terça-feira, 1 de abril de 2014

QUEM QUER LAMBER A COLHER?

Hoje, sem querer, lembrei que minha mãe era cozinheira de mão cheia... Não uma cozinheira de pratos sofisticados, mas, uma cozinheira de pratos criativos.

Nosso apetite não permitia que mamãe arriscasse pratos demorados - aqueles que no final de cada passo vem a observação: reserve! 

Nossos recursos não permitiam pratos afrancesados - aqueles que se faz biquinho pra ler os ingredientes.

Mamãe, com uma simples abobrinha - cambuquira - cebolinha de cheiro e ovo, criava verdadeiros banquetes.

Agorinha, me veio à mente, e ao paladar, o bolo de banana que minha mãe fazia... Era de uma delícia só... Parecia derreter na boca, tinha um quê de divindade, tinha gosto de nuvem colorida.

Ficávamos nós, caçulas, assistindo todo o ritual de criação do bolo, desde o untar da forma, do corte simétrico das bananas, da calda do açúcar queimado e da massa que ela despejava sobre tudo, até o levar ao forno.

Minha mãe era, acima de tudo, conhecedora das nossas vontades... Sempre deixava umas cinco colheres mergulhadas na massa e, sabendo de nossa reação, perguntava provocativa:

- Quem quer lamber a colher?

Levantávamos a mão, todos, simultaneamente, e cada um recebia sua colher generosamente lambuzada de massa... Naquele instante sentíamos a doçura do açúcar, sentíamos a doçura da vida, sentíamos a doçura de mamãe!

Hoje, depois de bater a massa do bolo, e me vendo observando com o olhar comprido, minha esposa gritou:

- Quem quer lamber a colher?

E trouxe o talher lambuzado de massa, sorrindo! Apesar da saudade, apesar da ausência de mamãe - naquele instante, percebi que a vida continua doce, continua com gosto de céu!

7 comentários:

  1. Tem lembranças que eu choro Marreco

    Abraços e que sua vida continue doce meu amigo!

    Minucci

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  2. Nao cheguei a degustar o que o vovó Conceição preparava...mais tenho certaza que deveria ser maravilhoso...já ouvi muitas histórias dos tio e tias a respeito disso, mais quem mais me contava esses " causos" era o vô José...tempos que não voltam mais...

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  3. Acho lindo a maneira como sua mãe conseguiu registrar tantos bons momentos na memória de vcs, apesar das dificuldades que vcs relatam. Realmente ela foi um ser superior.

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  4. Eu jamais iria esquecer, pois minha infância haaa, eu sempre estava lá junto com a "cambada, no bom sentido", mas o que mais me divertia era na hora de comer, a tia dum lado e o tio do outro, jamais esquecerei isso. Familia que eu adoro.Eu era o tacilinho na época,

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  5. Obrigada por esse retrato falado de nossa infância!!!! Você sabe mexer com meu emocional!!!!! Tenho orgulho de ser irmã do melhor cronista do Brasil!!! Bjs Dóris.

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