sábado, 7 de abril de 2012

AS MESMAS MANHÃS


- Hei amigo! Você poderia nos dar uma mãozinha para descer um cofre para o andar de baixo?

Olho para trás e percebo, do outro lado da rua, um sujeito alto, magro, com um horroroso cabelo pigmaleão e um bigodinho sem graça, acompanhado de um senhor, de meia idade, com sotaque português. Me surpreendi com aquela interpelação, primeiro por não conhecer o sujeito e, também, pela sua cara de pau. Educadamente me propus a ajudar aqueles dois infelizes.

O que eu não sabia é que o cofre pesava uma tonelada e meia, sem contar que teríamos que descê-lo por uma escadaria, exageradamente, inclinada e em zique zaque ainda por cima. Não é preciso dizer que demoramos mais de três horas para descer aquela imundície. A vantagem, talvez única, é que me esqueci do frio congelante. Chequei a imaginar que receberia uma boa gorjeta pela ajuda, porém, descobri que aqueles sujeitos estavam mais “quebrados’ que eu. No final ganhei um obrigado, pelo menos!

O tempo passou e, muitas vezes, cruzei com aquele magrelo, feio, pelas ruas da cidade. Nunca perdi a vontade de xingá-lo, por princípios, não o fiz. O que percebi é que se tratava de uma pessoa de extrema simpatia que andava pelas ruas distribuindo sorrisos, aos montes, pra todo mundo.

Ele seguiu seu caminho e eu segui o meu. Tornou-se garçon de pizzaria. Eu, funcionário de uma grande empresa de energia. Quase concretizei minha "vingança" no dia em que fui cortar a luz de sua residência. Não deu. Esbanjando sorrisos e simpatia, pediu desculpas pelo atraso e, apresentou a fatura paga. Firmamos amizade depois disso.

Posteriormente sentamos e conversamos sobre a aventura do cofre - sobre a vida. Descobrimos que somos seguidores de doutrinas diferentes, porém, filhos do mesmo DEUS. Descobrimos que somos sofredores do mesmo Palmeiras. Ele lembrou que eu também usava cabelo pigmaleão, e que não era menos feio que ele. Rimos muito, principalmente, da atual e evidente ausência, das vastas e horrorosas cabeleiras (aquelas do pigmaleão).

Batalhador e empreendedor sem demora montou seu próprio negócio e devido a sua extraordinária capacidade de comunicação, naturalmente, foi para o rádio onde é campeoníssimo de audiência e referência para todos nós. 

Se durante uma etapa de nossas vidas acordamos cedo, aos domingos, para assistir as vitórias do Airton Senna, hoje, aproveitamos as mesmas manhãs, dos mesmos domingos, para ouvir o programa do Benício. Grande Benício!

Benício da Vale do Sol, Benício da Bayuca, Benício da Dona Mara, Benício do “Domingo sem Compromisso”, Benício do “Álbum de Saudades”, Benício da sinceridade no olhar, Benício da alma com as bordas recheadas com cheddar dourado!

Tenho orgulho de tê-lo como amigo! E caso ele precise de ajuda para descer, um cofre, por alguma escadaria da vida é só me chamar que eu vou!


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