domingo, 22 de abril de 2012

UM SUJEITO MARCANTE


“Em Brasília dezenove horas!”. Passava das sete da noite e sob os acordes da ópera "O Guarani", de Carlos Gomes, começava o programa “A Voz do Brasil” anunciando as “obras” do governo (militar). Essa chamada era, para nós, o momento de desligar o rádio. 
- Mas o que aconteceu, de novo, em nossa casa naquele dia? 

- Não era um dia como outro qualquer?  Era pra ser, porém, naquele dia e naquela hora aparece minha irmã Regina com o novo namorado, Francisco Marcante. 

- E não seria, também, apenas mais um? Era pra ser, porém, esse cidadão merece um capítulo à parte.
 Olhamos desconfiados quando ele entrou em casa, com uma vasta cabeleira - tipo Roberto Carlos anos 70 - usava calça boca-de-sino, sapato plataforma e trazia um maço de cigarros Hollywood enfiado na manga da camisa, na altura do ombro. O perfume cheirando almíscar fez com que eu e o Arnaldo comentássemos, bem baixinho: 

- Ele queima a rosca! Deve ser são paulino! 

 Essa nossa desconfiança aumentou, ainda mais, após as devidas apresentações. Ele se levantou, colocou a mão na cintura, e balançando o joelho direito em movimentos repetitivos fala ao meu pai: - “Senhor José, nós vamos ao cinema!”
 Passada as primeiras e desconfiadas impressões, descobrimos posteriormente, que se tratava de um cara humilde, pobre como nós, inteligente, trabalhador. Era carteiro na Empresa de Correios e Telégrafos. Aos poucos conquistou a confiança de todos, passou a ser de casa - até o Paulão gostava dele! Na medida em que ia fazendo parte da família ia galgando melhores degraus nos Correios.
 Foi uma felicidade geral, tempos depois, quando marcaram a data do casamento. Ficamos muito preocupados quando nasceu seu primeiro filho, pois, casaram-se em fevereiro e o Danilo nasceu em setembro (mentiras sinceras às vezes colam!). Nem a medicina conseguiu explicar esse “milagre”. O Danilo está firme, forte e com saúde, até hoje.
 Ficamos mais preocupados, ainda, dois meses depois de casados, a Regina disse que não estava agüentando o Marcante e que iria se separar dele. Isso faz 34 anos e toda semana ela diz a mesma coisa - evidências de um amor eterno!
 Tenho muito respeito pelo Marcante, afinal, foi a primeira pessoa a acreditar em mim. Vendeu-me uma motocicleta (era meu sonho) em 10 pagamentos sem juros. Sempre respeitador, tinha a confiança irrestrita do José e da Conceição, quando vivos – e a nossa, até hoje. O Marcante e a Regina são referências para toda a família.
 Não é que o “carçudo” venceu, também nos Correios! Não sei a que cargo chegou, só sei que sua aposentadoria beira os 12 mil por mês. Ele fez por merecer – ele fez acontecer!
 O Marcante - do coração marcante - é um vitorioso, boa pessoa mesmo. Tem defeitos? É claro que tem! É corintiano, por exemplo. Tá vendo, ninguém é perfeito! Sem contar essas três malas: Danilo, Elaine e Marcelo – mentira – tutti buona gente!

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