terça-feira, 10 de dezembro de 2013

PAPAI NOEL EXISTE?

Fila pra comprar, fila pra pagar, fila pra pegar os presentes, fila pra validar os tickets... Feito gado seguimos em fila, atravessando dezembros.

Os óculos, sem lentes, descansam desalinhados sobre o nariz... Não só os óculos são “de mentirinha”, esse ser escrotal também é... Esperei-o por vários Natais, e esse sujeito fantasiado de vermelho jamais me deixou um presente sequer, uma caneta que fosse!

Neste instante, aqui da fila, o observo percorrendo todos os cantos da loja, com o mesmo sorriso falso, tilintando um sino de mão, sendo conduzido por imaginários antílopes - as renas de quarenta e tantos anos atrás... Ainda traz, além do sorriso inventado, a mesma protuberância abdominal, também postiça!

Você é um todo de mentiras, Papai Noel! Os flocos de neve sobre sua carruagem não passam de chumaços de algodão barato... Esse seu “ho ho ho” me soa insuportável.

Nos bilhetes que lhe escrevi, a grafite, não lhe pedi nada muito caro: bicicleta, tênis importado, autorama ou bola de capotão... Meus pedidos nem eram pra mim... Eu queria, apenas, um panetone, para comer com minha mãe, na noite de Natal... Eu queria um ‘Conga’ que não fosse furado... Você não imagina quantas palmilhas de papelão tive que improvisar para não pisar no chão frio e nas pedras. 

Por tempos evitei dobrar meu tornozelo ao andar, não queria que, ao mostrar a sola do pé, “zuassem” meu Conga furado... Eu andava feito um pato, daí ganhei meu apelido: Marreco!

Seu desprezo pelos engraxates, feito eu, jamais esquecerei, covarde! Essas balas que hoje distribui são as mesmas que me negaste, na porta da Loja Buri, em 1972. No fundo, penso que minha caixa de engraxar era muito pesada para a sua falta de sensibilidade!

E não me venha com esse papo de que não recebeu meus bilhetes... Eternizei a lápis, dentro de minha memória, cada pedido meu, e você, alheio, ignorou.

Não acredito em você, Papai Noel, não passas de uma figura caricata, contratada para vender ilusões aos aristocratas. Você é a mais desprezível figura da gananciosa sociedade.

Ainda bem que seu desprezo não conseguiu apagar de mim o significado do Natal, do nascimento de Jesus, nem me fez perder a fé e a esperança na vida!

- CPF na nota? Pergunta a moça do caixa... Balanço a cabeça negativamente, pego meus pacotes e vou saindo... Na porta o mentiroso me oferece balas, viro o rosto para o lado, e ignoro!


3 comentários:

  1. Triste, mas de uma verdade absoluta!

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  2. Marreco,

    Eles até que são simpáticos!

    Minucci

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  3. Triste realidade! figura contratada apenas pra atrair as criancas, para que seus pais gastem o que nem sempre tem!

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