domingo, 19 de janeiro de 2014

MONUMENTO AO DOMINGO

Amanheci disposto a criar meu ‘monumento ao domingo’... Sairei pelas ruas com meus pincéis e espátulas, sem preocupação com formas ou influências, nada de Brecheret, tampouco Renoir... Um ‘monumento ao domingo’ inteiramente meu, só meu.

Uma obra deste quilate carece um toque pessoal, independente do material utilizado... Um domingo em tela gigante, com meus exclusivos tons, ainda que eu opte por cores brilhantes e metalizadas, mas, que seja um domingo que evidencie somente minha aquarela... Um domingo moldável em argila ou ferro gusa, porém moldável, palpável, admirável e multicolorido.

Idealizei um domingo sem internet, sem compromissos, sem celular e sem plantões... Um domingo de causar inveja à beira do rio ou à paisagem na janela... Um domingo do céu com o mais puro azul entre todos os azuis, mas azul! Um domingo onde eu gaste toda tinta amarela no seu sol, que refletirá nas flores, onde as joaninhas, até então donas do caleidoscópio, fiquem vermelhas de inveja.

Meu ‘monumento ao domingo’ não pode ter música... Pode apenas emanar o som do silêncio, para que possamos ouvir suas cores e refletirmos sua melodia... Um domingo sem opiniões, conclusões ou julgamentos, um domingo de vários sons, tons e nuances.

Posso até esculpir um simples cavalo-alado para simbolizar a leveza do domingo, mas que nada, cavalos-alados não denotam leveza... Preciso de um domingo que transmita a presença de Deus!

Esculpirei, então, milhares de origamis, em papel crepom branco, e os semearei pelo céu, para que voem em “V”, desafiando a resistência dos ares, e possam bater continência para as dobraduras da lua, escondida por detrás da camisola de renda lilás!

O pôr do sol, eterno espetáculo gratuito, terá um tom alaranjado, com direito a sombras horizontais e horizontes infinitos. Posso até pontilhar alguns pássaros procurando seus ninhos, desde que não façam algazarras.

Para encerrar, meu “monumento ao domingo”, pintarei a noite com o mais sombrio lápis preto, exatamente como deve ser pintada a noite. Mas não tomarei gosto pelo desgosto, nem deixarei a tristeza tomar conta da escuridão... Salpicarei alguns pontos prateados, na negritude, para que nunca deixem de admirar o brilho das estrelas!




4 comentários:

  1. Senhor João,

    Um dia pensei em construir um 'monumento à alegria"... desisti, me faltou sua genialidade!

    "...Salpicarei alguns pontos prateados na negritude da noite, para que nunca deixem de admirar o brilho das estrelas!"

    Parabéns!

    Jorge Luiz

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  2. Uhuuuuuuuuuuu!

    Domingo merecia merecia mesmo, Marreco!

    MInucci

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  3. O texto todo é uma peça poética de grande valor "Um domingo sem opiniões, conclusões ou julgamentos, um domingo de vários sons, tons e nuances." Você estava realmente inspirado.Vou copiar e mandar para meu amigo Pereira Filho

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