segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O DIA DA VITÓRIA

Voltávamos do Virgínia Ramalho (Grupinho) brincando.
Estilingues dependurados no pescoço, embornal a tiracolo, pedras atiradas nos pássaros e nas casinhas de marimbondos... Todos descalços, pés sujos e sem a tampa do dedão - todos ligeiros.

As lições de casa eram respondidas em grupo, na sombra da ingazeira que ali existia, na esquina da Narciso Migliari com a Barão do Rio Branco... Compartilhávamos o mesmo lápis, a mesma borracha, a mesma tabuada, os mesmos sonhos.

Vivíamos uma infância feliz, mas, carente de pão... Ninguém de nós tinha nome, só apelido: Marreco, Carroça, Barbante, Galegão, Beronha.

O sonho? Imaginávamos a chance de tornarmos jogadores de futebol... Talvez jogar no Palmeiras, Corinthians ou União da Barra Funda! 

Ao amanhecer chutamos os sonhos fora, a realidade bateu na nossa porta no exato momento que fizemos nossa carteira de trabalho, mudamos os planos e dependuramos as chuteiras!

Crescemos como crescem os galhos da ingazeira, cada um apontou para um lado... A busca por horizontes separaram nossos caminhos... Seguimos, cada qual com seu estilingue e seu projeto de vida possível. Como as ingazeiras não vergam à qualquer sopro, resistimos aos ventos. 

O dia da minha vitória chegou no instante em que apresentei meu TCC... Com direito à entrada triunfal adentrei o salão de cerimônias sob aplausos, então, olhei para trás e revi o filme da minha vida... o que era sonho virou realidade... Me fiz ganhador... Me percebi invencível!

Hoje, percebo que temos nome e sobrenome, percebo também, nossos pés calçados e aquecidos... Nossos planos de saúde tem até cobertura para tampa de dedão... Sem julgamento de valores, ou da quantidade de bens adquiridos, chegamos à fase da vida em que podemos sentar e rir dos tempos escassos, dos pés sujos e das pombas abatidas à pelotadas!

Frações, equações e logaritmos: Só não entendemos a insistência do professor Matsumoto em ensinar isto, nunca usamos nem vamos usar - temos preferência por ilusões, poesia e batata frita!



4 comentários:

  1. Esse é o Marreco,

    O carroça aí sou eu... apenas uma ressalva, os bons ventos sopram agora!!

    Minucci

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  2. ...ilusões, poesia e batata frita. Grande, João!

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  3. Nossa!!!!!!!!!!!!! Parabéns!!!!!!!!!!!!!! Que DEUS continue te abençoando. Suas cronicas são maravilhosas. Bjs

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  4. As crianças antigas cresciam, viravam "gente". As crianças de hoje correrm sérios riscos. Talvez sem tampão dos dedos e com os estilingues proibidos, terão que ultrapassar uma maldita e difícil barreira. AS DROGAS !!!- Como torço pra seguirem os exemplos das crianças antigas !!! (Cesar)

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