quinta-feira, 16 de maio de 2013

O ALUNO DA ÚLTIMA CARTEIRA!


De todos os alunos do segundo ano colegial, na minha sala de aula, em 1976, o mais introspectivo, fechado e cara de mau, era o Carlos Thucher Breda.

Mudou-se para nossa cidade naquele ano... Morava com uma tia doente e trabalhava como descarregador de vagões (saqueiro), no pátio da Fepasa, apesar dos apenas 17 anos.

Com seu trabalho conseguia cobrir as despesas da sua casa, estudar e cuidar de uma tia acamada... Era um guerreiro – exemplo para todos!

A condição muscular adquirida (descarregando sacos de 60 quilos no trabalho) o confundia com um fisiculturista! 

Pelos fortes traços de descendência italiana e a dificuldade que tínhamos em pronunciar seu nome, o apelidamos “Stallone”... Sua semelhança com o personagem de “Rock, um Lutador” – filme lançado no ano anterior - era absurda!

Surpreendentemente Stallone era um aluno de boas notas e aplicado, porém, era uma “ilha” no ambiente estudantil. Sentava na última carteira, sempre isolado no canto da sala, viajava em seus olhares solitários e distantes. e olha que as "mina" pirava por causa do cara.

Numa aula de História, Professor Mávilo nos separou em duplas, para um trabalho de pesquisa sobre Madre Tereza de Calcutá... Acabei formando par com o Stallone. 

E naquele tempo não tinha essa molezinha de Google ou outro site de pesquisa, muito menos a Barsa - que não podíamos comprar.

Pensei comigo, e agora? Tô lascado, o sujeito nem conversa!

Puro engano... De cara disse que sua tia tinha um livro religioso com a biografia de Madre Tereza e me convidou pra fazer o trabalho em sua casa.

Trocamos várias ideias, o cara tinha um "papo cabeça"... Falamos de futebol, política, educação, música e dos compositores filosóficos nordestinos: Belchior, Zé Geraldo, Ednardo, Alceu, Raul, etc.. 

Quando falei do tamanho da minha família e lhe perguntei de sua mãe, aquele rapaz, escondido atrás de um monte de músculos desintegrou-se, tamanha emoção:

- Tenho inveja de você que tem pai, mãe e 15 irmãos... Eu só tenho minha tia Madalena, ela quem cuida de mim desde criança, agora eu tenho que cuidar dela, ela precisa de mim.

Apontando para a parede, em soluços, mirou numa fotografia em preto e branco e afirmou: 

- Aquela é minha mãe... Quando eu tinha 10 anos ela foi embora... Ao me deixar na casa da tia Madalena pediu para que titia ficasse comigo... Disse que um raquítico, feito eu, só iria atrapalhar sua vida! Por isso tenho que me manter forte - quando mamãe voltar espero que ela possa gostar de mim!




 

Um comentário:

  1. Meu Deus!

    Lembro disso como se fosse hoje Marreco. O Capato (Stallone)era super humilde e gente boa. Mesmo menor de idade cuidava da tia com câncer! A lazarenta da mãe dele nunca mais voltou. A última vez que o vi estava terminando o curso de Educação Física em 1982 ou 83.
    Fazia tempo que eu não chorava tanto! Eu assisti essas cenas!

    Você é o cara!

    Reginaldo Minucci

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