Quem conheceu meu pai, em Santa Cruz ou Ourinhos, onde viveu, pôde
perceber que se tratava de uma pessoa extremamente orgulhosa e um tanto
sistemática. Eu diria que ele nasceu para conduzir - não para ser conduzido.
Já em fase terminal, com o
câncer (maldito, câncer!!) em estado avançadíssimo, ele ficou alguns dias na minha casa. Seu corpo
estava frágil, pesando pouco mais de trinta quilos.
Sem condições de se
locomover, numa das vezes que peguei-o no colo e o levei para o banho... `Percebi profunda
tristeza em seu olhar, precisando ser carregado. Apesar do corpo fragilizado
estava lúcido e um comentário foi inevitável:
- Meu Deus! A que ponto
cheguei?
Ao vê-lo, naquele estado,
confesso que chorei por dentro! O imaginário insistia em fazer o “download” do
que ele havia sido.
Demos o banho e o levamos
para o quarto onde, entre fraldões e encostos de cabeça, ele contou seu
sonho da noite anterior.
Feliz, disse que tinha ido
para o céu e que Deus o levara para passear por entre imensos jardins, flores e
cascatas. Contou que havia encontrado minha mãe e que depois de um demorado abraço
caminharam por um longo tempo. Falaram
dos filhos e um monte de coisas. Um pouco mais adiante, juntou-se a eles, meus avós. Contou isso com ares de felicidade. Disse, ainda, que era um lugar de
profunda paz, sem doenças nem falsidades e que o silêncio, daquele lugar, permitia ouvir o barulho das
flores desabrochando.
- Como fez para chegar lá? Perguntei!
Ele disse que Deus estendeu uma grande escada extensível, iguais as que usamos na Copel e, após o passeio, desceu pela mesma escada... Falou isso,
esboçou um leve sorriso e adormeceu.
Passada uma semana, no
Hospital Manuel de Abreu de Bauru, ao vê-lo respirando com dificuldades, minha cunhada contou que ele esboçou um sorriso e adormeceu. Subiu a escada extensível,
novamente, pensei comigo!
Engano meu, por volta do meio-dia,
daquele 21 de dezembro, Deus recolheu a escada, preferiu que o Zé Queixinho ficasse ao
seu lado, para a eternidade!
UM DIA ENCONTRAREMOS TODOS, COM CERTEZA
ResponderExcluirTriste, mas belo ai mesmo tempo. Pelo menos teve uma morte tranquila. Fica essa lembrança.
ResponderExcluir