sábado, 10 de agosto de 2013

ESTRELAS E HORIZONTES

Permanecemos, por horas, sentados diante da plataforma de embarque... Eis que o chefe da estação avisa nos alto-falantes: - “A RFFSA comunica que haverá atraso na partida do trem para o Paraná por problemas técnicos em Botucatu.”

Naquele momento o atraso do trem era o que menos importava... Vislumbrávamos, ao sul, o horizonte paranaense nos aguardando com os braços estendidos... Um horizonte suave como quem nos dá boas vindas... Quando a locomotiva partiu, os corações partiram – fragmentaram feito vidro estilhaçado e refletiam, nos cacos, nosso choro contido... Nem tivemos tempo de ajeitar nossos cabelos no espelho do Paranapanema!

Seguimos, feito retirantes que esperam voltar com a próxima chuva, e nós, voltaríamos quando o sol ($) aparecesse... Não voltamos, embrenhamos por entre pinheiros e araucárias, e semeamos filhos, e semeamos esperanças.

As sementes brotaram, floriram e frutificaram. 

Não choro mais quando sonho com o barulho das rodas do trem, nem dos apitos anunciando a partida para lugares estranhos.

Ah, os braços estendidos no horizonte, daquele abraço de Platina, nos acolheram e nos embalaram, feito Santo Antônio e murmuraram baixinho a mais suave canção de ninar... E aqui estamos até hoje.

No começo estranhamos o jeito de falar: chamavam os meninos de "guri", depois nos acostumamos. Percebemos, de pronto, a necessidade das blusas de lã.

Mandei tatuar a bandeira paranaense no braço esquerdo da minha vestimenta antichama... Vez em quando olhamos para trás, porém, apenas pra ouvir os alto-falantes da plataforma de embarque... Talvez anunciem que muita gente ainda virá - para garimpar nossa mesma felicidade.

Nesses anos que aqui estou, deslizei por todos os cafezais, pude sentir o suave perfume dos eucaliptos e, de vez em quando, ainda registro os pinheirais nas minhas fotografias. Aqui aprendi ler Paulo Leminski e a "poesia mínima" de Helena Kolody.

- Saudades de Ourinhos? Claro que sinto... Sempre volto pra sentir o cheiro da terra, o gosto da água e matar a saudade dos amigos... Agora, sem dores de despedida, quando atravesso o Panema tenho tempo pra ajeitar o cabelo no espelho do rio, o coração bate em descompasso, sinto frio na barriga e, às vezes, choro!

Meu sangue paulista sempre foi respeitado em terras paranaenses... Por respeito e gratidão me ofereceram a oportunidade de levar luz, literalmente, onde quer que eu ande... Sinto-me meio anjo aqui, no alto do poste... Afinal, daqui enxergo o lado paulista, aqui quase consigo tocar as estrelas - quase consigo voar!

3 comentários:

  1. Marreco,

    Então já posso te chamar "pé-vermeio"!


    Minucci

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  2. " um sabiá cantou
    longe dançou o arvoredo
    choveram saudades "

    Qual?

    "Damos nomes aos astros...
    Qual será nosso nome
    nas estrelas distantes?"


    Poesia mínima

    "Pintou estrelas no muro
    e teve o céu
    ao alcance das mãos." H.Kolody

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    Respostas
    1. Professora Donalou,

      Sou fã dessa senhora!

      Grande abraço!

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