terça-feira, 28 de agosto de 2012

SEMENTES


 Minha professora de português me contou, certa vez, a estória de um balconista metido a falar  corretamente a língua mãe. Além disso, gostava de corrigir os colegas. Era um chato de marca maior, tipo: “Vaiii Corinthians”!

 Um sitiante da região, tão simples e modesto quanto endinheirado, chegou ao balcão e pediu-lhe:

- Ocêis tem sementi di mio?

- Não senhor: respondeu o exibido.

- Só temos se-men-te de mi-lho! Completou com aspereza, sílaba por sílaba, feito um sargento de tiro de guerra.

 O matuto baixou a cabeça e, chateado, dirigiu-se à outra  loja de produtos agropecuários. Lá providenciaram seu pedido rapidinho, sem interrogações, muita simpatia e ainda pagaram o frete. Comprou semente de milho suficiente para cobrir vinte e cinco alqueires de terra. Por puro capricho o "sabugo" acabou perdendo a venda! Mania de colocar tarja preta nos humildes.

 O que minha professora quis dizer, na verdade, é que devemos semear o respeito e aceitar a simplicidade, o dialeto e grau de instrução de quem quer que seja.

 Quando entendemos o que o outro está querendo dizer, basta.

 Nós caipiras atropelamos o Aurélio a todo instante e temos a mania de encurtar e emendar palavras, aliás, dificilmente terminamos os vocábulos. 

Preste atenção nessa palavra, que na verdade é uma frase: “quaiscaídendapia”!

Ah, mas o certo não é: “Quase caí dentro da pia”? Sim, mas quem não entendeu o teor da mensagem?

 A linguagem culta além de gramaticalmente correta é elegante e glamourosa. Por falar em "glamour" - quantas palavras estrangeiras inserimos no nosso dia-a-dia? Acabou o mundo por causa disso, brother?

 Respeito às diferenças, inclusive erros de linguagem, essa é a ordem!

 Olha as “palavras” usuais do MSN e facebook: blz, fmz, sussi, ushaushaushauha, podexá, naum, nd de +, etc.. Decifrar a Pedra de Roseta deve ter sido menos penoso. E a molecada ainda entende esses hieróglifos. Ah,  entende!

 Os regionalismos inseridos nos sotaques, a maneira de falar, a cultura - nada disso interfere na comunicação e nem poderia ser diferente.

 Num país onde o órgão genital feminino tem mais de três mil definições lógicas e variadas - tudo pode! Ou vocês pensam que quando me refiro à periquita, pomba e perereca estou falando apenas de aves e anfíbios?

Para um bom entendedor um pingo é letra.

 Agora tenho que ir, pois está chuviscanim e preciso lançar algumas sementes, também!

Fui!!!!!!!!!


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