domingo, 13 de maio de 2012

BRASÍLIA AZUL 74



Algumas folhas secas corriam nas quebradas das ruas, de canto a canto, anunciando um outono rigoroso.

Não sabíamos que rigorosa, também, seria nossa passagem por Mandaquari. E foi! Ficamos sem eira nem beira naquele fim de mundo. 

Fonte de recursos, única, foi uma oficina de conserto de calçados que o Zizo montou naquela cidade.
Mas o que fazer com pouco mais que dois cruzeiros, por dia, para cuidar de 10 irmãos? A fome foi inevitável.

A esperança renasceu, na nossa casa, no dia em que o Zizo, não suportando tanto sofrimento, chegou à tarde, chorando e disse:

 - “Vamos embora dessa desgraça!”

O José e a Conceição, os irmãos mais velhos, todos foram unânimes – tínhamos que tentar a sorte em outro lugar, esse lugar foi Ourinhos. Ali passamos outros anos de miséria, o Zizo, sempre o Zizo, continuava dando o exemplo. Além de cortar cana, fazer serviços de carpintaria empregou-se numa empreiteira de serviços de energia elétrica. De tão bom funcionário, o patrão (Zé Gordinho), empregou também, o Alair e o Paulão pensando que fossem tão bons quanto o Zizo.

E assim ele seguiu sendo exemplo para todos nós. Lembro-me do dia em que precisei de dinheiro para a matrícula no exame de admissão - foi o Zizo que me socorreu.

Ele semeou o exemplo e seguiu para a capital paulista buscando melhores dias. Ficamos algum tempo sem vê-lo. Era um filho tão especial que escrevia contando as novidades. Ele sempre iniciava suas cartas com a citação:

- “Queridos pais e irmãos”, ou seja, o respeito estava no sangue. 

Era uma felicidade geral quando anunciava, nas suas escritas, que vinha nos visitar. Sabíamos que a mesa ficaria farta e teríamos melhores Natais.

Numa manhã de primavera apareceu irradiando alegria, em casa, dirigindo uma linda Brasília Azul 74, placa EY 5679. Era o troféu para o sujeito mais lutador dos irmãos, mais humano dos irmãos, ou seja, mais irmão dos irmãos.

Não é preciso dizer que venceu as batalhas da vida e sua vitória nos faz acreditar que nunca devemos deixar de lutar.

O cara é foda!


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