sábado, 6 de outubro de 2012

A ESCADA DE DEUS!


 Quem conheceu meu pai, em Santa Cruz ou Ourinhos, onde viveu, pôde perceber que se tratava de uma pessoa extremamente orgulhosa e um tanto sistemática. Eu diria que ele nasceu para conduzir - não para ser conduzido.

 Já em fase terminal, com o câncer (maldito, câncer!!) em estado avançadíssimo, ele ficou alguns dias na minha casa. Seu corpo estava frágil, pesando pouco mais de trinta quilos.

 Sem condições de se locomover, numa das vezes que peguei-o no colo e o levei para o banho... `Percebi profunda tristeza em seu olhar, precisando ser carregado. Apesar do corpo fragilizado estava lúcido e um comentário foi inevitável:

- Meu Deus! A que ponto cheguei?

Ao vê-lo, naquele estado, confesso que chorei por dentro! O imaginário insistia em fazer o “download” do que ele havia sido.

 Demos o banho e o levamos para o quarto onde, entre fraldões e encostos de cabeça, ele contou seu sonho da noite anterior.

Feliz, disse que tinha ido para o céu e que Deus o levara para passear por entre imensos jardins, flores e cascatas. Contou que havia encontrado minha mãe e que depois de um demorado abraço caminharam por um longo tempo.  Falaram dos filhos e um monte de coisas. Um pouco mais adiante, juntou-se a eles, meus avós. Contou isso com ares de felicidade. Disse, ainda, que era um lugar de profunda paz, sem doenças nem falsidades e que o silêncio, daquele lugar, permitia ouvir o barulho das flores desabrochando.

- Como fez para chegar lá? Perguntei!

 Ele disse que Deus estendeu uma grande escada extensível, iguais as que usamos na Copel e, após o passeio, desceu pela mesma escada... Falou isso, esboçou um leve sorriso e adormeceu.

Passada uma semana, no Hospital Manuel de Abreu de Bauru, ao vê-lo respirando com dificuldades, minha cunhada contou que ele esboçou um sorriso e adormeceu. Subiu a escada extensível, novamente, pensei comigo!

Engano meu, por volta do meio-dia, daquele 21 de dezembro, Deus recolheu a escada, preferiu que o Zé Queixinho ficasse ao seu lado, para a eternidade! 



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