sábado, 11 de maio de 2013

CONSIDERAÇÕES CANINAS


Senhor Presidente da Cipa,

- Tomei conhecimento da análise do acidente, com lesão, ocorrida com o funcionário de sua empresa... Vocês concluíram que: “o motivo da lesão, na perna do funcionário, foi devido à mordida de um cão feroz”. Complementaram afirmando que o acidente poderia ter sido evitado se o dono tivesse amarrado o cão na corrente.

Pois bem, senhor presidente da Cipa: A pessoa que o senhor chama de “dono” na verdade é meu melhor amigo... E para falar de nossa amizade eu preciso te contar minha história:

Fiquei órfão muito cedo, perdi minha mãe atropelada numa dessas avenidas movimentadas... Avenidas criadas para diminuir os atropelos dos homens, além de atropelar caninos... Entre outros animais.

Fiquei alguns dias vagando pelas ruas - com fome e frio – todo machucado, sem forças, magro e rejeitado (quem iria querer um vira-latas?).

Numa noite não muito distante, percebo caminhando em minha direção, um senhor de semblante iluminado, carregando um olhar tão sincero, que não me contive e lhe abanei o rabo em sinal de empatia. Ele estalou os dedos e me chamou:  
     
- Vem Lobinho, vem que vou te dar um prato de comida!

Eu que nem nome tinha, naquele momento, passei a ser chamado de Lobinho - talvez por levar comigo alguns traços de huski siberiano – e ainda fui convidado para jantar! Após me alimentar (juro, estranhei o gosto daquela ração!), meu “melhor amigo” jogou alguns panos na varanda e falou carinhosamente:

- Você vai dormir aqui Lobinho, se quiser pode ficar morando com a gente!

Naquela noite, para não incomodar, não soltei um latido sequer e adormeci sonhando a paz do meu novo lar!

Aos poucos fui conhecendo todos os moradores da casa, inclusive as crianças com as quais brinco horas a fio. Amo essas pessoas e afirmo, sem medo de errar, sou muito feliz aqui!

Meu melhor amigo ou meu “dono”, como queira, senhor presidente da Cipa, construiu uma casinha só para mim,  com meu nome escrito na entrada e, ainda, de frente para o jardim para que eu possa observar as borboletas, beijando as flores, pela manhã.

 Meu melhor amigo jamais me prendeu em correntes, a não ser quando me leva pra passear ou paquerar uma cadelinha poodle que mora na casa da esquina (desculpe a expressão, mas tenho o maior “tesão” nela, senhor presidente!).

Em forma de gratidão não permito a entrada de pessoas estranhas aqui, defendo essa casa com unhas e dentes... Lembrando que seu funcionário é uma pessoa estranha para mim!

Sugiro (se é que aceita sugestão de um ser irracional) que mude o relatório do acidente e o conclua observando o seguinte: “O funcionário cometeu um ato inseguro ao adentrar uma propriedade particular sem verificar a presença de cão fiel”.

Nem o sofrimento de ter sido um cão sem dono e, ainda, a falta da minha mãe me tornou antissocial ou feroz, senhor cipeiro, mas sou fiel ao meu melhor amigo, isso eu sou!

Quando seu colaborador precisar adentrar nossa casa peça que, pelo menos, se anuncie. Se não o fizer ele será mordido novamente e sua Cipa terá que preencher outro relatório de acidentes.

Assinado: Lobinho



5 comentários:

  1. Boa, Lobinho!

    Voltarei a seu blog, João. Um abraço.

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  2. Quando puder, apareça no meu:

    http://cronicasereflexoes.wordpress.com

    Até!

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  3. Gostei disso Marreco,

    "Naquela noite, para não incomodar, não soltei um latido sequer e adormeci sonhando o sonho da aceitação!"

    Muita sensibilidade!

    Minucci

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  4. Vivas ao Lobinho!!!Vou enviar para minha sobrinha que é amante de cães.

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