quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

PANOS DE PRATO



  Na primeira quinzena de agosto estive cumprindo férias regulamentares... Um frio até agradável, porém, não tinha programado nenhuma viagem, estava sem nada para fazer e, minha esposa, recuperando de cirurgia. 

 Esbocei uma pescaria... Mas, que peixe se atreveria nadar em águas tão limpas e frias? 

 Desisti! Melhor não, os filhos estavam estudando e conectados com suas respectivas turmas.

 Para matar a ociosidade, fiquei preenchendo o meu tempo entre a televisão e a internet - mais a internet que a televisão... Logicamente por não suportar alguns lixos televisivos

 Eis que, num desses dias, escutei uma batida de palmas no portão, abri a porta  e me deparei com um menino, de uns 11 anos, com uma roupinha surrada, apesar de limpa, que gritou enquanto eu me dirigia ao portão: 

- Qué comprá pano de prato, tiu?

E antes que eu respondesse, ele emendou:

- É pintado à mão, é cinco por 10 real!

 Eu acabara de voltar do posto de gasolina e lembrei que não tinha nenhum tostão no bolso... Acabei por não comprar os panos do menino. Por conta disso, ele seguiu em frente, tentando vender seus produtos vizinhança afora.

 Algumas horas depois senti um profundo arrependimento, aliás, não fiz qualquer esforço pra ajudar aquele pequeno vendedor. Eu poderia ter ido ao banco, retirado alguns reais e negociado com ele. 

 O pior é saber que um dia, durante minha infância, tal qual o menino, eu: quer vendendo salgados, engraxando sapatos ou entregando leite em garrafas, pelas ruas de Ourinhos, tentava ajudar em casa.

 Eu era o Marreco Coxinheiro.... E quando conseguia vender todos os salgados voltava pra casa, transbordando em alegria, feito um pintinho no lixo!

 Diante desse fato, alguns questionamentos foram inevitáveis:

- Em que tipo de ser humano me transformei? 

- De onde tirei essa falta de solidariedade? 

- E essa falta de sensibilidade - pra não dizer arrogância? 

- E o que seria, para mim, dois reais por pano de prato, que possivelmente teriam utilidades?

 Foi um erro imperdoável. Porém, esse fato ligou meu “sinal de alerta” e me lembrou que, talvez, o comodismo e a fase abastada tenham cerrado meus olhos, além de ter tornado meu coração insensível, justo eu, tão abençoado por Deus!

 É fato que existe muitos pequenos vendedores, pelas ruas do mundo, batalhando para vender seus produtos, certamente pra ajudar no orçamento doméstico, amparados unicamente, pelas mãos dos Anjos de Deus!

 Eu espero, sinceramente, que esse fato me sirva de lição, pois sempre será tempo de se fazer algo de bom pra alguém... E que esse erro eu não repita jamais... E que não tenha que ser alertado, outra vez, pela humilde voz de um menino trabalhador com o grito:

- Qué comprá pano de prato, tiu?



4 comentários:

  1. Muito bom João....todos temos que por a mão na consciência.

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  2. Fiquei emocionada! Se todos tivessem essa consciência, nosso mundo seria bem melhor! Que DEUS te conserve assim João Neto! Isso explica o porquê de seu sucesso! Parabéns!

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