua minguante uivarei lua cheia, lobo que sou! E para espantar as nuvens escuras ligarei para a menina rotulada 'palmeirense', em plena Bombonera. 

Como estou curado dos furacões, trovões e urubus - a chuva não deixou cacos derramados no telhado e o sol quebrou o último parafuso do luar - deixo pra vocês apenas a tinta, sem caneta.




sábado, 10 de agosto de 2013

ESTRELAS E HORIZONTES

Permanecemos, por horas, sentados diante da plataforma de embarque... Eis que o chefe da estação avisa nos alto-falantes: - “A RFFSA comunica que haverá atraso na partida do trem para o Paraná por problemas técnicos em Botucatu.”

Naquele momento o atraso do trem era o que menos importava... Vislumbrávamos, ao sul, o horizonte paranaense nos aguardando com os braços estendidos... Um horizonte suave como quem nos dá boas vindas... Quando a locomotiva partiu, os corações partiram – fragmentaram feito vidro estilhaçado e refletiam, nos cacos, nosso choro contido... Nem tivemos tempo de ajeitar nossos cabelos no espelho do Paranapanema!

Seguimos, feito retirantes que esperam voltar com a próxima chuva, e nós, voltaríamos quando o sol ($) aparecesse... Não voltamos, embrenhamos por entre pinheiros e araucárias, e semeamos filhos, e semeamos esperanças.

As sementes brotaram, floriram e frutificaram. 

Não choro mais quando sonho com o barulho das rodas do trem, nem dos apitos anunciando a partida para lugares estranhos.

Ah, os braços estendidos no horizonte, daquele abraço de Platina, nos acolheram e nos embalaram, feito Santo Antônio e murmuraram baixinho a mais suave canção de ninar... E aqui estamos até hoje.

No começo estranhamos o jeito de falar: chamavam os meninos de "guri", depois nos acostumamos. Percebemos, de pronto, a necessidade das blusas de lã.

Mandei tatuar a bandeira paranaense no braço esquerdo da minha vestimenta antichama... Vez em quando olhamos para trás, porém, apenas pra ouvir os alto-falantes da plataforma de embarque... Talvez anunciem que muita gente ainda virá - para garimpar nossa mesma felicidade.

Nesses anos que aqui estou, deslizei por todos os cafezais, pude sentir o suave perfume dos eucaliptos e, de vez em quando, ainda registro os pinheirais nas minhas fotografias. Aqui aprendi ler Paulo Leminski e a "poesia mínima" de Helena Kolody.

- Saudades de Ourinhos? Claro que sinto... Sempre volto pra sentir o cheiro da terra, o gosto da água e matar a saudade dos amigos... Agora, sem dores de despedida, quando atravesso o Panema tenho tempo pra ajeitar o cabelo no espelho do rio, o coração bate em descompasso, sinto frio na barriga e, às vezes, choro!

Meu sangue paulista sempre foi respeitado em terras paranaenses... Por respeito e gratidão me ofereceram a oportunidade de levar luz, literalmente, onde quer que eu ande... Sinto-me meio anjo aqui, no alto do poste... Afinal, daqui enxergo o lado paulista, aqui quase consigo tocar as estrelas - quase consigo voar!