domingo, 29 de julho de 2012

APARECIDA: UM ANJO VESTIDO DE AZUL



Engana-se quem pensa: “apenas passamos pela vida”!

A vida nada mais é que uma fração de tempo na matemática do universo. Passa rápido, porém, temos que cuidar de cada momento para semear coisas boas. 

Melhor viver sem deixar marcas ruins. Se formos lembrados pelo dinheiro, esquece! Se formos lembrados pelo coração é sinal que a semente plantada foi a semente do bem.

Falando em semente do bem as lembranças me remetem à minha madrinha de batismo: Tia Aparecida. Tinha a estatura tão baixa quanto seu timbre de voz. Usava discretos vestidos azuis cobrindo abaixo dos joelhos e calçava sutis sapatos pretos com um minúsculo broche dourado pregado na parte de cima do pé.

Morava no lado direito de uma rua extremamente íngreme, bem no meio da quadra. O cartão de visitas daquela casa eram as rosas vermelhas que desabrochavam esnobes naquelas distantes primaveras. A casa ficava logo na entrada, na parte alta do terreno. No fundo havia um pomar imenso onde os sanhaços cinza-azulados faziam a festa. Os pés de mangas, generosos, adoçavam e lambuzavam nossas bocas no período natalino.

Mulher forte e guerreira, tia Aparecida viveu dramas familiares terríveis, sufocou os gemidos, lambeu as feridas e seguiu soberana; sendo exemplo para filhas e filhos, enfim, exemplo para todos nós.

Bastava chegarmos que ela corria passar um cafezinho no coador de pano, pegava algumas xícaras na cristaleira de mogno e ficava contando estórias - e quantas estórias - que vivera ao lado de seus irmãos.

Passou suavemente pela vida e além dos filhos semeou amor. Deixou para mim uma lembrança serena, não por ter sido minha madrinha, mas pela alegria que transmitia a todos que dela se aproximassem. Os olhos profundos escondiam as dores e sofrimentos passados, mas o brilho no olhar refletia a luz de uma vida digna e repleta de alegria.

Quando olho para o céu, enxergo seus olhos na estrela mais brilhante e a imagino sentada numa cadeira de balanço olhando, de lá, para seus queridos filhos!


Uma grande senhora - senhora nossa! Nossa Aparecida! 


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